Augusto Semedo .. editorial
MÚSICA E DESPORTO DE ÁGUEDA: O VALOR DA FORMAÇÃO E DA REPRESENTATIVIDADE
09 de abril de 2025
No próximo fim de semana, duas coletividades de Águeda celebram aniversários significativos, ambas com uma longa história de impacto no desenvolvimento cultural e desportivo da região: a Orquestra Filarmónica 12 de Abril (100 anos) e o Recreio Desportivo de Águeda (101 anos).
Embora a primeira seja voltada para a música e a segunda para o desporto, ambas partilham um objetivo comum: proporcionar uma formação que, ao mesmo tempo que é específica para aqueles que querem seguir carreira profissional, também tem uma vertente complementar que beneficia todos os envolvidos. A música e o desporto são, assim, duas faces da mesma moeda, ambas dependentes de tarefas individuais inseridas numa lógica de grupo, com o objetivo de alcançar um rendimento coletivo superior.
A relação entre o trabalho individual e o coletivo é um dos valores mais importantes nas atividades formativas, seja na música ou no desporto. Em ambas, o sucesso depende do desenvolvimento de competências específicas que só podem ser plenamente alcançadas quando o grupo trabalha em conjunto, respeitando papéis e funções que vão além do simples desempenho técnico.
Na Orquestra Filarmónica 12 de Abril, por exemplo, a técnica de cada músico deve estar alinhada com o ritmo e a harmonia de todos os outros membros, criando uma performance única e sinérgica. No desporto, e particularmente no futebol, o mesmo princípio se aplica: a qualidade individual de um jogador só tem valor se contribuir para a equipa, se a sua ação tiver um impacto positivo no coletivo.
Quando, aos 23 anos (década de 80), apresentei um projeto para o futebol de formação do Recreio Desportivo de Águeda, havia uma forte convicção pessoal de que a representatividade do concelho seria duplamente positiva se conseguíssemos formar uma base alargada de jovens locais, projetando as qualidades da juventude Aguedense para fora de portas. Era um objetivo nobre e transformador: criar oportunidades para os jovens de Águeda e dar-lhes as ferramentas necessárias para o sucesso, não só na sua vertente desportiva mas também enquanto cidadãos. Havia vontades várias e um contexto que favoreceram o objetivo!
Este mesmo princípio - verifico com agrado e orgulho Aguedense - tem sido seguido pelas filarmónicas de Águeda, que, com uma formação sólida e um trabalho integrado entre várias entidades, conseguiram crescer tanto em número quanto na qualidade das suas performances.
O movimento filarmónico Aguedense é um reflexo claro de como o investimento na educação musical, em paralelo com a união de vontades de diversas partes da comunidade (pessoal e institucional - com lideranças sensíveis à causa e resilientes), pode elevar o nome de Águeda no panorama cultural.
Contudo, há uma diferença marcante entre a evolução da música e do desporto coletivo no concelho. Enquanto as filarmónicas de Águeda têm visto uma crescente qualidade e aumento do número de jovens a integrar-se e a destacar-se, no desporto coletivo, particularmente no futebol, a situação é mais complexa. Os melhores jovens jogadores tendem a sair (cedo demais) do concelho, em busca de clubes similares fora de Águeda, que ofereçam sobretudo visibilidade, devido ao patamar competitivo em que se encontram. No passado, os regulamentos impediam a vinda para Águeda dos melhores jogadores dos clubes que hoje os captam de Águeda. Essas restrições foram removidas, o cenário tornou-se mais competitivo e o envolvimento mais agreste. Não há prazer, há pressão; a formação está refém dos resultados e a carreira alucinada pelos milhões ao alcance de uma minoria. É o futebol mediático a condicionar o futebol jogo!
Este fenómeno reflete uma realidade triste: no futebol concelhio, apesar de ser a atividade que mais jovens ainda mobiliza, ninguém se destaca coletivamente com a mesma intensidade que se via no final do século XX. O futebol de formação do Recreio, que foi reconhecido a nível regional e nacional na década de 80, formou para si e para os clubes do concelho (em 2000 eram 51 os jogadores que defendiam as respetivas cores). O próprio Recreio competiu anos a fio entre as 2.ª e 3.ª divisões nacionais seniores com uma base alargada de jovens formados no próprio clube. Ou seja, ganhou o Recreio e ganharam todos!
O contraste entre as duas realidades, a da música e do futebol, coloca uma questão importante: como é possível que, enquanto a música se fortalece e se projeta, o futebol pareça estar a perder força e relevância, apesar dos esforços de muita gente? A resposta talvez esteja no apoio institucional e na forma como as coletividades se estruturam.
Enquanto as filarmónicas de Águeda têm trabalhado num modelo de crescimento coletivo e de integração de várias entidades (valorizando também quem é seu, revelando competências), o desporto, em especial o futebol, enfrenta dificuldades de coesão e - sobretudo - tem dificuldades em projetar na ação de uma larga maioria de agentes os valores que pode infundir se for aproveitado como um meio complementar de formação, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento de competências sociais, emocionais e cívicas: trabalho em equipa e colaboração, disciplina e responsabilidade, gestão de emoções e resiliência.
