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Paulo Matos (Advogado)

PERIFERIA | Paulo Matos | Champions em Lisboa, profissionais de Saúde e "Vamos todos ficar bem"

2020-07-01 08:24:07

PERIFERIA | Paulo Matos | Champions em Lisboa, profissionais de Saúde e "Vamos todos ficar bem"

Com toda a pertinência alguém se manifestava há dias indignado com o facto do nosso Presidente da República aparecer em todos os acontecimentos que lhe garantam popularidade, desde o aniversário da associação mais recôndita, até ao funeral do ator mais mediático do momento (o homem que se suicidou em Cascais e deixou mulher e cinco filhos), esquecendo-se de aparecer no funeral do primeiro médico do país que morreu com COVID-19.
Este é de facto o sinal dum tempo artificial em que vivemos, onde para os homens que representam as instituições políticas de topo, importa mais o “número” ou a “coreografia” para as televisões, do que a verdade que cabe aos homens de Estado procurar e defender.
No meio desta displicência do nosso Chefe de Estado, que alia uma inteligência ímpar a um calculismo esperto e eficaz, que lhe dá a reeleição garantida, se calhar com maior margem ainda do que Mário Soares, houve uma cerimónia patética protagonizada por cinco políticos ou para políticos como são o PR, o Primeiro-ministro, o Presidente da Câmara de Lisboa, o Presidente da Assembleia da República, o Presidente da Federação Portuguesa de Futebol, assinalando a realização em Portugal da fase final da Liga dos Campeões.
Nunca vi nada parecido com as inaugurações de Salazar no Estado Novo, o que diz muito do país salazarento que ainda somos!
Sim, foi uma cerimónia patética, desproporcionada em relação à importância do evento, provavelmente a realizar em estádios sem público, por força das limitações do “novo coronavírus”, para além do perigo que o evento representa no acolhimento de centenas de adeptos que não deixarão de rumar a Portugal, tornado o país numa porta escancarada da epidemia.
Dizem-nos que o evento representará para Portugal uma enorme estratégia de marketing destinada a promover a nação, uma oportunidade de recuperação da crise do Turismo gerada pelo vírus, como se não houvesse mais economia, como se não fosse necessária e urgente uma mudança radical no paradigma de desenvolvimento económico do país, demasiado assente nos serviços e muito pouco ou nada na produção industrial.
Mas essa manifestação de pendor salazarento ou terceiro mundista (conforme o ponto de vista), não é sequer novidade num país e num tempo em que o Presidente dos afetos, tanto mergulha na Baía de Cascais, como vai dar uma aula à Telescola, como faz de acólito às intervenções destemperadas do primeiro-ministro, que ora distrata Mário Centeno ora lhe dá novo emprego com melhor salário, e que dedica a realização da Champions League aos profissionais de saúde, como se estes fossem tolos que se entretêm com coreografias e circo.
Aqui a classe dos enfermeiros merece uma palavra de apreço, não fosse uma das mais martirizadas, a quem se exigiu que não tivesse direito a confinamento, nem a lay-off, nem a ficar em casa para acompanhar os filhos, nem em teletrabalho, e que por isso preferem antes a revisão dos estatutos das suas carreiras, porque trabalham até à exaustão, em hospitais carentes de meios e de organização, com salários miseráveis e muitas vezes a ter que suportar a incompreensão e a má educação, o assédio moral, a violência psicológica e às vezes física de muitos dos doentes e das suas famílias.
É de facto estranho este tempo em que os protagonistas do Poder vão consolidando as suas posições, com contraditório diminuto, com oposições brandas e contemporizadoras, com decisões apressadas que sob a capa de vigências temporárias, correm o risco de se tornarem definitivas, violando direitos fundamentais dos cidadãos, com a subida em flecha da divida pública que nos vai tornando um país cada vez mais adiado e periférico, onde a democracia cede à autocracia do poder executivo, que produz normas administrativas como se fossem lei, invocando a emergência e secundarizando a sede do poder legislativo que é o parlamento.
O “Vamos todos ficar bem” é o slogan que esconde o país das desigualdades profundas, dos desempregados do emprego precário, da classe média decadente que carrega as dores da exclusão digital e da carga fiscal que mata, das muitas centenas de milhares de pobres das periferias discriminadas dos grandes centros urbanos, da pobreza escondida e envergonhada que bate à porta do banco alimentar para a fome e dos doentes idosos que como em Águeda vêem fechar extensões de saúde nas freguesias por falta de médicos.
Para estes não há palavras que cheguem, de compaixão e solidariedade, porque os nossos líderes, em vez de promoverem a cultura e educação do povo, preferem as coreografias do Futebol em estádios desertos, às mudanças na administração do Estado e na economia real, e porque os nossos media televisivos preferem fabricar estrelas que cultivam o “live” e o vídeo nas redes sociais, como se a inteligência dos eleitores fosse artificial. PAULO MATOS