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Foto SP
Os ciclos sucedem-se uns aos outros, os dias esvaem-se com uma celeridade espantosa e os homens, envolvidos nessa teia cósmica, vão também experimentando a efemeridade da sua existência.
Todavia, no seu espaço de vida temporal, têm o ensejo de actualizar e reviver os mistérios próprios, desde o seu nascimento até ao consequente desaparecimento físico.
A sua realidade está imersa na razão de Quem criou o homem. Homem livre e pecador, mas resgatado e iniciado num caminho aberto à conversão permanente.
A vida foi paga por um preço elevado, cujo montante não pode ser medido, se não apenas pela intensidade do amor.
Alguém, despojando-Se de tudo e de Si mesmo, entregou-Se, voluntariamente, para que o simples mortal pudesse entrar na plenitude do viver.
Somos, assim, “comprados” à escravidão e repostos na liberdade pelo mérito e valia do sangue de Um voluntário que Se ofereceu por todos, sem distinguir idade, sexo, grandeza, cor ou credo.
A comunhão total de sinceridade é a única senha aceite para franquear a entrada nesse grémio dos escolhidos que, afinal, passaram a ser todos.
Os judeus, chamados a constituírem-se como povo, saborearam no deserto, com atitudes de altos e baixos, o regozijo da libertação de que foram alvo.
Experimentaram, bem ao vivo, o que significou sair daquele terreno e estado de opressão, até a um campo aberto para o ser e agir.
Por isso, lembrando a prerrogativa de libertados, em cada ano e num misto de festa, evocação e acção de graças, celebravam a passagem libertadora – a sua páscoa.
Cristo, como judeu fiel, também a comemorava. E, durante as festas de uma dessas Páscoas, Ele entregou a Sua vida à morte para ressuscitar em cada um de nós.
Agora, perante o materialismo, o indiferentismo, o agnosticismo, as guerras, as políticas mal-intencionadas, a degradação da família e do trabalho, a corrupção, a perda de carácter, das qualidades e noção dos dons essenciais e outros, cumpre-nos interrogar: - que sentido para a Páscoa?
Entre os cristãos a sério, continua o cuidado de não se perder esta verdade e de centrar a solidez da fé no derramamento do sangue e na morte, alicerçando a certeza da ressurreição.
Há esperança fundamentada no Cristo que continua a ter a Sua Paixão e pretenso aniquilamento, na pessoa de tantos cristãos dos nossos dias, chamados, brutalmente, a oferecer em sacrifício a sua vida, numa confissão de fé inabalável. O sangue de mártires continua a ser “semente de cristãos”, como aventou Tertuliano, pois é manancial que irriga a pusilanimidade de quem caminha à deriva e sem uma resposta interior para quaisquer dúvidas e medos.
O sofrimento, hoje, apresentado como fatalidade é, antes, a comparticipação de cada cireneu numa ajuda em transportar a humanidade humilde até à ressurreição final.
A Páscoa não é só sentar-se à mesa e comer o Cordeiro. Ela é anúncio e sacramento de uma presença regeneradora.
A dor, a entrega à cruz ou a morte tocam a todos. Mas também todos estão predestinados a chegar ao outro lado, à ressurreição.
A cruz está atrás da porta, sempre pronta a ser abraçada por cada um, no dia-a-dia, nalguma ocupação ou missão, em direcção ao cume do monte.
Na verdade, não pode compreender-se o ressurgimento para a vida nova, sem experimentar o mais difícil, ou seja, a redução a nada do muito que julgamos ser.
A ressurreição subentende, antes, a paixão, o peso no trabalho, na família, nas inquietações interiores e incompreensões sociais, nas ameaças cerradas contra tudo quanto seja mérito, em suma, é exigida uma transformação radical, a começar no indivíduo crente, para revolucionar o mundo e apontar-lhe a certeza de uma ressurreição na felicidade que se vislumbra ao alcance de todos os humanos.
O Apóstolo Paulo exorta à fortaleza, afirmando: «Ainda não resististes até ao sangue na luta contra o pecado» (Heb.12/4).
E, «estou convencido de que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que há-de revelar-se em nós» (Rom.8/18).
Ou, «com efeito, a nossa momentânea e leve tribulação proporciona-nos um peso eterno de glória, além de toda e qualquer medida. Não olhamos para as coisas visíveis, mas para as coisas invisíveis, porque as visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas» (2Cor.4/17-18).
Por conseguinte, haveremos de cultivar a constância e a tranquilidade na esperança. l MANUEL ARMANDO