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OPINIÃO
O PODER, AS MAIORIAS REFORÇADAS E AS LIÇÕES DA HISTÓRIA
As eleições autárquicas em Águeda deixaram marcas políticas profundas. A dimensão da vitória da coligação Juntos por Águeda (PSD/MPT) reforça o poder de Jorge Almeida e redefine o xadrez político local — obrigando todos os partidos, dentro e fora do executivo, a repensar a sua organização, a forma de fazer política e o papel que querem desempenhar no concelho.
A nova maioria absoluta é larga, homogénea e estável. Mas também exigente. A história recente da democracia local ensina que as maiorias reforçadas não são sinónimo de poder duradouro. Em 2013, Gil Nadais obteve uma das mais expressivas vitórias do PS e, quatro anos depois, o poder passou para o movimento Juntos, liderado precisamente pelo seu vice-presidente Jorge Almeida. Situação semelhante sucedera em 2001, quando Castro Azevedo ampliou a maioria do PSD — primeira absoluta em três décadas de poder municipal do partido -, resultando na perda da Câmara para o PS do ex-social democrata Nadais em 2005.
A política local tem memória curta mas padrões longos: quando o poder se torna excessivamente concentrado, o desgaste interno e as feridas mal saradas abrem caminho à mudança. Foi assim das duas vezes que a força maioritária chegou aos 5 vereadores em 7 no executivo municipal - desfecho que se repetiu novamente neste 12 de outubro.
O PS vive ainda hoje as consequências da forma como geriu o processo de sucessão de Gil Nadais — um erro que abriu espaço à afirmação das pessoas e à erosão dos partidos. O PSD, por sua vez, vira a sua base fraturar-se em 2005, fruto de divisões internas e da incapacidade de renovar lideranças, perdendo mais de 20 por cento do seu eleitorado durante os 16 anos em que esteve na oposição.
A história pode repetir-se com outros protagonistas mas a mesma vulnerabilidade: em Águeda, o poder raramente cai pela força da oposição — cai pelo cansaço e erros internos.
Hoje, ao contrário das eleições do séc. XX, o poder municipal depende mais das figuras políticas do que das estruturas partidárias. Jorge Almeida e Edson Santos são exemplos claros dessa centralidade das pessoas. O PSD de hoje é tão dependente das personagens como o PS foi na era Gil Nadais com a sua equipa. E isso, por mais que se negue, é incontornável.
O resultado eleitoral coloca ainda uma incógnita no tabuleiro: o Chega, que apesar de não ter eleito vereador, duplicou votos e estreia-se na Assembleia Municipal com dois membros. Ninguém sabe se será apenas ruído ou se ganhará enraizamento, mas a sua presença vai testar o tom, já de si tóxico, do debate político local.
Para todos os partidos estes quatro anos serão decisivos. O desafio não é apenas sobreviver, é redefinir o espaço político local.
Partidos que têm tido presença regular nas autarquias — PS e CDS-PP — precisam de repensar a sua organização interna, ler os resultados com serenidade e reconstruir a ligação à comunidade de forma contínua e consistente, e não apenas a seis meses das eleições.
O mesmo se aplica à esquerda tradicional — BE e PCP (na versão CDU) — que, eleição após eleição, vêem a sua base eleitoral definhar até à quase irrelevância.
Quanto ao PSD e à designada coligação Juntos por Águeda - o MPT, não tendo qualquer expressão neste concelho, é um artifício -, há dois desafios centrais para este novo ciclo:
- primeiro, não defraudar as expectativas de quem legitimou esta maioria e cumprir as promessas e as obras que sustentaram a campanha e o mandato anterior;
- segundo, gerir o processo de sucessão de Jorge Almeida com bom senso, prudência e capacidade de conciliar ambições.
Este último será, inevitavelmente, o teste mais difícil: conciliar desejos e controlar vontades, num tempo em que o poder se pode transformar, facilmente, na sua própria perda. Veremos se a História se repete.
QUANDO O GRITO PERDE O PALCO
Estas eleições autárquicas, mais do que mapas pintados de novas cores, deixaram um retrato do país real, aquele que vai muito além dos gritos das redes sociais. Entre as surpresas e os desaires, é impossível ignorar que a extrema-direita ficou muito aquém das expectativas.
O partido que se alimenta da indignação e da raiva, habituado a transformar polémicas em votos, tropeçou quando teve de enfrentar o país sem o seu líder no centro do palco.
Este resultado confirma o que já é (ou deveria ser) mais que sabido: o Chega não é um movimento político enraizado, é um espetáculo de um só ator! Vive da voz, da pose e do impulso de quem o dirige, mas quando a cortina cai, o eco desvanece. Sem o magnetismo populista de quem transforma insultos em manchetes, o partido perde força, discurso e, acima de tudo, votos.
Precisamente por isto é que o populismo vive de criar inimigos e de simplificar o mundo até caber num slogan, mas fora do palco, sem as luzes da polémica e a adrenalina do confronto, descobre-se que pouco sobra para construir. E é aqui que a política mostra a sua diferença essencial, pois enquanto uns se dedicam a incendiar o debate, outros continuam a reconstruir as pontes que o populismo queima.
Claro que, tal como já tenho vindo a mencionar, não é um caso isolado, nem exclusivamente português e vamos vendo vários países europeus com o mesmo ciclo de líderes carismáticos que sobem rápido, alimentados pelo descontentamento, mas que caem assim que a fúria esgota a novidade. Itália, França, Hungria, Estados Unidos… enfim, mudam os rostos, repete-se o guião.
Talvez o maior antídoto contra o populismo seja precisamente o que aconteceu nestas eleições, ou seja, o regresso à normalidade democrática, onde a proximidade e o trabalho local valem mais do que o ruído digital. Onde as pessoas conhecem quem as representa, não pelos vídeos virais, mas pelas respostas concretas. E talvez este seja o sinal mais saudável das urnas, pois quando o grito perde o palco, a política ganha espaço para voltar a ser discussão séria.
ABÓBORA, UM CLÁSSICO DO OUTONO QUE NUNCA SAI DE MODA
Símbolo do outono e presença habitual nas cozinhas portuguesas, a abóbora é um alimento que une tradição, cor e valor nutricional. Muito além do seu papel decorativo no Halloween, é um dos frutos mais versáteis e completos da estação.
Cultivada em Portugal desde o século XVI, após a chegada das sementes trazidas das Américas, a abóbora ganhou espaço nos nossos campos e nas nossas mesas. Hoje, o país é o quinto maior produtor da União Europeia, com especial destaque para a região do Oeste. A sua versatilidade e elevada rentabilidade agrícola fazem dela uma cultura essencial na dieta mediterrânica e na economia rural.
Do ponto de vista nutricional, a polpa apresenta um valor energético muito baixo. É rica em água, potássio e vitaminas C e E. Os seus pigmentos naturais, os carotenoides, como o betacaroteno e a luteína, conferem-lhe a cor vibrante e propriedades antioxidantes, com impacto positivo na saúde da pele, da visão e do sistema imunitário.
