ENTREVISTA
ENTREVISTA | Padre Júlio Grangeia
01 de fevereiro de 2018Francisco Júlio Grangeia Pinto, padre Júlio Grangeia, natural de Ílhavo, que foi ordenado presbítero a 29 de Janeiro de 1984 na igreja de Águeda, completando, na passada segunda-feira, 34 anos de sacerdócio, afirma que “este tempo de prova irá fazer surgir uma igreja diferente … mas melhor”.
Como recorda o primeiro dia de sacerdócio?
Recordo a Igreja de Águeda cheia que nem um “ovo”; recordo o “tapete florido” do “Cefas” até à igreja; recordo o meu pai a chorar de emoção – eu que nunca o vira a chorar…; recordo a 1ª. confissão que eu “fiz” sem saber como se “fazia” … e logo a um padre; E recordo, um dia de festa para mim mas também para todo o Arciprestado uma vez que a minha ordenação aconteceu na igreja de Águeda.
Nesta longa caminhada qual o momento mais marcante?
Houve muitos momentos e muito marcantes. Mas não posso esquecer os 20 anos em que leccionei as aulas de EMRC. Sei que fui, para muitos dos meus alunos, uma referência mas eles também sabem o que representam para mim e como eram as nossas “aulas” e a cumplicidade que se criava entre nós, onde não havia tabus”! Talvez por isso, muitos deles, formados e guindados a altos patamares, continuam a tratar-me por “professor”! Sim, continuo a ser “professor” para eles como eles também o foram para mim e comigo! (…)
Houve também momentos difíceis, sim. Lembro, por exemplo, o domingo a seguir ao grande incêndio na Castanheira do Vouga – onde eu era pároco - na fatídica noite de 13 para 14 de Junho de 1986 - no qual morreram 13 bombeiros e três civis. Como esquecer a Missa desse domingo, na igreja matriz da Castanheira do Vouga, que mais parecia um velório colectivo com uma igreja cheia de pessoas com os olhos rasos de lágrimas!? Essa imagem fica para sempre!
Quais foram as paróquias por onde passou?
Comecei em Águeda, como vigário Paroquial (de 1983 até 1988) onde fui, também, e simultaneamente, pároco de Castanheira do Vouga. A partir de 1988 fui nomeado pároco de Travassô e de Óis da Ribeira e desde o ano 2000 passei a ser também pároco de Espinhel, conjuntamente com Travassô e Ois da Ribeira. Não esqueço as escolas onde leccionei que para mim foram também como uma paróquia.
Como se sente nas suas paróquias?
Há momentos bons e menos bons como acontece com toda a gente, e também com o padre que também erra; Claro que há ocasiões em que experimentamos a ingratidão de uns poucos (quem é que, ainda, não a experimentou?) mas também damos graças a Deus por encontrar tanta gente boa que Deus vai colocando no nosso caminho e que são para nós mais determinantes que um ou outro caso mais pontual e menos positivo.
Um pároco muito ligado às novas tecnologias, o que realça de benéfico e de mau?
Tenho procurado tirar partido das tecnologias como instrumentos de evangelização. Por isso procuro divulgar para esta enorme “aldeia global” o que vou fazendo, até porque “o que não é visto não é lembrado”! De há dois anos para cá tenho investido na transmissão em directo das celebrações – nomeadamente ao sábado- e penso que é uma boa aposta! As missas, durante o directo, chegam ter mais de 2000 mil visualizações e chegam mesmo às 4 mil visualizações durante o resto da semana. A Missa dos Santos Mártires deste ano, por exemplo, já tem perto de 8 mil visualizações. É óbvio que nem todos os que visualizaram a missa a terão visto do princípio ao fim. Mas mesmo que alguns só vejam um bocado, já não valerá a pena? Penso que sim! Em qualquer uma destas transmissões tenho mais gente a ver do que nas três Paróquias juntas. E não só a ver! Alguns, enquanto visualizam e escutam, chegam, mesmo a escrever a resposta que se dá ao celebrante, como se estivessem realmente na igreja!
Claro que a missa não é para ser “visualizada” mas para ser participada “ao vivo e a cores”, na própria igreja, para quem pode! Mas e aqueles que não podem ir por motivos de força maior? E quem está no estrangeiro e quer matar saudades? E os que estão doentes?
Temos que olhar para estas situações! E há coisas muito bonitas, como aquele ministro extraordinário da comunhão em São Paulo, no Brasil, que leva a comunhão aos idosos e aos doentes nos hospitais e que assiste à missa em directo de Travassô, aos sábados, às 17 horas (ou às 18.15h a partir de Espinhel) e que, ao chegar o momento da comunhão é também, essa, a altura em que ele dá a comunhão aos seus doentes e/ou idosos. Disse-me ele que, por vezes, são mais de uma dúzia que estão a acompanhar a Missa “com o sotaque de Portugal” projectada por um projector acoplado a um portátil com ligação à internet pelo qual assistem à missa em directo de Portugal.
Claro que as “novas” tecnologias podem fazer muito bem, mas também muito mal. Depende do uso que nós lhe queiramos dar. A Internet reflecte o nosso mundo e o que somos. Se não estivermos lá a fazer o que achamos que deve ser feito, outros poderão estar a fazer o que não queremos. Temos, por isso, que fazer a nossa parte. Eu, por mim, transmito as eucaristias para que estas possam ser vistas por mais gente para chegarmos mais longe e a mais pessoas!
