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Foto SP
Faz hoje dois anos que Gil Nadais, presidente da Câmara de Águeda, decretou três dias de luto municipal pela morte do colaborador da autarquia, Milton Reis (39 anos), afecto à Divisão de Manutenção. Menos de quatro meses depois, o mesmo autarca determinou dois dias de luto concelhio pelo falecimento de Silva Pinto (76 anos), que, entre outros cargos de relevo, foi presidente da Assembleia Municipal de Águeda.
Ao agir assim, Gil Nadais considerou um servidor municipal e respeitou uma figura pública concelhia. Dirão alguns que o número de dias de luto municipal concedidos possa ser discutível, mas nisso não me meto (embora tenha a minha opinião), até porque importa respeitar a sensibilidade e as razões que assistem a quem decreta nestas ocasiões de maior consternação.
Em Maio deste ano, Águeda perdeu um desportista de referência, João Fernandes, de 50 anos. Um atleta que se revelou pela disciplina e pelo desportivismo; que coleccionou títulos nacionais e representações internacionais; e que foi um ser humano humilde e generoso. Nessa ocasião, entendo que a Câmara Municipal devia ter agido como era expectável a quem se encontra à frente dos nossos destinos. Mas não o fez.
Na semana passada, chegou a hora do Conde de Águeda. Manuel José Homem de Mello morreu aos 88 anos. Uma vida cheia em que foi estimado como enorme figura da classe política portuguesa (deputado em três Legislaturas), destacando-se, também, como advogado, empresário, escritor, jornalista, comentador e benemérito. Acontece que o seu falecimento foi literalmente esquecido pela Câmara Municipal.
Não conheço ninguém que não seja avesso a comportamentos que revelem indecoro, indiferença, ingratidão, insensatez e insensibilidade... Julgo que qualquer aguedense lidará mal com isso, ainda para mais quando estão em causa referências de Águeda que ajudaram a promover e a valorizar o nosso município.
Honra seja feita à atenta, dedicada e eficiente Daniela Herculano, antiga chefe de Gabinete de Gil Nadais, que na condução da sessão solene dos dez anos da vila de Valongo do Vouga, realizada no passado sábado, começou por solicitar um minuto de silêncio em memória do homem que no ano de 1957 doou o terreno onde viria a ser construída a actual sede da Junta de Freguesia local.
Precisamente o edifício onde a Assembleia Municipal de Águeda reunirá na noite de amanhã. Um órgão que tem sido sede para repetidos alertas aos executivos camarários, no sentido de não se deixarem no esquecimento nomes como os de Valdemar Alves, José Júlio Ribeiro, Antunes de Almeida, Silva Pinto, Horácio Marçal e de tantos outros...
Recorro a Emília Viotti da Costa, historiadora e professora brasileira, falecida em 2017, aos 89 anos, para finalizar este desabafo: “Um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado”. - JORGE COSTA