Mas, o valor da abóbora não termina na polpa, as cascas e as sementes merecem igual destaque. As primeiras são ricas em fibra e compostos bioativos, e as segundas concentram proteínas, gorduras insaturadas e minerais como o magnésio e o fósforo. Incorporar sementes de abóbora em saladas, iogurtes ou pão é uma forma simples de enriquecer a alimentação com nutrientes essenciais.
Além dos benefícios nutricionais, a abóbora representa um exemplo de sustentabilidade. Aproveitar o fruto “da casca às sementes” reduz o desperdício, promove a economia circular e cria novas oportunidades na indústria alimentar, com a valorização dos subprodutos.
Versátil na cozinha, a abóbora adapta-se a todas as preparações culinárias, em sopas, purés, risotos, assados, saladas, sobremesas ou até como base de compotas. A sua doçura natural, dependendo da variedade, dispensa o uso de açúcar e permite receitas mais equilibradas.
Para aproveitar o melhor desta época, deixo uma sugestão simples para a incorporar na alimentação: abóbora e batata, assadas, com ervas e sementes. Basta cortar a abóbora e a batata em cubos, temperar com azeite, alecrim e orégãos, levar ao forno até ficarem bem cozinhadas e finalizar com sementes de abóbora torradas. Um acompanhamento completo e equilibrado, perfeito para servir com carne, peixe ou uma alternativa vegetal. Bom apetite!
AS PRIORIDADES DE ÁGUEDA
Quais deverão ser as prioridades de Águeda para os próximos anos? Como está o município no panorama nacional? Quais são as preocupações dos Aguedenses?
Para respondermos a estas questões é importante percebermos a realidade. Com factos e dados concretos para, sem demagogias ou populismos, discutir prioridades e soluções de desenvolvimento do concelho.
O Ranking da Competitividade Municipal, publicado no dia 1 de outubro, que compara 186 municípios com base em 11 indicadores, é o ponto de partida para esta reflexão.
Águeda ocupa, globalmente, a 41ª posição. No distrito de Aveiro, situa-se na 8ª posição, atrás de Aveiro, S. João da Madeira, Ílhavo, Oliveira do Bairro, Mealhada, Estarreja e Ovar.
Olhando para os indicadores, percebemos que a Educação é a dimensão em que Águeda está melhor (27ª posição), apenas atrás de S. João da Madeira no distrito de Aveiro. Outra dimensão onde Águeda tem uma boa performance é no Capital Produtivo (44ª posição).
Por um lado, o número de professores e a existência de uma Instituição de Ensino Superior (Escola Superior de Tecnologia e Gestão da Universidade de Aveiro) contribui para o bom desempenho na Educação; por outro, um tecido empresarial com indicadores positivos, sustentam o desempenho naquelas duas dimensões.
A merecer atenção estão as áreas da Proteção e Justiça (124ª posição) e Cultura e Entretenimento (131ª posição), também não sendo famoso o desempenho na Saúde (105ª posição) e na Habitação (106ª posição).
Aspectos como o número (reduzido) de bombeiros por km2 ou a ausência de uma polícia municipal condiciona negativamente o desempenho do município na Proteção e Justiça. Já na Cultura e Entretenimento são ainda poucos os espetáculos ao vivo, museus e exposições por mil habitantes no concelho.
Na Saúde, o (reduzido) número de médicos por mil habitantes e o baixo número de camas em hospitais por mil habitantes é motivo de preocupação, enquanto na Habitação, o valor mediano das rendas, o número de fogos licenciados para habitação familiar ou os alojamentos familiares com necessidades de reparação, são indicadores preocupantes.
Mas esta análise não estaria completa sem a visão dos Aguedenses. A sondagem digital divulgada pela Soberania do Povo no passado dia 26 de setembro, ajuda-nos nesta tarefa.
Os munícipes de Águeda não desalinham dos dados oficiais: as maiores preocupações centram-se em áreas como a Saúde (24%), a Protecção e Justiça (24%, agrupando segurança e incêndios) e a Habitação (17%).
Este quadro, que combina dados concretos com as preocupações das pessoas, dá-nos uma imagem bem clara de qual o caminho que é importante seguir e quais as prioridades de Águeda: Saúde, Protecção e Habitação.
Com estas prioridades em vista, certamente os Munícipes agradecem e Águeda será certamente um concelho melhor para viver.
DO SORRISO, AO RISO
Sorrir poderá ser o prelúdio de determinada atitude festiva ou satisfação perante qualquer acontecimento, dito, pensamento, gozo, sonegação de algum pormenor de dúvida, desespero ou desprezo.
Seja qual for o seu sentido e significado, o sorriso indicará certamente uma forma de expressão muito humana. Há quem sorria quando não parece ter vontade de manifestar qualquer laivo de felicidade e também quem ria, mas com vontade indómita de chorar.
Cada pessoa pode sorrir, rir ou ficar indiferente, perante os numerosos acontecimentos que sucedem diariamente à sua frente. A interpretação própria e conveniente dependerá da predisposição de quem provoca ou é provocado.
É uma maneira deveras peculiar de entender qualquer caso mais ou menos esperado e que faz parte integrante de uma comunhão de vida entre os membros que se consideram em actividade humana inteligente e consciente.
Há quem sorria para desvanecer a gravidade de um assunto definido e quem o faça, desdenhando de várias tomadas de posição alheios menos pensadas e infelizes.
O homem reage no seu porte, consoante o que vive no íntimo de si mesmo. Os seus propósitos normais nascem do equilíbrio interior anímico que traduz, na sociedade, a seriedade e sensatez de que é dotado por natureza própria. Mas, pode desviar-se da compostura pessoal quando se permite ser apoderado por certos modos de agir menos ortodoxos que afectam frequentemente os indivíduos esquecidos da civilidade.
Rir, dizem, dá e mostra saúde de carácter e humanista. Entre o riso e a vida de cada instante, deverá haver uma coerência que não será forçada, mas espontânea, sincera e transparente.
O sorriso e o riso de uma criança que ilustram qualquer sua pequena diabrura ou travessura são os mais verdadeiros e puros sinais da verdade e verticalidade do seu ser.
Já o mesmo não pode presumir-se de idênticos gestos dos adultos. Estes nem sempre revelam a concordância entre o que pensam e agem. Por vezes, o riso manifesta a submissão que se procura impor aos mais carentes em quaisquer sentidos.
Neste tempo e dadas as exigências circunstanciais, ao passar na rua e olhando as paredes, deparamos com muitos e diversos cartazes de propaganda político-popular, onde os candidatos a determinados lugares de chefia no seu meio ou mais longe se apresentam, todos eles, com rasgados sorrisos como nunca, antes, terão exibido. A isso não escapa nenhum. A boa disposição é ou parece geral e esperançosa nos bons resultados a obterem.
