12 de Abril revelou-se pela música colorida e cativante na Suíça
A Orquestra Filarmónica 12 de Abril, de Travassô, encetou uma digressão de quatro dias a Orsières (Suíça), enriquecendo o seu palmarés internacional, recheado de sucessos em vários pontos do mundo - Galiza (Espanha), Brasil (1999, 2001 e 2003) e Estados Unidos da América (2000) - ao longo dos 90 anos da sua brilhante história.
Eram cerca das 20 horas quando o avião levantou voo do aeroporto Sá Carneiro, no Porto, em direcção a Genebra, com a comitiva de Travassô, para uma digressão de quatro dias em terras suíças. A Orquestra Filarmónica 12 de Abril foi a convidada de honra para as festividades da 100ª. edição do Festival da Fédération des Fanfares Démocrates Chrétiennes du Centre, em Orsières, a convite da fanfarra organizadora, a Fanfare Edelweiis, através do músico de Travassô, João Pinho, actual executante na fanfarra de Orsières. E levava na bagagem a vontade de ser maior perante as expectativas da comunidade de Orsières. Estas festividades ocorrem sempre no terceiro fim de semana de Maio e são a cada ano organizadas por uma das 20 fanfarras pertencentes à Fédération. A Fanfarra organizadora deste ano constituía um grupo de comissários que organizaram toda a logística do evento, inicialmente formada por 11, mas, infelizmente, a morte recente do português Silvestre Almeida, reduziu-a para dez elementos. A dinâmica repete-se a cada ano e vai rodando por todas as fanfarras, o que indica que este evento só se voltará a organizar, em Orsières, daqui a 19 anos. O encontro das fanfarras conta sempre com um convidado de honra, internacional ou não. As restantes fanfarras pagam a sua inscrição para ajudar a custear as despesas de um evento desta envergadura, o resto é todo suportado pelos respectivos comissários formados especialmente para esta iniciativa.
A recepção oficial da Orquestra Filarmónica 12 de Abril foi feita na sede da fanfarra organizadora e contou com o presidente da Comuna, Jean-François Thétaz, que, na oportunidade, deu os parabéns à Orquestra de Travassô pelos seus 90 anos e agradeceu pelo facto da comitiva de Travassô ter feito 1.800 quilómetros para estar presente. Referiu-se, também, ao facto dos 238 portugueses ali radicados, cerca de 7% da população daquela vila, estarem bem integrados na vida activa local, destacando-se mesmo dois portugueses em actividades de grande envolvimento, o futebolista Hugo Marques e João Pinho.
Gil Nadais, presidente da Câmara de Águeda, regozijou-se com este tipo de troca de culturas e entregou lembranças.
Helder Filipe Pires, presidente da direcção da Orquestra Filarmónica 12 de Abril, agradeceu o honroso convite, retribuindo o gesto simpático, com a entrega de um convite ao presidente da Fanfarre Edelweiis, Jerôme Duay, para participarem nas comemorações do 91º. aniversário da Orquestra Filarmónica, em 2016. Seguiu-se um belíssimo concerto da Orquestra travassonense na Igreja local (com uma acústica fantástica).
A sexta-feira estava destinada a uma visita à região, mas o mau tempo apenas levou a comitiva ao Forte em Champex. A artilharia forte de Champex-Lac é um mundo fascinante escondido no coração da montanha e irradia uma atmosfera especial. Ele foi o elemento chave das fortificações da área do Grande São Bernardo. Construído entre 1940 e 1943, em seguida, modernizado e reequipado para um possível conflito nuclear durante a Guerra Fria, o forte foi usado pelo exército suíço até 1998. Existem mais de 600 metros de túneis escavados através da montanha. Totalmente invisível a partir do exterior.
Fora do forte, nos Alpes, a brincadeira na neve deu asas à imaginação.
Fanfarras participantes
foram avaliadas
Todos os anos, inserido no festival, as 20 fanfarras são avaliadas por um júri credenciado, este ano composto por Pascal Eischer e Florian Lab, que após audição e avaliação, será atribuído um grau/nível. Grau esse que servirá de base para atribuição dos subsídios monetários.
A Orquestra Filarmónica 12 de Abril foi ouvida e avaliada, embora noutro contexto, mas com a mesma exigência (ver página 3). O maestro Luís Cardoso, apresentou a peça Freitas, de sua autoria.
