OPINIÃO
Estórias da “Bila” | José Carlos Carvalho | Um ser singular
13 de novembro de 2018Cada vez que passava por ele nas ruas da “bila” o sr. Humberto Almeida, com o seu sorriso singular, cumprimentava-nos muito simpaticamente. Creio que sempre respeitador, por educação, mas também assumindo nos últimos anos a enorme grandeza de espírito que caracteriza aqueles que são capazes de entender ideias diferentes sobre a sociedade, talvez absolutamente opostas. Como as do autor destas simples linhas…
Quando, em 1974, regressou de Moçambique, ele era um homem amargo, revoltado, sobretudo porque a evolução da História o tinha feito perder uma terra e um tempo que adorava, lá na sem dúvida maravilhosa cidade da Beira. No entanto, homem do povo de Recardães, ele foi reencontrando todos os dias a sua terra e a sua gente, as memórias de juventude, os cheiros e sons encantados do vale do Águeda… e era novamente feliz.
Durante alguns anos, tive de ter a paciência amiga de o ouvir defender o regresso a África em força, porque Angola… e Moçambique eram (absolutamente) nossos! Tempos depois, dono de uma cultura muito razoável, soube entender a História. Sem rancores, dedicou-se às suas interessantes crónicas no nosso “Soberania do Povo” e noutros jornais da região, analisando com qualidade o que via em redor, sempre com uma sincera independência: levavam pancada socialistas, sociais-democratas, comunistas e liberais, era um fartar de independência, direi mesmo que mostrando-se muito próximo, por vezes, dos antigos diabos vermelhos! São assim as mentes livres…
Dizem que morreu. Sinceramente, não acredito. Vou com certeza reencontrá-lo um dia qualquer, a passar na Avenida Eugénio Ribeiro, com o seu sorriso franco e aquele chapéu clássico na cabeça que marcavam a sua figura. E, como sempre, dirá “Boa tarde, amigo Carvalho!”, com aquela elevação que é exclusiva dos que não rotulam nunca as outras pessoas pelas ideologias.
Uma boa tarde, amigo Humberto! E mais não digo…
JOSÉ CARLOS CARVALHO
Quando, em 1974, regressou de Moçambique, ele era um homem amargo, revoltado, sobretudo porque a evolução da História o tinha feito perder uma terra e um tempo que adorava, lá na sem dúvida maravilhosa cidade da Beira. No entanto, homem do povo de Recardães, ele foi reencontrando todos os dias a sua terra e a sua gente, as memórias de juventude, os cheiros e sons encantados do vale do Águeda… e era novamente feliz.
Durante alguns anos, tive de ter a paciência amiga de o ouvir defender o regresso a África em força, porque Angola… e Moçambique eram (absolutamente) nossos! Tempos depois, dono de uma cultura muito razoável, soube entender a História. Sem rancores, dedicou-se às suas interessantes crónicas no nosso “Soberania do Povo” e noutros jornais da região, analisando com qualidade o que via em redor, sempre com uma sincera independência: levavam pancada socialistas, sociais-democratas, comunistas e liberais, era um fartar de independência, direi mesmo que mostrando-se muito próximo, por vezes, dos antigos diabos vermelhos! São assim as mentes livres…
Dizem que morreu. Sinceramente, não acredito. Vou com certeza reencontrá-lo um dia qualquer, a passar na Avenida Eugénio Ribeiro, com o seu sorriso franco e aquele chapéu clássico na cabeça que marcavam a sua figura. E, como sempre, dirá “Boa tarde, amigo Carvalho!”, com aquela elevação que é exclusiva dos que não rotulam nunca as outras pessoas pelas ideologias.
Uma boa tarde, amigo Humberto! E mais não digo…
JOSÉ CARLOS CARVALHO