Naturalmente avaliaremos o contraste que se verifica porque bastantes desses sorrisos darão origem a risos sarcásticos e cáusticos, uma vez que se apresentam os profetas das ideias prolixas, mas que, mais tarde, se descobrirão vazias e de planos irrealizados.
É por tudo isso que muita gente, no futuro, irá perder-se de riso!
IUC IMPOSTO ÚNICO AUTOMÓVEL - ALTERAÇÕES PARA 2026
O pagamento do IUC vai mudar a partir de 2026, com um novo calendário de pagamento fixo até 28 de fevereiro, independentemente do mês de matrícula do veículo. Esta é uma medida incluída na Agenda para a Simplificação Fiscal aprovada em Conselho de Ministros de 16 de janeiro e que entra em vigor em 2026, com vista a simplificar a gestão de prazos.

O que muda no prazo de pagamento:
Data fixa:
 Atualmente, o IUC é pago no mês de matrícula do veículo. A partir de 2026, o pagamento será feito anualmente, com data limite em fevereiro.

Pagamento do IUC em 2026:
Valores até 100€:
 O pagamento será feito numa única prestação até ao final de fevereiro.
Valores superiores a 100€: O contribuinte poderá escolher entre duas opções, pagar o montante total do imposto até final de fevereiro ou dividir o valor em duas prestações, sendo a primeira em fevereiro e a segunda em outubro. 

De quem é a obrigação de pagar o IUC:
O imposto é devido pelo proprietário que em 31 de dezembro do ano anterior tenha o registo de propriedade em seu nome, ainda que o venha a vender em 2026.

Quem tem direito à isenção do IUC?
Veículos pertencentes a pessoas com deficiência,
cujo grau de incapacidade seja igual ou superior a 60%. Porém, para usufruir da isenção do IUC, estes veículos devem cumprir requisitos ambientais específicos e cada beneficiário tem direito a apenas uma isenção de IUC por veículo e por ano, não podendo o valor ser superior a 240€.
Viaturas Elétricas ou movidas a energias renováveis não combustíveis;
Automóveis de passageiros que se destinem ao serviço de aluguer com condutor, ou táxis;
Veículos automóveis categorias A, C, D e E com mais de 30 anos, considerados de interesse histórico pelas entidades competentes, com uso ocasional e não efetuem deslocações anuais superiores a 500 quilómetros.
Veículos de Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS).
Ambulâncias e veículos dedicados ao transporte de doentes, bem como veículos funerários.
Tratores agrícolas.
Veículos de equipas de sapadores florestais que integram o Sistema de Defesa da Floresta contra incêndios.
Viaturas pertencentes ao Estado Português (administração central, regional e local), ou a outros Estados estrangeiros.
Veículos das forças militares e de segurança.

O que acontece se não pagar o IUC?
O atraso ou incumprimento
no pagamento do IUC acarreta penalizações para o proprietário do veículo, nomeadamente a aplicação de coima, geralmente de 25€ podendo ser agravada no caso de não pagamento no prazo estipulado.
Para além da fixação da coima, terá sempre de pagar o imposto acrescido de juros de mora e sujeito a processo executivo e custas.

Como se processa o pagamento do IUC?
Para efetuar o pagamento do IUC é necessário emitir a guia de pagamento no Portal das Finanças e proceder ao pagamento conforme os respetivos dados e instruções.
A DEMOCRACIA À BEIRA DO ADRO
As eleições autárquicas deste domingo são mais do que um exercício de escolha de presidentes de câmara, juntas de freguesia ou assembleias municipais. Representam um momento essencial da democracia: o reencontro entre cidadãos e poder no patamar onde a política se sente de forma mais próxima e concreta. É nas autarquias que o quotidiano da comunidade encontra resposta — ou ausência dela.
Contudo, este pilar democrático enfrenta fragilidades. A dificuldade crescente em encontrar candidatos pode revelar o desgaste dos partidos, outrora viveiros de militância e debate ideológico. Segundo alguns relatos, há quem prefira não dar a cara por receio de pressões ou possíveis represálias. Meio século de democracia: a coragem mede-se apenas por assumir posições, ou sobretudo por agir e transformar?
A erosão das grandes narrativas, a fragmentação social e até a perceção de que o poder local é exigente e pouco compensador contribuem para enfraquecer estas estruturas. E se os partidos perdem força, a democracia local perde uma das suas colunas de sustentação.
Noutra vertente, a evolução das autarquias é evidente: de instituições limitadas em recursos - condicionando as opções de governação - passaram a estruturas com capacidade de decisão e de investimento.
No passado, a escassez de fundos obrigava a sociedade civil — empreendedora e arrojada — a assumir o protagonismo e a ser o motor, fazendo-se à vida.
Hoje, com mais meios públicos, a responsabilidade devia ser partilhada: cabe à sociedade civil continuar a intervir, orientar e exigir, para que o poder local não se transforme num fim em si mesmo mas permaneça um instrumento ao serviço da comunidade. E aos autarcas cabe assumir uma liderança de parceria: não serem o “alfa” da comunidade mas colocar o poder ao serviço do coletivo, promovendo decisões partilhadas, ouvindo a sociedade civil e garantindo que o município cumpre a sua função de facilitador do desenvolvimento e do bem-estar de todos.
As eleições autárquicas são, por isso, um momento de escolha e reflexão: que perfil de liderança queremos para o futuro — concentradora ou colaborativa? Que poder queremos — absoluto ou partilhado? A sociedade civil, em cada uma das autarquias, terá este domingo a oportunidade de se afirmar mais acomodada ou mais ativa.
AS CAMPANHAS DO OUTDOOR, DO BRINDE E DA BANDEIRINHA
De quatro em quatro anos os eleitores locais são chamados a exercer o direito de voto e, convencionou-se dizer que nestas eleições as “pessoas” são mais relevantes do que as “politicas” ou os “programas” eleitorais.
De facto, a proximidade entre candidatos e eleitores é maior, nos bairros, nas freguesias, nos lugares e na cidade, gerando fenómenos de empatia ou rejeição, conforme a ideia que cada um tem das pessoas, dos partidos a que pertencem, dos movimentos independentes ou das coligações.
Há todavia uma excessiva “personalização” das candidaturas, com efeitos perversos que muitas vezes enfraquecem o debate público democrático.
O excesso de cartazes colocados em outdoors, nas árvores e nos postes de eletricidade, não está nada em linha com o ativismo ambiental e a modernidade verde, cujos slogans alguns proclamam.
Os cartazes, em regra, são emoldurados com frases feitas, repetidas e inócuas que significam muito pouco e geram até indiferença para quem olha e está mais interessado em conhecer as propostas eleitorais que se esfumam por entre os icónicos cartazes do Continente ou da Remax.
Quem está no Poder tem a tendência para fazer o balanço da obra feita, esquecendo a que não foi feita e falando muito pouco do futuro.Da parte das oposições, há um foco excessivo no julgamento e na crítica, justa ou injusta, de quem está no governo local, sem o cuidado da apresentação de propostas alternativas consistentes.
