Entrevista: “Mais que companheiros artísticos, somos quatro amigos! Neste projecto, não há nenhum músico que seja substituível!”
Artur Fernandes, de 48 anos, é, dos quatro músicos dos Danças Ocultas, o mais velho. E o porta-voz. Os três colegas do grupo - Filipe Cal, Filipe Ricardo e Francisco Manuel -, foram os seus primeiros alunos de concertina. Dedica-se ao ensino de composição, no Conservatório de Música de Aveiro e em outras escolas do ensino artístico. Elabora, ainda, composições e arranjos para outros artistas. Uma vida preenchida com a música.
Os Danças Ocultas acabam de lançar um... “Arco”. Que trabalho é este?
Tudo começou quando nos foi apresentada a Dom La Nena, há dois anos, pelo nosso agente, que é, também, o agente desta artista brasileira e do mundo. Na preparação de uma tour, acertámos um repertório para tocarmos juntos e fizemos seis espectáculos. Até que achámos que valia a pena registar em disco quatro músicas com valor acrescentado. Importa dizer que as gravações foram feitas de forma separada - em Águeda, Lisboa e Paris - e que a tecnologia permitiu fazer a sua mistura. O EP (CD mais curto) foi lançado a 9 de Fevereiro e permite que as Danças Ocultas cheguem com maior facilidade aos mercados da Dom La Nena (Brasil, Estados Unidos e Canadá), e que a Dom La Nena chegue ao nosso mercado tradicional, a Europa Central.
Que músicas escolheram?
Das Dança Ocultas, escolhemos “O Diabo Tocador” e “luzAzul”, com a inclusão do violoncelo da Dome La Nena. As músicas dela são o “Anjo Gabriel” e “Ela”, duas canções que motivaram a nossa primeira abordagem ao género canção. É um trabalho para explorar e para voltar a experimentar. Novas composições podem, no futuro, transformar-se nesse formato.
O grupo está a completar as bodas de prata. Com que motivações partiram para este projecto, em Maio de 1989?
Este EP insere-se na celebração destas bodas de prata, assim como a parceria desenvolvida com a Orquestra Filarmonia das Beiras, com quem estivemos a gravar, recentemente, no intuito de editarmos um CD, que terá dois concertos de apresentação (Lisboa e Porto). Nestes 25 anos, já vamos em quatro álbuns de originais e duas colectâneas e um livro. O recente trabalho com a Dom La Nena é o sétimo trabalho discográfico.
E as motivações iniciais?
As motivações vão-se renovando e vão sendo cada vez maiores à medida que se vão conquistando objectivos. No início, este projecto não passava de um grupo de amigos que se divertia com a música. Com a edição do primeiro CD, com a presença no Festival de Vilar do Mouros e com as primeiras internacionalizações, tivemos consciência que poderíamos alcançar metas mais ambiciosas. Em 2010, quando participámos na WOMEX, Feira de Músicas do Mundo, em Copenhaga, na Dinamarca, tivemos a percepção que poderíamos ter uma projecção mundial. Isto garantiu-nos, em três anos, concertos em 15 países.
A concertina quase sempre foi vista como um instrumento ligado ao folclore. E, de repente, os Danças Ocultas conseguiram adaptá-la a novas sonoridades...
Exacto. Isto parte de um impulso que tem a ver com o facto de três de nós termos estudado no Conservatório, que nos abriu perspectivas para a exploração do instrumento de uma forma mais cuidada. A partir daí, a concertina passou a ser, apenas, uma ferramenta para veicular o nosso pensamento musical. Rapidamente nos apercebemos que não copiando modelos, mas apresentado uma formação original, é que poderíamos ser notados.
25 anos é um percurso longo. Sentem-se bem? Mais amigos do que no início?
Costumamos dizer que mais que companheiros artísticos, somos quatro amigos! Neste projecto, não há nenhum músico que seja substituível! Essa relação, a cada passo, vai sendo reforçada e fortalecida. Daí nos sentirmos muito bem.
Muitos quilómetros, concertos e palmas... A quantos países e palcos já levaram a cultura portuguesa?
São cerca de 20 países, mas mais importante é termos chegado a palcos de grande referência mundial, como a Filarmonia de Berlim, Concerthaus de Viena, Teatro Nacional de Taipé, Concerthuset Copenhaga, Palácio dos Festivais de Cannes, Palácio das Artes de Budapeste, entre muitos outros.
Quais são as linhas essenciais da agenda para o futuro?
A edição do disco com a Orquestra Filarmonia das Beiras, e os respectivos concertos de apresentação, são os nossos dois objectivos imediatos. No final deste ano, em Novembro, temos já agendada uma tour de dez concertos na China, e, entretanto, vamos começar a preparar um novo álbum de originais, para editar no próximo ano.
E Águeda continua no vosso roteiro?
Continuamos a ensaiar em Águeda regularmente. Importa dizer que temos tido uma relação com a autarquia muito boa e temos actuado aqui, praticamente, de quatro em quatro anos. Temos tantas actuações em Águeda como em Viena e em Salzburgo (sorrisos).
Como é que vê a cultura de Águeda do momento?
A cultura de Águeda cresceu imenso, em quantidade e diversidade, ao longo dos últimos dez anos. A cultura estava muito centralizada na programação musical e, entretanto, alargou-se para a dança e para o teatro, nomeadamente. Será interessante que essa diversificação continue para outras áreas, como o cinema, as belas artes e VER SP IMPRESSA OU DIGITAL