Um dos momentos mais gratificantes e entusiasmantes para a Filarmónica de Travassô, foi, na noite de sexta-feira, onde presentearam os cerca de 1.500 espectadores com uma actuação de luxo. Os corações vibraram, viram-se rostos de admiração, de satisfação, de alegria, de contágio musical, foi algo que nenhuma máquina fotográfica, ou qualquer vídeo poderá descrever. Se ali haviam alguns cépticos em relação ao que a Orquestra poderia proporcionar, as dúvidas foram dissipadas com o cantar do Hino Suíço, perante tantos e tantos aplausos. É caso para se dizer: sem a música, sem esta música, a vida seria bem mais pobre. Palmas. Muitas palmas para a Orquestra Filarmónica 12 de Abril de Travassô. A noite prosseguiu, até de madrugada, com um concerto de Grand-Mére Indigne/Bertignac.
O ponto alto do evento foi no domingo com o encontro na Praça central, através de desfiles pelas ruas de Orsières, das 20 fanfarras presentes. Seguiu-se, depois, um desfile organizado e bem orientado em direcção à cantina onde foi servido o almoço a todos os participantes.
Luís Cardoso
um maestro orgulhoso
O maestro que acompanhou a Orquestra Filarmónica a terras suíças, Luís Cardoso, sentia-se, no final, um homem orgulhoso da participação dos seus pupilos. «Correu muito bem! Esta é realmente a força extra que une o grupo, que os motiva, que os incentiva a fazer cada vez mais e melhor. Confesso que não é fácil gerir as sensibilidades de cada um, saber manter a autoridade sem ter de a impôr, mas saio completamente gratificado com esta participação». O maestro Luís Cardoso já tinha estado, enquanto músico da Guarda Nacional Republicana, num festival de Bandas Militares, na Suíça, mas na qualidade de maestro foi a primeira vez neste país. Luís Cardoso sublinhou que a sua «grande motivação neste projecto que é a Orquestra Filarmónica 12 de Abril, assim como na minha forma de estar na e com a música, é fazer a cada instante qualquer coisa de diferente». À pergunta sobre avaliação feita pelo júri, o maestro Luís Cardoso revelou humildade: «sempre gostei de aprender ouvindo a voz de quem sabe, aliás de quem sabe muito». Há sensivelmente um mês que a Orquestra vinha a ser preparada para todo este evento, entre outras situações que surgiram pelo meio. O maestro comentou que «não foi difícil preparar o reportório porque o grande ponto forte deste grupo é a qualidade do conjunto todo. Esta digressão já está e correu muito bem, agora esperamos por algo que também gostamos e nos sentimos preparados para fazer que é acompanhar músicos, neste caso, e à porta de casa, o músico Jorge Palma, no Agitágueda 2015», referiu Luís Cardoso. O ponto menos caloroso neste evento em Orsières, para Luís Cardoso foi «aperceber-me que não há muita interligação dos elementos das bandas/fanfarras. Por hábito e por norma, mal acaba um concerto, um desfile, uma actuação, todos se juntam em amenas cavaqueiras. Aqui, noto que se distanciam as fanfarras umas das outras, mas realço, pode ser uma forma cultural de viver neste contexto musical».
O maestro, visivelmente tranquilo, disse a Soberania do Povo que «só quem está por dentro da Orquestra Filarmónica 12 de Abril, sabe a excelente organização que ela tem, não me sobram preocupações de maior, o meu papel enquanto maestro, é isso mesmo, ser maestro».
Presidente da Filarmónica
Helder Filipe Pires
«Esta é a primeira vez que a Banda vem a Orsières e um evento destes é sempre muito gratificante para nós, para Águeda, para a música, para a cultura e, essencialmente, tem um grau motivador de extrema necessidade e valorização. É, afinal, - diz Helder Filipe Pires -, o culminar do trabalho, dedicação e entrega. Estar a 1.800 quilómetros de casa, a dormirmos todos juntos, a passar quase 24 horas por dia em conjunto, é um reforçar de laços magnífico», referiu o presidente. Para Helder Filipe, presidir à Filarmónica é «um desafio constante, porque será sempre o meu objectivo formar uma Orquestra de qualidade». No entanto, referiu, «não é fácil manter sempre o bom nível, uma vez que um músico demora sempre o seu tempo de aprendizagem e quando está completamente seguro, é quando a vida, muitas vezes, obriga a saídas (constituição de família, trabalho...).