No mundo em que vivemos, das redes sociais, da promessa fácil, se temos a vantagem de ter acesso a debates entre candidatos às Câmaras municipais, às freguesias e às assembleias municipais, numa aparência de democracia participativa, verifica-se ao invés, um maior empobrecimento dos conteúdos e das propostas eleitorais (que apostam na promessa fácil), um aumento do ataque pessoal entre candidatos, com as “queixas” enviadas às comissões eleitorais ou aos tribunais apenas para efeitos de aproveitamento politico, muitas vezes persecutório e inconsequente – veja-se o que se passou com a queixa e recurso apresentados pelo PS contra candidatura do Sérgio Neves, na União de Freguesias de Travassô e Óis da Ribeira, que o Tribunal Constitucional nem sequer achou relevante apreciar por “inidoneidade do objeto do recurso”.
Por outro lado, as campanhas continuam a ser organizadas com a habitual estrutura das “arruadas”, do porta à porta nas casas e nos mercados para distribuir brindes, bandeirinhas e canetas, da visita tardia às instituições – IPSS,s, escolas, hospitais, lares de terceira idade e afins -, culminado nas ditas “sessões de esclarecimento”, realizadas em regra à noite nas freguesias, onde só vão ao púlpito os candidatos que, em regra, falam para uma assistência que é praticamente constituída apenas pelos staffs de campanha, pelos candidatos e alguns apoiantes, mais ou menos ruidosos.
Foram muitos os que seguiram de perto e com interesse o único debate organizado pela Soberania do Povo com todos os candidatos à Câmara Municipal de Águeda, transmitido nas redes sociais e rádios locais?
Não, não terão sido muitos de facto, o que denota o cansaço dos eleitores com a repetição sucessiva de atos eleitorais em Portugal.
Alguém quantifica o valor das propostas que apresenta, revelando estudo e preparação dos programas eleitorais? Muito poucos!
Parece que pouco ou não mudou de há 20 anos para cá, à exceção do número de candidatos jovens nas várias listas autárquicas, muitos com qualidade e até com estudos e carreiras iniciadas para além da Política, o que apesar de tudo constitui uma enorme esperança para o futuro.
ÉTICA E MORAL NA POLÍTICA: O ESPELHO DAS NOSSAS ESCOLHAS
Com a aproximação das eleições autárquicas, é essencial refletir sobre a ética e a moral na vida pública. Não como conceitos abstratos, mas como critérios concretos que os eleitores devem considerar antes de votar.
Aristóteles dizia que a política deve buscar o bem comum, a justiça e a virtude cívica. Já Maquiavel via a política como o território da eficácia, mesmo que isso contrariasse a moral tradicional. Hoje, os políticos oscilam entre essas duas visões: devem ser guardiões da ética ou gestores do poder?
No plano local, os efeitos da governação são sentidos imediatamente. É nas autarquias que mais se invocam palavras como “transparência”, “verdade” e “proximidade”, ainda que muitas vezes fiquem só nos cartazes de campanha, rapidamente esquecidas após o fecho das urnas.
A política pode ser, como dizia Bismarck, a “arte do possível”. Mas o possível em função de quê? Do bem comum ou da conquista e/ou manutenção de cargos? Essa é a pergunta que deveria guiar cada voto.
É preciso distinguir moral e ética. A moral é o conjunto de valores partilhados por uma comunidade. A ética é a capacidade de questionar esses valores, procurando o que é justo de forma universal, mesmo que vá contra interesses pessoais ou partidários.
Um político ético não é aquele que tem boas frases ou outdoors sorridentes. É quem mantém coerência entre o que diz e o que faz, resiste à conveniência e vê o poder como responsabilidade — não propriedade.
Costuma-se dizer que “todos os políticos são iguais”. Não são. Essa ideia serve apenas para justificar o desinteresse e alimentar o cinismo. Quando deixamos de distinguir os que servem dos que se servem, é a própria democracia que perde.
Votar por simpatia, amizade ou promessa fácil enfraquece o bem comum e fortalece o oportunismo. O voto nunca é inocente. Quando elegemos alguém incoerente, não podemos fingir surpresa depois.
Muitos partidos funcionam como clubes de amigos, mais do que espaços de debate ideológico. O vaivém de candidatos entre partidos - muitas vezes sem coerência programática — mostra que para alguns a prioridade é manter ou conquistar cargos. Se o eleitor já não estranha essas mudanças, é porque, de certa forma, passou a legitimá-las com o silêncio ou o voto.
Abster-se também não é solução. A política não deixa vácuos - onde há silêncio, crescem os que só pensam em si. Não votar não é protesto. É abdicar da própria voz e entregar a decisão a outros.
O que está em jogo? Não é só escolher entre listas, mas refletir sobre quem tem compromisso com a comunidade. As perguntas certas não são “quem promete mais?” ou “quem conheço?”, mas: Este candidato distingue conveniência de serviço? Tem integridade mesmo longe dos holofotes? Respeita os outros como quer ser respeitado? Conhece a realidade que quer governar?
Não se exige santos na política - provavelmente nem aceitariam o cargo. Mas é legítimo esperar coerência, seriedade e compromisso firme com o bem comum. Afinal, a democracia é um espelho: devolve-nos exatamente o que nela colocamos.
POR QUEM OS SINOS DOBRAM (PARTE 8)
Uma ceia bem regada despertou em Florinda desejos desde há muito, por satisfazer e, também naquele dia não passaram de ilusão porque o marido priorizou outros interesses e ela adormeceu, acordando só ao romper da aurora com outras necessidades, fisiológicas, obrigando-a ir ao WC e percebeu que, na cama, o lugar do marido estava vazio e frio, sinal claro de que, ao lado dela, ele não se deitou:
-Por onde andará o meu marido?
-Procurou-o por toda a casa e foi encontrá-lo, enroscado na despensa de arrumos, a ressonar; pensou que ele se tivesse excedido na bebida e deixou-o dormir, ficando alguns minutos, ao lusco-fusco da candeia, a contemplar-lhe o meio desnudado corpo; depois foi ver o despontar da matutina aurora a desenhar, no horizonte, a silhueta dos montes serranos com raios solares entre os penhascos em direção ao céu, antes de desceram à terra.
Ainda em camisa de dormir, Florinda, espreitou o trabalho da véspera, vendo que, durante a noite, alguém andou a calcar a horta - pegadas bem visíveis ficaram impressas na terra fresca; pareceu-lhe já ter visto aquelas marcas no chão da cozinha e comparou-as com as suas galochas:
- As gravações do rasto eram diferentes e também eram muito mais pequenas, lembrando-se, ir buscar as botas do marido!
Ao pousá-las na moldura da terra, para além de, o desenho do rasto ser o mesmo, assentaram como uma luva; não há dúvida, foi ele que andou por aqui!
