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Esta expressão, “lobo em pele de cordeiro”, tem origem numa hipotética frase, afirmada como sendo uma parábola de Jesus, proferida no novo testamento: “cuidado com os falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores” (Mateus 7:15). Esta passagem referir-se-á à verdadeira natureza que as ações revelam: “pelos seus frutos os conhecereis” (Mateus 7:16).
Ao longo dos primeiros séculos da nossa era, a frase terá sido usada muitas vezes nos escritos latinos dos chamados padres da igreja e, mais tarde, na literatura vernácula europeia.
Na história, surgiu também num provérbio latino que diz: “Pelle sub agnina latitat mens saepe lupina” (sob uma pele de ovelhas, muitas vezes se esconde uma mente de lobo).
A primeira fábula sobre um lobo que se disfarça com pele de uma ovelha terá sido escrita no século XII pelo retórico grego Nicéforo Basilakis, na sua obra “Progymnasmata” (exercícios retóricos). No prefácio, é apresentado o tema: "podem ter-se problemas por usar um disfarce". E nesse escrito, segue-se a ilustração do tema: “certa vez, um lobo decidiu mudar a sua natureza, alterando a sua aparência para assim ter comida farta. Ele vestiu uma pele de carneiro e acompanhou o rebanho para o pasto. O pastor foi enganado pelo disfarce. Quando a noite caiu, o pastor fechou o lobo no aprisco, com o resto das ovelhas. Como havia muros altos e uma única entada à frente, o rebanho estava bem guardado, mas, querendo o pastor uma ovelha para a sua ceia, tomou a faca e matou o lobo.”
No século XV, na obra “Hecatomythium”, do mestre italiano Lourenço Abstemio (Laurentius Abstemius), surge outra versão da fábula: "um lobo, vestido em pele de carneiro, misturou-se com o rebanho de ovelhas e, a cada dia, matava uma das ovelhas. Quando o pastor notou o que estava a acontecer, enforcou o lobo numa árvore muito alta. Os outros pastores perguntaram porque é que ele tinha enforcado uma ovelha, a que o pastor respondeu: a pele é de uma ovelha, mas as ações eram as de um lobo".
Numa outra variação sobre o tema, incluído na obra “Cento Favole Morali” (cem fábulas morais), de 1570, do poeta italiano Giovanni Maria Verdizotti, o lobo veste-se de pastor. Quando ele tenta imitá-lo na pastorícia, acorda o verdadeiro pastor e os seus cães. Devido ao peso do seu disfarce, o lobo não consegue fugir e é morto.
Podemos ainda encontrar alguns elementos destes contos sobre lobos e cordeiros numa fábula de Esopo que relata a estória do pastor que acolheu um filhote de lobo entre os seus cães. Diz a fábula que, quando o lobo cresceu, secretamente voltou à sua natureza. Quando um lobo roubava uma ovelha e os cães não conseguiam apanhá-lo, o lobo guardião continuava a perseguição e compartilhava a refeição com o saqueador. Noutras ocasiões, ele matava uma ovelha e dividia a carne com os outros cães. O pastor terá descoberto o que estava a acontecer e enforcou o lobo.
Outra variante da fábula de Esopo, refere-se a um lobo que regularmente vem para ver o rebanho, mas nunca lhe tenta causar qualquer dano. Por isso, o pastor passa a confiar nele e, numa ocasião, deixa o lobo de guarda. Quando o pastor regressa, encontra o seu rebanho dizimado e culpa-se por ter confiado no lobo.
A história e as estórias aqui relatadas, também pelas fábulas, talvez nos ajudem a compreender os pedófilos do nosso tempo em Portugal. E a tentar identificar, em cada um deles, o lobo em pele de cordeiro.
Se não ajudarem, pelo menos sabemos, pela história e pelas estórias, que existem pastores piores que o seu rebanho. E se assim é, estes pastores parvos mereciam ser comidos pelos lobos!