Otília Silva .. Olhares cruzados
QUERES A MINHA REFORMA, CARREGA COM A VIDA QUE TIVE!
A França está a viver um período de fragilidade ministerial. Que decepção quando os que nos governam mostram ter os mesmos defeitos que qualquer um e utilizam as armas mais condenáveis. Antes de cair como primeiro-ministro, François Bayrou ainda tentou arranjar um bode expiatório para a dívida nacional: a geração dos "boomers", os nascidos entre o fim da Segunda Guerra Mundial e 1960.
Não escapou a ninguém a confissão de impotência, tanto mais que o próprio faz parte da dita geração e que, apesar de tudo o que fez para ser ministro, não consta que tivesse tido a ideia que iria trazer a solução milagrosa — o que faz duvidar da verdadeira razão pela qual quis o lugar de primeiro-ministro para terminar a carreira.
A geração do baby boom foi — e ainda é — tida por favorecida. Mas afinal, em que é que o foi?
Teve emprego? É verdade!
Não se preocupou com o meio ambiente? É verdade!
Mas também teve muito pouca proteção social, muito poucos meios de comunicação: nada de telemóveis, nada de internet...
Só que, no fundo, o que o ministro focava eram as reformas da dita geração do baby boom — e aí deu para recordar outros discursos: os de quem não saiu de Portugal perante as reformas dos emigrantes que regressaram ao país.
E vem à ideia a frase: "Queres o meu lugar, carrega com...". Sim, é verdade que as reformas dos emigrantes são confortáveis em relação às dos que trabalharam toda a vida em Portugal — mas será que se mediu o custo?
Partir nos anos sessenta significava exilar-se num país cuja língua não se dominava, cortando com a vida social, trabalhando de sol a sol todos os dias da semana, amealhando cêntimo a cêntimo na esperança de poder regressar o mais rapidamente possível. Em consequência: vida de família inexistente, filhos criados sem quase contacto ou diálogo com os pais, desprezo no país de acolhimento — e, muitas vezes, no país de origem.
Vejamos: quem quereria essa existência? Porque, afinal, ao querer a reforma deles, teria de se aceitar a vida que levaram.
Bayrou, mais valia ter ficado calado! A geração baby boom teve as suas dificuldades e vantagens, como as outras gerações têm as delas. De que serve apontar culpas? As dificuldades aparecem e temos de enfrentá-las — porque viver é isso mesmo: resolver os problemas que surgem.
Não escapou a ninguém a confissão de impotência, tanto mais que o próprio faz parte da dita geração e que, apesar de tudo o que fez para ser ministro, não consta que tivesse tido a ideia que iria trazer a solução milagrosa — o que faz duvidar da verdadeira razão pela qual quis o lugar de primeiro-ministro para terminar a carreira.
A geração do baby boom foi — e ainda é — tida por favorecida. Mas afinal, em que é que o foi?
Teve emprego? É verdade!
Não se preocupou com o meio ambiente? É verdade!
Mas também teve muito pouca proteção social, muito poucos meios de comunicação: nada de telemóveis, nada de internet...
Só que, no fundo, o que o ministro focava eram as reformas da dita geração do baby boom — e aí deu para recordar outros discursos: os de quem não saiu de Portugal perante as reformas dos emigrantes que regressaram ao país.
E vem à ideia a frase: "Queres o meu lugar, carrega com...". Sim, é verdade que as reformas dos emigrantes são confortáveis em relação às dos que trabalharam toda a vida em Portugal — mas será que se mediu o custo?
Partir nos anos sessenta significava exilar-se num país cuja língua não se dominava, cortando com a vida social, trabalhando de sol a sol todos os dias da semana, amealhando cêntimo a cêntimo na esperança de poder regressar o mais rapidamente possível. Em consequência: vida de família inexistente, filhos criados sem quase contacto ou diálogo com os pais, desprezo no país de acolhimento — e, muitas vezes, no país de origem.
Vejamos: quem quereria essa existência? Porque, afinal, ao querer a reforma deles, teria de se aceitar a vida que levaram.
Bayrou, mais valia ter ficado calado! A geração baby boom teve as suas dificuldades e vantagens, como as outras gerações têm as delas. De que serve apontar culpas? As dificuldades aparecem e temos de enfrentá-las — porque viver é isso mesmo: resolver os problemas que surgem.