Esclarecida, preparava-se para abandonar o local quando reparou que as pegadas estavam debaixo da latada na direção do quintal da vizinha:
-Espera aí! Há mais pegadas e, seguindo-as, destrinçou entre as que vão e as que vêm, percebendo que as de regresso eram mais recentes:
Por isso é que eu acordei sozinha e com a cama fria; não há dúvida, eles são amantes e seguiu o rasto até ao cabanal da eira onde encontrou peças de roupa interior que ela bem conhecia!
No regresso, sentindo o peso da traição e desvantagem dela com a rival, mulher modernizada e aparatosa, murcharam os agapantos no seu íntimo jardim:
-Eu vou matá-lo enquanto ele dorme!
Olhou-o, e quando ia desferir o golpe, teve compaixão; baixou o braço e colocou, a seu lado, as roupas que trouxe do cabanal da eira!
Gervásio acordou tarde e arrelampado. A noite foi longa, mas o descanso foi pouco.
Ao acordar viu a seu lado, na enxerga onde dormiu, o facalhão de matar o porco:
-Que é isto, algum aviso, gritou?!
Como ninguém lhe respondeu, atirou a faca para longe e começou a vestir a roupa interior, impregnada com o cheiro da vizinha.
Ao calçar as botas, só encontrou uma e, ao procurar a outra, encontrou um corpo estendido, ainda quente; a seu lado, a bota que procurava e, um frasco vazio:
- Esfregou os olhos, arrumou a faca e chamou a autoridade da terra, o regedor!
Ao terceiro dia a aldeia vestiu-se de negro par entregar, à terra fria, o corpo de Florinda, uma esposa que, desesperada, fez o mata-bicho com veneno dos escaravelhos!
Enquanto o Luís recebia os companheiros de pesca e Marieta preparava uma açorda de coentros para acompanhar a fritada de peixe, na esperança que o marido partilhasse, os sinos, insistentemente, dobravam e o enfermo perguntou:
-Por quem os sinos dobram?
-Pela Florinda, mulher do teu enfermeiro!
Sem comentário, mas adivinhando o futuro, tirou os comprimidos escondidos debaixo da travesseira e engoliu-os de uma só vez:
- Nunca perguntes por quem os sinos dobram porque eles dobram por todos nós, também por ti, sic.! (fim)
OPORTUNIDADE PERDIDA!
Vivi grande parte da minha infância e juventude no Concelho de Águeda. No entanto, por decisão da Direção Nacional do partido a que pertenço, fui candidato e fui eleito pelo círculo eleitoral da Guarda, um dos distritos mais fustigado pelos incêndios do verão. Antes que a voracidade dos tempos levasse ao seu esquecimento, foi agendado um debate parlamentar para, ao nível legislativo, se criarem condições de prevenção desta tragédia que se abate, ano após ano, sobre um interior abandonado pelo poder central.
Creio que é óbvio para todos nós que quanto mais despovoado estiver o território, mais facilmente será alvo de qualquer calamidade. O abandono do interior por aqueles cuja atividade económica assenta na fileira agroindustrial, por ser cada vez menos rentável e estar sujeita a condicionantes que outras fileiras económicas não possuem, ajuda a encontrar um interior vazio de pessoas. As restrições e as dificuldades por que passam vão ao ponto de, enquanto escrevo estas linhas, haver agricultores e criadores de gado que, por terem conduzido manifestações pacíficas em 2024, estarem a ser alvo de processos-crime, levando-os a deixar a sua atividade profissional, votando ainda mais ao abandono um interior já de si esquecido.
A Natureza tem horror ao vazio, e é obrigação dos decisores garantir as condições para que o vazio não caracterize o nosso território.
Ao longo deste verão, os incêndios lavraram em diversos distritos. Enaltece-se a coragem e a abnegação dos bombeiros no combate a esse flagelo, mas não podem ficar sozinhos nesta luta.
As Forças Armadas como agentes da proteção civil têm desempenhado um papel fulcral na prevenção, vigilância, combate e rescaldo dos incêndios. Mais de 6 mil efetivos dos três Ramos foram já empregues este ano.
É certo que, constitucionalmente, a Missão Primária das Forças Armadas é a da Defesa Militar da República. Porém, desde que devidamente treinados, equipados e enquadrados, numa estrutura de comando clara e simples, os nossos militares cumprirão essa tarefa, que é também de defesa do território, da propriedade e da vida dos nossos compatriotas.
É, no meu entendimento, na estrutura de comando e controlo da proteção civil que é urgente mexer. Uma orgânica que dilui responsabilidades, distribuindo diversos níveis de autoridade por diferentes agências e entidades, nunca será uma estrutura funcional e porá em risco todos os que se encontram no teatro de operações.
Militares, bombeiros, membros das forças de segurança, e tantos outros, necessitam de estar equipados, treinados e de ser comandados com clareza e competência.
Não tenho dúvidas que o soldado, o militar da GNR e o bombeiro português são dos melhores do mundo e na defesa do seu torrão natal são os mais abnegados e corajosos. É obrigação dos decisores políticos dar-lhes condições para que conduzam os seus combates de forma eficaz e segura.
No dia 25 de setembro, a Assembleia da República, preferiu refugiar-se em recomendações e em grupos de trabalho em vez de agir de imediato. Não foi um bom dia para Portugal!
FUNÇÃO PÚBLICA: FUNCIONÁRIOS A MAIS OU EFICIÊNCIA A MENOS?
Nas últimas semanas, a propósito da intervenção de um líder político, voltou a falar-se do número excessivo de funcionários públicos e de como isso é nefasto para a eficiência dos serviços públicos.
Portugal tinha em final de 2024, 753.552 funcionários públicos (Boletim Estatístico do Emprego Público). Este número inclui administração central e regional (câmaras municipais e juntas de freguesia, por exemplo); inclui médicos, enfermeiros, polícias, professores, assistentes operacionais, militares e oficiais de justiça, entre outros.
É uma realidade que o número de funcionários públicos tem vindo a aumentar desde 2014 (na altura eram 656.363). Mas será este facto suficiente para compreendermos a situação? Se olharmos para a proporção de funcionários públicos relativamente à população empregada, Portugal apresenta uma percentagem a rondar os 14.7%. Ou seja, de todas as pessoas empregadas em Portugal, 14.7% estão empregadas em funções públicas.
Todos os países europeus têm percentagens acima dos 10%, mas Portugal está entre os cinco países com uma das percentagens mais baixas de emprego público face ao emprego total. Além disso, este indicador tem-se mantido estável ao longo da última década. E, em praticamente todos os países da Europa (incluindo Portugal), este valor até desceu quando se comparam os dados mais actuais com o ano de 2000.
Relativamente à população total do país, o rácio actual é de 7%, ou seja 7 em cada 100 residentes em Portugal trabalha em funções públicas. Esta percentagem não sofreu alterações significativas desde 2014 (6.3%), ano em que começou a aumentar o número de funcionários públicos.
