Augusto Semedo .. editorial
A POPULARIDADE NÃO É NOTORIEDADE
26 de junho de 2025
Vivemos num tempo em que a visibilidade é confundida com valor, e a popularidade — especialmente nas redes sociais — é usada como moeda para validar competências, ideias e até lideranças. O número de “gostos”, “partilhas” e “seguidores” tornou-se, para muitos, um atalho perigoso para a ilusão de importância. E quando essa lógica chega à política e à liderança institucional, o problema ganha uma outra gravidade.
Não são as crianças ou os adolescentes os grandes reféns desta distorção. São, demasiadas vezes, os adultos. E, pior ainda, aqueles que deveriam dar o exemplo: dirigentes associativos, políticos, candidatos a políticos. Aqueles que pensam que o que importa é o número de visualizações, de gostos e de comentários, não tanto a natureza e importância do conteúdo - como cheguei a ouvir isso de viva voz. Aqueles a quem caberia elevar o debate, valorizar o pensamento, proteger a seriedade das instituições que representam. Esses, com frequência, rendem-se à vaidade e o seu compromisso com os outros substitui-se à autoexposição pública.
Esse desvio tem custos profundos. Desde logo, empobrece o discurso público. Porque quem se preocupa em agradar à maioria, dificilmente arrisca ter ideias difíceis ou complexas. Uma liderança que se gere pelo espelho das redes é uma liderança fraca, instável, refém da espuma dos dias. E isso é perigoso.
Por outro lado, quem deveria ser professor, exemplo, referência, torna-se apenas mais um competidor no ringue da atenção fácil. E é legítimo perguntar: que valores estão a ser transmitidos aos mais jovens? Se quem lidera e representa usa o mesmo tom, os mesmos truques e os mesmos vícios de alguns influenciadores que nem sabem falar corretamente a sua própria língua, que não têm princípios sólidos nem capacidade de pensamento crítico — que futuro estamos a construir?
Há, de facto, “influencers” que somam audiências sem saberem conjugar um verbo, sem conseguirem expressar uma ideia com clareza, sem demonstrarem qualquer respeito por valores básicos como o respeito, a responsabilidade ou a verdade. A notoriedade destes é, geralmente, efémera. Seduzem, mas não sustentam. O problema é que, quando este modelo é replicado por dirigentes políticos ou associativos, os danos não são apenas pessoais: tornam-se coletivos.
A política exige elevação. A liderança exige coerência. As instituições exigem responsabilidade. Jogar com a popularidade como se fosse argumento suficiente é desistir da exigência e, no limite, trair a confiança de quem se representa. Porque não se trata apenas de ganhar atenção. Trata-se de merecê-la. E merecer implica trabalho, ideias, consistência, princípios — tudo o que não cabe no imediatismo.
Este é um tempo de investimento público como nunca. A Europa tem-se encarregado de olhar por nós mais do que nós pela Europa. Daqui a uns anos se avaliará se estivemos à altura do momento e se a gestão pública cumpriu a sua missão. Se criou bases sólidas para o futuro ou se mergulhou na feira das vaidades e na satisfação imediata dos seus protagonistas.
A democracia não pode ser reduzida a uma batalha de vaidades. Se for, perde-se a exigência, perde-se o conteúdo e, pior ainda, perde-se o respeito. E sem respeito, a política transforma-se num espetáculo. E quem paga o bilhete, em vez de cidadão, passa a ser apenas espetador. Ou pior: vítima.
Não são as crianças ou os adolescentes os grandes reféns desta distorção. São, demasiadas vezes, os adultos. E, pior ainda, aqueles que deveriam dar o exemplo: dirigentes associativos, políticos, candidatos a políticos. Aqueles que pensam que o que importa é o número de visualizações, de gostos e de comentários, não tanto a natureza e importância do conteúdo - como cheguei a ouvir isso de viva voz. Aqueles a quem caberia elevar o debate, valorizar o pensamento, proteger a seriedade das instituições que representam. Esses, com frequência, rendem-se à vaidade e o seu compromisso com os outros substitui-se à autoexposição pública.
Esse desvio tem custos profundos. Desde logo, empobrece o discurso público. Porque quem se preocupa em agradar à maioria, dificilmente arrisca ter ideias difíceis ou complexas. Uma liderança que se gere pelo espelho das redes é uma liderança fraca, instável, refém da espuma dos dias. E isso é perigoso.
Por outro lado, quem deveria ser professor, exemplo, referência, torna-se apenas mais um competidor no ringue da atenção fácil. E é legítimo perguntar: que valores estão a ser transmitidos aos mais jovens? Se quem lidera e representa usa o mesmo tom, os mesmos truques e os mesmos vícios de alguns influenciadores que nem sabem falar corretamente a sua própria língua, que não têm princípios sólidos nem capacidade de pensamento crítico — que futuro estamos a construir?
Há, de facto, “influencers” que somam audiências sem saberem conjugar um verbo, sem conseguirem expressar uma ideia com clareza, sem demonstrarem qualquer respeito por valores básicos como o respeito, a responsabilidade ou a verdade. A notoriedade destes é, geralmente, efémera. Seduzem, mas não sustentam. O problema é que, quando este modelo é replicado por dirigentes políticos ou associativos, os danos não são apenas pessoais: tornam-se coletivos.
A política exige elevação. A liderança exige coerência. As instituições exigem responsabilidade. Jogar com a popularidade como se fosse argumento suficiente é desistir da exigência e, no limite, trair a confiança de quem se representa. Porque não se trata apenas de ganhar atenção. Trata-se de merecê-la. E merecer implica trabalho, ideias, consistência, princípios — tudo o que não cabe no imediatismo.
Este é um tempo de investimento público como nunca. A Europa tem-se encarregado de olhar por nós mais do que nós pela Europa. Daqui a uns anos se avaliará se estivemos à altura do momento e se a gestão pública cumpriu a sua missão. Se criou bases sólidas para o futuro ou se mergulhou na feira das vaidades e na satisfação imediata dos seus protagonistas.
A democracia não pode ser reduzida a uma batalha de vaidades. Se for, perde-se a exigência, perde-se o conteúdo e, pior ainda, perde-se o respeito. E sem respeito, a política transforma-se num espetáculo. E quem paga o bilhete, em vez de cidadão, passa a ser apenas espetador. Ou pior: vítima.