Embora a primeira seja voltada para a música e a segunda para o desporto, ambas partilham um objetivo comum: proporcionar uma formação que, ao mesmo tempo que é específica para aqueles que querem seguir carreira profissional, também tem uma vertente complementar que beneficia todos os envolvidos. A música e o desporto são, assim, duas faces da mesma moeda, ambas dependentes de tarefas individuais inseridas numa lógica de grupo, com o objetivo de alcançar um rendimento coletivo superior.
A relação entre o trabalho individual e o coletivo é um dos valores mais importantes nas atividades formativas, seja na música ou no desporto. Em ambas, o sucesso depende do desenvolvimento de competências específicas que só podem ser plenamente alcançadas quando o grupo trabalha em conjunto, respeitando papéis e funções que vão além do simples desempenho técnico.
Na Orquestra Filarmónica 12 de Abril, por exemplo, a técnica de cada músico deve estar alinhada com o ritmo e a harmonia de todos os outros membros, criando uma performance única e sinérgica. No desporto, e particularmente no futebol, o mesmo princípio se aplica: a qualidade individual de um jogador só tem valor se contribuir para a equipa, se a sua ação tiver um impacto positivo no coletivo.
Quando, aos 23 anos (década de 80), apresentei um projeto para o futebol de formação do Recreio Desportivo de Águeda, havia uma forte convicção pessoal de que a representatividade do concelho seria duplamente positiva se conseguíssemos formar uma base alargada de jovens locais, projetando as qualidades da juventude Aguedense para fora de portas. Era um objetivo nobre e transformador: criar oportunidades para os jovens de Águeda e dar-lhes as ferramentas necessárias para o sucesso, não só na sua vertente desportiva mas também enquanto cidadãos. Havia vontades várias e um contexto que favoreceram o objetivo!
Este mesmo princípio - verifico com agrado e orgulho Aguedense - tem sido seguido pelas filarmónicas de Águeda, que, com uma formação sólida e um trabalho integrado entre várias entidades, conseguiram crescer tanto em número quanto na qualidade das suas performances.
O movimento filarmónico Aguedense é um reflexo claro de como o investimento na educação musical, em paralelo com a união de vontades de diversas partes da comunidade (pessoal e institucional - com lideranças sensíveis à causa e resilientes), pode elevar o nome de Águeda no panorama cultural.
Contudo, há uma diferença marcante entre a evolução da música e do desporto coletivo no concelho. Enquanto as filarmónicas de Águeda têm visto uma crescente qualidade e aumento do número de jovens a integrar-se e a destacar-se, no desporto coletivo, particularmente no futebol, a situação é mais complexa. Os melhores jovens jogadores tendem a sair (cedo demais) do concelho, em busca de clubes similares fora de Águeda, que ofereçam sobretudo visibilidade, devido ao patamar competitivo em que se encontram. No passado, os regulamentos impediam a vinda para Águeda dos melhores jogadores dos clubes que hoje os captam de Águeda. Essas restrições foram removidas, o cenário tornou-se mais competitivo e o envolvimento mais agreste. Não há prazer, há pressão; a formação está refém dos resultados e a carreira alucinada pelos milhões ao alcance de uma minoria. É o futebol mediático a condicionar o futebol jogo!
Este fenómeno reflete uma realidade triste: no futebol concelhio, apesar de ser a atividade que mais jovens ainda mobiliza, ninguém se destaca coletivamente com a mesma intensidade que se via no final do século XX. O futebol de formação do Recreio, que foi reconhecido a nível regional e nacional na década de 80, formou para si e para os clubes do concelho (em 2000 eram 51 os jogadores que defendiam as respetivas cores). O próprio Recreio competiu anos a fio entre as 2.ª e 3.ª divisões nacionais seniores com uma base alargada de jovens formados no próprio clube. Ou seja, ganhou o Recreio e ganharam todos!
O contraste entre as duas realidades, a da música e do futebol, coloca uma questão importante: como é possível que, enquanto a música se fortalece e se projeta, o futebol pareça estar a perder força e relevância, apesar dos esforços de muita gente? A resposta talvez esteja no apoio institucional e na forma como as coletividades se estruturam.
Enquanto as filarmónicas de Águeda têm trabalhado num modelo de crescimento coletivo e de integração de várias entidades (valorizando também quem é seu, revelando competências), o desporto, em especial o futebol, enfrenta dificuldades de coesão e - sobretudo - tem dificuldades em projetar na ação de uma larga maioria de agentes os valores que pode infundir se for aproveitado como um meio complementar de formação, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento de competências sociais, emocionais e cívicas: trabalho em equipa e colaboração, disciplina e responsabilidade, gestão de emoções e resiliência.