Portanto, daqui se pode depreender que, em proporção de empregados ou em proporção da população portuguesa, o número de funcionários públicos se manteve estável. Quando se compara Portugal com os nossos parceiros europeus, até somos um dos países da Europa com uma proporção mais baixa face à totalidade de empregados.
Quer isto dizer que não temos funcionários públicos a mais? Que a eficiência dos serviços públicos está bem e recomenda-se? Claro que não. Quer apenas dizer que o maior problema – a eficiência – não estará no número de funcionários públicos. Mais importante que o número é, por exemplo, a sua distribuição pelos diferentes serviços – basta olhar para a área da saúde, onde a falta de profissionais é evidente. Há recursos humanos a mais em alguns sectores e a menos noutros.
Mas também não é só a deficiente distribuição. A forma como se trabalha, os métodos e processos de trabalho, são talvez ainda mais importantes que tudo o resto para o resultado e para a qualidade dos serviços.
Por isso, a ideia simplista de “temos muitos funcionários públicos” como a causa de todos os problemas dos serviços públicos é enganadora e intelectualmente pouco honesta se se quer mesmo atingir o objectivo que os serviços sempre deverão perseguir: servir com qualidade os seus cidadãos.
A EROSÃO DA CONFIANÇA
Podemos ter o melhor dos intuitos, a mais genuína das intenções, e ainda assim sermos alvo da desconfiança alheia. Quem nunca sentiu que um gesto simples, uma palavra bem-intencionada, foi mal interpretada? Não raras vezes, julgamos o outro pelo carácter que lhe atribuímos, mesmo sem o conhecermos verdadeiramente. Mas será esse julgamento reflexo do que vemos nos outros ou, mais profundamente, um espelho do que somos nós próprios — dos valores, instintos e experiências que moldaram a nossa formação?
Se assim é em contextos de proximidade, em comunidades pequenas, no seio de equipas de trabalho ou em círculos sociais restritos, o que dizer da perceção sobre aqueles que exercem papéis de maior visibilidade e influência? Se o juízo fácil impera aqui, como não se amplificar perante figuras públicas, dirigentes ou representantes políticos, que se movem num palco de escrutínio constante?
A confiança é cimento social. Sem ela, as relações ficam frágeis, o diálogo ecoa em suspeição e até o exercício democrático perde vigor, transformando-se num jogo negativo em que os eleitos e os eleitores se afastam em vez de se aproximarem. Vemos isso em Portugal e no mundo: a dúvida sistemática corrói a cooperação e, em última instância, mina o desenvolvimento.
Viajar permite perceber o contraste. Povos que cultivam confiança, que se mobilizam mais construtivamente em torno de objetivos comuns, que olham os desafios com espírito positivo e respeito pelos intervenientes - mesmo com olhares diferentes, são menos emotivos e mais racionais -, são aqueles que mais avançam. Não por acaso: a confiança gera colaboração, a colaboração gera progresso. Onde impera a desconfiança, multiplicam-se muros — visíveis e invisíveis.
Pela postura, cada sociedade revela a formação e a educação das suas pessoas. Em contextos semelhantes, o contraste é evidente: há comunidades que se deixam dominar pela negatividade constante, criando um ambiente contagiante de suspeição, de descrença e de imobilismo coletivo; e há outras que, perante problemas semelhantes, optam por encarar os desafios com racionalidade e espírito construtivo, transformando dificuldades em oportunidades. É uma diferença de cultura, mas também de educação. E a verdade é que são estas últimas que vencem melhor os obstáculos e constroem percursos de desenvolvimento mais sólidos e inclusivos.
Na minha Águeda e no meu Portugal, gostaria que a crítica, legítima e necessária, não se confundisse com pessimismo paralisante, nem com uma oposição sistemática e estéril. Que houvesse espaço para acreditar, para dar o benefício da dúvida, para dialogar com base no respeito. Isso significa, por exemplo, que quando não se concorda se deve dizê-lo, com argumentos, sem deixar de cumprimentar. Que quando há um erro, ele seja apontado em diálogo, em vez de conclusões enviesadas. E que ao opinar sobre algo se tenha em atenção o contexto.
POR QUEM OS SINOS DOBRAM (PARTE 7)
Florinda andou a plantar as couves do outono, sozinha, sob uma latada de videiras na extrema do seu quintal, até ao escurecer, enquanto o marido ajudava a vizinha, onde e quando, ela sentia maior necessidade; ele regressou para, juntos, cearem, bem à portuguesa - batatas, couves e bacalhau - tudo bem regado com o azeite que Marieta ofereceu ao vizinho em dia especial, como reconhecimento do valimento dele na enfermagem que prestava ao marido, a prestimosa ajuda nos serviços e mais não sei quê, mas muito importante para ela.
A refeição foi bem regada e, nessa noite, espevitada pelo espírito do parreirol que, normalmente, a Florinda escondia atrás da caixa do milho para fugir ao controle do marido, ela não arrumou a cozinha, deitou-se e esperou.
Porém, Gervásio ficou a ver TV, uma modernidade no nosso País, mas de cabeça noutro lugar e, quando se certificou que a esposa dormia, a sono solto, foi fazer o giro da noite.
Durante a tarde, à hora da sesta, com os raios solares de pleno verão, a pino, o pastor protegeu os animais na fresquidão do arvoredo e, ao levantar-se uma aragem de vento suão transportava, agradável e intenso, odor:
- Olá, eu conheço este cheiro!
Era o mesmo aroma que ficava no caminho por onde ela passava, peitos emproados e cinta a realçar-lhe as duras nádegas, sintomas da fruta no ponto, à frente do quadrúpede e o Claraboia, seu eleito companheiro de trabalho em cima da carroça, poupando as energias para a ocasião certa. A curiosidade impeliu o pastor a seguir o rasto, deparando-se com mais uma cena daquelas que não deixam dúvida - ante pé recuou até à posição de total visão para não perder nenhum pormenor ao cenário:
-Eles viviam um momento de felicidade!
No local, além do batuque das cigarras para atrair as fêmeas, ouvia-se também o dobrar dos sinos, lá no outro lado do rio:
- Quem será que chegou ao fim da linha?
A resposta dela não se fez esperar:
- Agora, cuidemos de nós!
Mais tarde soube-se que, Jetúlio, pela calada da noite, na bateira da pesca e do moliço, fez a travessia da pateira prevenido com uma naifa e degolou a idosa, Gaspar, dona do cofre que guardava o objeto da sua profissão, ourives:
- O ladrão foi descoberto, julgado e apanhou pena máxima de reclusão!
Nesse tempo era assim:
- O assassino não tinha hipótese de se divertir com a justiça, como fazem os criminosos de hoje, principalmente, os muito ricos e os políticos!
Nós, influenciados pelo que o pai lia nos milenares clássicos gregos, ou nos romanescos do sec. XIX, à lareira, com oito filhos, à volta de crepitante fogueira nos invernosos serões, memorialmente, registávamos tudo o que víamos à nossa volta, prevendo que algo grave estava em curso, provocado pelo ciúme.