Em relação aos pais, familiares, ou acompanhantes, Helder Filipe realça que «têm sido fantásticos, só assim se conseguem formar grupos unidos e organizados. E será sempre bom verem os seus filhos e os seus amigos, crescerem saudavelmente», frisou.
A minha vontade era escrever em verso esta reportagem, encher de ritmo e tom assertivo cada palavra, e transmitir cada sentido vivido, mas compete-me reportar factos e acontecimentos. No entanto, termino com jeito próprio para que cada leitor perceba o misto de emoções, também vividas pela jornalista: A música embala e quando se ouve boa música fica-se com saudade...Parabéns Orquestra Filarmónica 12 de Abril.
Comitiva aguedense
A comitiva incluiu os presidentes da Câmara Municipal e da União de Bandas de Águeda, Gil Nadais e António Almeida da Silva, respectivamente; o presidente da Orquestra, Helder Filipe Pires; e Horácio Santos, em representação da União de Freguesias de Travassô e Óis da Ribeira.
A Orquestra foi constituída por Luís dos Santos Cardoso (maestro) e pelos músicos Jacinto Estima, Victor Trindade, Helder Laranjeira, João Teles Estima, Leandro Melo, Luís Francisco Correia, Inês Martins, Mário da Silva Neves, António Almeida Martins, Fred Gomes, Bruno Filipe Trindade, Paulo Leitão, António Israel da Silva Neves, Filipe Nogueira dos Santos, Mário Humberto Cavadas, Pedro Filipe Melo, Jorge Gabriel Melo, Eunice Santos, Patrícia Framegas, Carlos Eduardo Fernandes, Lara Pires, Joana Margarida Costa, Sandra Reis, Luís Jorge Rodrigues, Francisca Cruz, Leandra Morais, Ana Cristina Marques, Mariana Gonçalo, António Pires Tavares, José Filipe Garcia, Diogo Filipe Morgado, Luís Caetano, Sara Silva Laranjeira, José Garcia, Rogério Garcia, Victor Manuel Matos, Hélder de Almeida Pires, António Fonseca da Cunha, Manuel Correia dos Santos, João Fernandes Gonçalo, José Diogo Aguiar da Silva, Luís Carlos Oliveira, Alexandre Bernardo M. A. S. Baptista, Micael Silva, João Daniel Silva, António Sérgio Garcia, Orlando Pereira, Yuriy Dobrovolskyy, Nuno Ricardo Rodrigues, Jorge Nogueira Leitão, António Miguel Rodrigues, Pedro Miguel Garcia, Nuno Miguel Bastos, Bruno Miguel Azevedo, Flávio Daniel Santos, Victor Hugo Trindade, José Rafael Correia, Nuno Filipe Neves, Rafael Alves Ferreira, David Oliveira Lopes, Guilherme Alves Pires, Nuno Daniel Martins, Patricio Policarpo, (Porta Bandeira), Manuel Pires Marques, Rui Ferreira, Jorge Melo, António Luís Moreira, Célio Martins (apoio logístico).
Maria Teresa Nogueira, Carla Cristina Antunes, Isabel Maria Francisco Correia, Helder Lopes Correia, Maria Elisabete Melo, Carlos Manuel Pires, Carolina Martins, Ivone Carla Pereira, Carlos Alberto Ferreira Pereira, Rita de Carvalho e Tiago Urbano, completaram a comitiva.
Forte ligação
Três músicos da Orquestra Filarmónica 12 de Abril, são, actualmente, emigrantes em terras distintas.
João Pinho (Suíça), grande impulsionador desta participação; Jacinto Estima, investigador no Masdar Institute of Science and Tecnhology, em Masdar, nos Emirados Árabes; e Miguel Santos, enfermeiro em Lausanne (Suíça), são exemplos de que mesmo distantes, sempre que podem participam nas actividades da Orquestra.
«Há uma mística neste grupo, que nos faz sentir vivos e com vontade de os acompanhar », disseram, unanimemente, e com sorrisos rasgados.
/Jornalista: Cristina Fonseca (cfonseca.sp@mail.telepac.pt)