Por favor vire o ecrâ na vertical para visualizar o website
Max: 18ºC
Min: 7ºC
Max: 18ºC
Min: 6ºC
Max: 22ºC
Min: 12ºC
Caro leitor, vejo-me obrigado a expressar aqui o meu estado de alma em relação ao total abandono a que os decisores de proa negligenciaram a gestão do rio Vouga. É importantíssimo dizer-se que este, é vital para a nossa economia local e regional, pois é nele que é produzida a eletricidade e extraída a água para as nossas casas e tendo em conta o seu valoroso contexto histórico, é igualmente importante que se explore a sua vertente turística e cultural.
São privilegiados os que vivem nas suas margens largas, deste rio que nasce brotando de pequenos gorgulhos de água, por entre as pedras irregulares a 930 metros de altura na serra da lapa, em Sernancelhe, com um comprimento de 148 km, e uma bacia hidrográfica de 3 635Km2, constituída pela Pateira de Fermentelos, rio Marnel, Águeda, Cértima, Cáster, Antuã, Boco e a Ribeira da Corujeira, depois de Cacia, as suas águas diluem-se por inúmeros canais de terreno baixo e pantanoso, dando-se início à formação da Ria de Aveiro.
A energia elétrica gerada na barragem hidroelétrica de Ribeiradio, é transportada ao longo de 22km, até à subestação da Mourisca, onde é depois transportada para as habitações de cerca de 187 682 pessoas, centenas de empresas, iluminação pública entre outras, abrangendo os concelhos de Águeda, Aveiro, Ílhavo, Oliveira do Bairro atingindo os 189 357 815.59€ ano (dados Pordata).
O Sistema Regional do Carvoeiro, abastece os municípios Águeda, Aveiro, Albergaria-a-Velha, Estarreja, Ílhavo, Murtosa, Oliveira do Bairro e ainda Válega do concelho de Ovar, que através de um sofisticado sistema de gestão, faz chegar até às torneiras de 250 mil pessoas um valor médio anual na ordem dos 14 000 000 m3 de água, 7 162 511.29€ ano (dados Pordata).
Teve ainda ao longo do tempo um valor absolutamente crucial para aquilo que somos hoje, pois, foi nesta linha de água que, com o apoio do povo da zona ribeirinha, juntamente com o exército republicano se conseguiram travar os revoltosos na chamada “guerra das barreiras” a 27 de janeiro de 1919. Diz a história que foi em cima da velha ponte romana do rio Vouga, construída no século XIII, um monumento emblemático, que terão sido fuzilados pelos republicanos os últimos resistentes “revoltosos”, eternizando assim o local.
No entanto, a inoperância do município, desvalorizou os estudos técnicos sobre a sua segurança, tendo considerado irrelevante o seu restauro e deixando cair por terra os seus pilares assentes em centenas de anos de história, levando a água a responsabilização por esta tragédia que ofende e desvaloriza a dignidade das nossas gentes.
Estou certo, que caso ainda existisse o Vulgo do Vouga constituído pelo julgado e a sua prisão, certamente a atenção para o problema seria outra.
É preciso afirmar com clareza e total transparência que o restauro não é uma prioridade política, bem como a sua demolição. Resta, portanto, esperar que as intempéries, gradualmente continuem a demolir este marco histórico, colocando em risco aqueles que por ali andam e agredindo a vista e os sentimentos dos que diariamente por ali passam, que vêm assim derrubada a possibilidade da passagem dos seus povos e inibindo os caminheiros de Santiago de levarem a nossa cultura por esse mundo fora.
Influenciou também ao longo dos anos a gastronomia da zona através do seu gostoso peixe, tendo na Lampreia a sua iguaria maior e serviram as suas margens para facilitar a construção à meia encosta da linha de caminho de ferro do vale do Vouga, hoje transformada em pista ciclável.
Em suma, pode dizer-se com firme certeza que muito nos deu, e continua a dar o nosso rio, no entanto, longe vão os anos em que era possível passear nas suas ribas. Hoje é absolutamente impossível, o acesso às suas margens, porque ilegalmente os caminhos foram completamente absorvidos pelos terrenos agrícolas, sem qualquer controle das autoridades competentes.
É um imperativo moral, cultural, cívico e um ato de responsabilidade política, a criação de uma estratégia concertada, na centralidade do rio junto das suas populações, ao longo dos 20 km que banham o nosso concelho. Estratégia essa a implementar, através de medidas de limpeza, manutenção e conservação dos caminhos rurais paralelos às margens do rio, criação de acessos ao longo do seu leito, desflorestação controlada das suas galerias ripícolas, preservação e promoção da sua fauna e flora de forma sustentável.
Devem ser concebidos parques fluviais e distribuídos pelos vários lugares das duas freguesias. É premente a construção, licenciamento e classificação de pelo menos uma praia fluvial, criação de percursos pedestres integrados com os já existentes noutras zonas do concelho (mas abandonados), aglutinar a restauração a este projeto aliciando a comercialização do peixe do rio e o incentivo à instalação de turismo rural. Em suma criar um plano de promoção turística junto das agências e plataformas online para esse efeito, garantindo assim sempre presentes, os 3 pilares do turismo “O que fazer; o que comer; onde dormir”.
Esta é a forma como vejo possível aproximação da nossa comunidade ao rio, garantindo a sustentabilidade ambiental, impulsionando a economia, motivando e aumentando a felicidade entre as pessoas.
JORGE MELO