A tempo de fazer o almoço, os companheiros do Luís fizeram-lhe uma visita para dividir com ele o resultado da pescaria e quando entraram no quarto para uma visita de cortesia, o enfermo, num estremeção acordou sobressaltado:

(Continua)
A ESCOLA DO IMPROVISO
Setembro chega com a promessa do regresso à normalidade. Os cadernos ainda a branco, os livros cheiram a novo e repete-se o ritual do otimismo: “este ano letivo vai arrancar sem sobressaltos”. Só que a realidade desmente o discurso. Há escolas onde o primeiro dia é uma festa apenas simbólica, porque os professores ainda não chegaram. Outras vivem de substituições constantes, como quem muda de figurino em plena peça de teatro. E há alunos que começam a habituar-se a que aprender em atraso faz parte do calendário.
Torna-se tentador dizer que não há professores porque já ninguém quer trilhar esse caminho, mas essa narrativa esconde a verdadeira questão: não se trata de falta de vocação, trata-se de falta de condições! A carreira perdeu prestígio, os salários não compensam os anos de estudo, e a instabilidade tornou-se regra.
Jovens que poderiam abraçar a missão de ensinar acabam por fugir, não porque rejeitem a escola, mas porque não aceitam viver em permanente incerteza. E o mais curioso é que todos reconhecem a importância da educação. Todos os governos prometem revoluções na escola pública, todos a proclamam como “a prioridade das prioridades”. Mas a realidade é mais modesta e o que vemos são remendos sucessivos, medidas avulsas e um discurso que já não convence.
A escola continua de pé porque os professores não desistem, porque os alunos resistem e porque as famílias acreditam. Mas há limites para este heroísmo coletivo e as consequências não se medem apenas em médias estatísticas ou em relatórios de avaliação. Medem-se na desigualdade real de uns alunos que têm acesso a turmas estáveis e professores experientes, ao passo que outros ficam meses à espera de um rosto que nunca aparece. E, no entanto, continuamos a falar de mérito, como se todos partissem da mesma linha de partida. Não partem! É essa a ilusão perigosa de um sistema que proclama igualdade mas pratica desigualdade.
Sendo a educação o pilar do desenvolvimento, não pode a escola viver eternamente de improviso, e se queremos um país capaz de sonhar mais alto, temos de começar pelo chão da sala de aula, pela dignidade de quem ensina e pela estabilidade de quem aprende.
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OPINIÃO | Carlos Abrantes | A Coreia do Norte é fixe
Quando disse aos meus amigos que ia de férias para a Coreia do Norte a reacção não se fez esperar. Para a Coreia do Norte? Tens a certeza que queres ir para a Coreia do Norte? E ficavam a olhar para mim com aquele ar compadecido de quem acha que eu tinha perdido o tino. Com tantos destinos de sol e mar, com Mediterrâneo e Caraíbas, com Brasil e Tailândia eu escolhera a Coreia do Kim Jong-Un, Mr. Rocket Man!
E foi uma óptima escolha.
Aconselho aos ambientalistas do PAN, tão na moda, e aos amantes das grandes causas politicamente correctas, uma estadia naquele paraíso ambiental. Não sofrerão com os engarrafamentos das grandes metrópoles capitalistas porque em Pyongyang, a capital, praticamente não circulam automóveis, nem camiões, nem autocarros. Emissões de carbono zero, ou quase.
Em contrapartida vê-se muita gente a pé, a caminho do trabalho ou de lado nenhum, promovendo um estilo de vida saudável, sem complicações cardiovasculares ou de diabetes. À excepção do “querido líder”, não vi gordos. Uma vitória do povo norte coreano que, desse modo, pode dispensar a existência de serviço nacional de saúde.
Também o regime alimentar muito frugal, pobre em hidratos de carbono, proteínas, gorduras e açúcares, com consumo de carnes vermelhas zero, é um exemplo para o mundo. Daí que seja seguido de perto pela comunidade científica, nomeadamente pela Universidade de Coimbra que, numa atitude pioneira e esclarecida decretou a proibição do consumo de carne de bovino nas cantinas estudantis.
Há, no entanto, um “mas” que perturbará os nossos amigos do PAN. Os Norte coreanos gostam, e consomem, carne de cão. Em ocasiões especiais, é certo, mas comem cão. Sopa de cão, cão guisado, cão frito, mil maneiras de cozinhar cão... Tal como o PAN eles também gostam de animais. Têm uma forma diferente de gostar, mas que gostam, gostam!
E gostam também dos líderes. Não os comem, porque não podem, mas têm um carinho especial pelos líderes. Erguem-lhes estátuas monumentais. Aos três – ao avô, ao pai e ao filho. Uma democracia, nas palavras de Bernardino Soares, transmissível de pais para filhos.
É tudo em grande! São enormes as estátuas, os cemitérios, os edifícios públicos, as bibliotecas, os museus, ou os estádios. E os espectáculos e as manifestações populares de apoio, ou de pesar. E as auto-estradas, ah as auto-estradas! Com três pistas em cada sentido, viajei a partir de Pyongyang para sul até ao paralelo 38 e para norte até Myohyang. Um espanto! Sem portagens nem congestionamentos, sem aselhas nem chico-espertos. Centenas de quilómetros sem um sobressalto ou um acidente. Havia, é certo, o problema do piso esburacado e das lombas, dos peões e das cabras, das bicicletas e dos controles militares, mas fora isso era maravilhoso.
Que sossego, que segurança.
Não admira que me tenha sentido muito seguro. É fácil quando cumprimos as regras, e as regras eram claras. Podíamos circular livremente dentro do hotel. Fora do perímetro do hotel, que estava estrategicamente implantado numa pequena ilha, teríamos de estar SEMPRE acompanhados pelos nossos guias locais.
A Coreia do Norte é fixe, mas nas minhas próximas férias vou para um país democrático. Para desenjoar!
- CARLOS ABRANTES

Quando a governança vira cartel - Parte V
Mostramos, antes de terminar esta rubrica, as 13 baixas de Ministros e Secretários de Estado deste governo da maioria absoluta do Partido Socialista (PS):
1 - Sara Guerreiro, Secretaria de Estado da Igualdade e Migrações – Baixa em 2-5-2022.
2 - Marta Temido, Ministra da Saúde - Baixa em 30-08-2022.
3 - Fátima Fonseca, Secretária de Estado da Saúde - Baixa em 30-8-2022.
4 - António Lacerda Sales, Secretário de Estado Adjunto e da Saúde - Baixa em 30-8-2022.
5 - Miguel Alves, Secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro - Baixa em 10-11-2022.
6 - Rita Marques, Secretária de Estado do Turismo - Baixa em 29-11-2022.
7 - João Neves, Secretário de Estado Adjunto e da Economia - Baixa em 29-11-2022.
8 - Alexandra Reis, Secretária de Estado do Tesouro - Baixa em 27-12-2022.
9 - Marina Gonçalves, Secretária de Estado da Habitação - Baixa em 29-12-2022.
10 - Pedro Nuno Santos, Ministro das Infraestruturas e da Habitação - Baixa em 29-12-2022.
11 - Hugo Santos Mendes, Secretário de Estado das Infraestruturas - Baixa em 29-12-2022.
12 - Rui Martinho, Secretário de Estado da Agricultura - Baixa em 4-1-2023.
13 - Carla Alves, Secretária de Estado da Agricultura - Baixa em 5-1-2023.
Tinha razão o Costa quando pediu a maioria absoluta.
O Marajá de São Bento nem precisa, sequer, de negociar à esquerda ou à direita para se tornar num autêntico rei-sol. O Estado sou eu!
Economia: Tortec inaugurou primeira fábrica no Parque Empresarial do Casarão
A Tortec - Tornearia e Peças Técnicas, do Grupo Ciclo-Fapril, inaugurou, na passada sexta-feira, dia 4 de Dezembro, as suas novas instalações no Parque Empresarial do Casarão e será a primeira empresa a instalar-se no novo polo industrial do município.
Carla Santos, directora financeira da Ciclo-Fapril, começou por relevar o desempenho do presidente do município, Gil Nadais, e do seu executivo, que, “em bom rigor, foram os impulsionadores por termos aqui edificado as instalações da Tortec”.
“Mais do que o projecto Tortec, há que enaltecer o esforço e a determinação do presidente da Câmara em fazer de Águeda uma cidade de indústria, de academia e de turismo”, salientou Carla Santos.
“Muito nos honra estar a viver este momento histórico de viragem na dinâmica industrial de Águeda, pois com toda a certeza o concelho vai reflectir a criação de valor que as empresas aqui instaladas vão gerar”, observou a directora financeira da Ciclo-Fapril.
Carla Santos considerou que o facto da Tortec ter sido a primeira empresa a edificar no Parque Empresarial do Casarão, resultou em “dificuldades acrescidas”, sublinhando, em particular, o desempenho do administrador Samuel Santos e do sócio Vitor Antunes, e de “todos os que nos ajudaram a realizar este projecto”.
“Aos nossos colegas de trabalho, esperamos que o transtorno da mudança (que será concretizada na segunda quinzena deste mês) seja superado pelo conforto que estas instalações vos venham a proporcionar. Sabemos que estão motivados com o nosso projecto de trabalho e contamos convosco para dar alma a este edifício”, sublinhou Carla Santos.

Dia muito especial
para Gil Nadais
O presidente da Câmara Municipal de Águeda, Gil Nadais, referiu-se a “um dia, muito, muito especial”, considerando que o Parque Empresarial do Casarão foi um projecto “muito sofrido, muito laborioso e só possível graças à colaboração de muitas pessoas”, destacando o trabalho “inexcedível” do aguadense António Figueira, e o desempenho “fundamental” do vereador João Clemente.
O autarca lembrou que “foram adquiridos mais de um milhão de metros quadrados de terrenos” e anunciou que “mais empresas pretendem vir para o Parque Empresarial do Casarão”, pelo que será necessário adquirir mais terrenos.
Gil Nadais anunciou que “o LIDL irá começar a construir, em 2016”, o seu entreposto logístico, e que durante o próximo ano estarão concluídas as estruturas da Triangle´s e da Sakthi (primeiro pavilhão), para relevar um projecto que, disse, “me custou, pessoalmente, alguns comentários mais acintosos”.



Jorge Almeida está esperançado em "derrotar" a Socibeiral no Tribunal
O presidente da Câmara Municipal de Águeda, Jorge Almeida, mostrou-se confiante no diferendo judicial que opõe a autarquia à Socibeiral, relativo à construção de uma central de betão e betuminoso no Parque Empresarial do Casarão (PEC).

O líder do município foi confrontado, na passada segunda-feira, em sede de Assembleia Municipal, pelo líder da bancada do Partido Socialista (PS), José Marques Vidal, que pretendeu saber em que ponto se encontra o processo, que corre, há vários meses, no Tribunal Administrativo e Fiscal de Aveiro.
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Pai Natal gigante de Águeda é candidato a maior do mundo
Um Pai Natal com 21 metros de altura e 250 mil lâmpadas LED de baixo consumo (24 volts), instalado no Largo 1º. de Maio, é a grande atracção da época natalícia, em Águeda.
O município pretende alcançar o reconhecimento pela instalação do “Maior Pai Natal do Mundo em LED's”, assente numa estrutura em alumínio, com altura de sete andares, forrada a tapy.
Para validar e confirmar a obtenção do recorde, será necessária a deslocação a Águeda de um juiz do Guinness World Records, no sentido de verificar todas as características da infraestrutura e de deliberar acerca da atribuição do recorde.
Os custos inerentes a esta candidatura, aprovada ontem (abstenção de Paula Cardoso e voto contra de Miguel Oliveira), dia 1, na reunião do executivo, são de aproximadamente 10.000 euros.
O Pai Natal, sentado numa caixa de presente de 9 por 12 metros, pode ser visitado até ao dia 11 de Janeiro, e a sua instalação obrigou a um investimento de 49.200 euros.
No passado sábado, 28 de Novembro, o presidente do município, Gil Nadais, deu luz às estruturas espalhadas pela cidade que assinalam o Natal, num momento acompanhado por centenas de pessoas.






Samuel Vilela no Conselho Nacional de Juventude
Samuel Vilela, presidente da JSD de Águeda, foi nomeado para a direcção do Conselho Nacional de Juventude (CNJ), assumindo a pasta das Relações Internacionais e a representação nacional junto de instâncias europeias e internacionais.
O CNJ é a plataforma representativa das organizações de juventude a nível nacional, abrangendo as mais diversas expressões do associativismo juvenil (culturais, estudantis, partidárias, ambientais, escutistas, sindicalistas e confessionais).
Samuel Vilela, de 26 anos, encontra-se a frequentar um programa de Doutoramento na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e conta já com uma vasta experiência ao nível associativo e político.
Já presidiu ao Núcleo de Estudantes de Relações Internacionais, foi vice-presidente da Associação Académica de Coimbra e membro do Conselho Geral da Universidade de Coimbra.
James Arthur está confirmado no Agitágueda 2015
O Agitágueda deste ano vai ter lugar de 4 a 26 de Julho, estando já confirmados os concertos dos D.A.M.A. (dia 4 de Julho), Paulo Gonzo (11), Selah Sue (17), Jimmy P (24) e James Arthur (26), cuja contratação foi aprovada na reunião camarária de ontem, dia 7 de Abril. O executivo aprovou, também, a contratação dos serviços de vigilância e segurança, com ajuste directo à empresa Protek, e o regulamento de participação nos Talentos Agitágueda.