“Ide por todo o mundo e anunciai o evangelho …” (Marcos 16:15) – disse Jesus. Hoje não é preciso ir por todo o mundo anunciar o evangelho é todo o mundo que vem ter connosco, desde que estejamos, por exemplo no “facebook”, colocando “gostos” e partilhando aquilo que consideramos útil e positivo para chegar a mais pessoas. Não será isto, também, uma forma de dar testemunho da nossa fé?
Como o Papa Francisco tanto gosta de dizer, temos que nos voltar para quem se encontra nas periferias. Não será esta uma forma de colocar a Igreja em saída? Não tenho quaisquer dúvidas a esse respeito.
Como vê os jovens de hoje na sua relação com a igreja, família, comunidade e escola?
Responder a isto daria um tratado pois eles são, também, tal como nós muito fruto das suas circunstâncias! Mas, eu diria, que os jovens são o “termómetro” do nosso mundo. Observando o que nos dizem e como se manifestam nos diversos âmbitos damos conta do que esteve bem ou mal para trás! E é aí, a montante, que temos que investir, nomeadamente nos pais e/ou encarregados de educação; são mesmo eles que são a “charneira”; a “pedra de toque”!
Pais que educam e que procuram saber como educar, que sabem dizer sim quando é sim e não quando é não, explicando o que se faz e porque se faz. É a partir daí, e da sua responsabilização, é assim que se formam os Homens e as Mulheres do “amanhã”.
Que futuro prevê para os cristãos?
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Como recorda o primeiro dia de sacerdócio?
Recordo a Igreja de Águeda cheia que nem um “ovo”; recordo o “tapete florido” do “Cefas” até à igreja; recordo o meu pai a chorar de emoção – eu que nunca o vira a chorar…; recordo a 1ª. confissão que eu “fiz” sem saber como se “fazia” … e logo a um padre; E recordo, um dia de festa para mim mas também para todo o Arciprestado uma vez que a minha ordenação aconteceu na igreja de Águeda.
Nesta longa caminhada qual o momento mais marcante?
Houve muitos momentos e muito marcantes. Mas não posso esquecer os 20 anos em que leccionei as aulas de EMRC. Sei que fui, para muitos dos meus alunos, uma referência mas eles também sabem o que representam para mim e como eram as nossas “aulas” e a cumplicidade que se criava entre nós, onde não havia tabus”! Talvez por isso, muitos deles, formados e guindados a altos patamares, continuam a tratar-me por “professor”! Sim, continuo a ser “professor” para eles como eles também o foram para mim e comigo! (…)
Houve também momentos difíceis, sim. Lembro, por exemplo, o domingo a seguir ao grande incêndio na Castanheira do Vouga – onde eu era pároco - na fatídica noite de 13 para 14 de Junho de 1986 - no qual morreram 13 bombeiros e três civis. Como esquecer a Missa desse domingo, na igreja matriz da Castanheira do Vouga, que mais parecia um velório colectivo com uma igreja cheia de pessoas com os olhos rasos de lágrimas!? Essa imagem fica para sempre!
Quais foram as paróquias por onde passou?
Comecei em Águeda, como vigário Paroquial (de 1983 até 1988) onde fui, também, e simultaneamente, pároco de Castanheira do Vouga. A partir de 1988 fui nomeado pároco de Travassô e de Óis da Ribeira e desde o ano 2000 passei a ser também pároco de Espinhel, conjuntamente com Travassô e Ois da Ribeira. Não esqueço as escolas onde leccionei que para mim foram também como uma paróquia.
Como se sente nas suas paróquias?
Há momentos bons e menos bons como acontece com toda a gente, e também com o padre que também erra; Claro que há ocasiões em que experimentamos a ingratidão de uns poucos (quem é que, ainda, não a experimentou?) mas também damos graças a Deus por encontrar tanta gente boa que Deus vai colocando no nosso caminho e que são para nós mais determinantes que um ou outro caso mais pontual e menos positivo.
Um pároco muito ligado às novas tecnologias, o que realça de benéfico e de mau?
Tenho procurado tirar partido das tecnologias como instrumentos de evangelização. Por isso procuro divulgar para esta enorme “aldeia global” o que vou fazendo, até porque “o que não é visto não é lembrado”! De há dois anos para cá tenho investido na transmissão em directo das celebrações – nomeadamente ao sábado- e penso que é uma boa aposta! As missas, durante o directo, chegam ter mais de 2000 mil visualizações e chegam mesmo às 4 mil visualizações durante o resto da semana. A Missa dos Santos Mártires deste ano, por exemplo, já tem perto de 8 mil visualizações. É óbvio que nem todos os que visualizaram a missa a terão visto do princípio ao fim. Mas mesmo que alguns só vejam um bocado, já não valerá a pena? Penso que sim! Em qualquer uma destas transmissões tenho mais gente a ver do que nas três Paróquias juntas. E não só a ver! Alguns, enquanto visualizam e escutam, chegam, mesmo a escrever a resposta que se dá ao celebrante, como se estivessem realmente na igreja!
Claro que a missa não é para ser “visualizada” mas para ser participada “ao vivo e a cores”, na própria igreja, para quem pode! Mas e aqueles que não podem ir por motivos de força maior? E quem está no estrangeiro e quer matar saudades? E os que estão doentes?
Temos que olhar para estas situações! E há coisas muito bonitas, como aquele ministro extraordinário da comunhão em São Paulo, no Brasil, que leva a comunhão aos idosos e aos doentes nos hospitais e que assiste à missa em directo de Travassô, aos sábados, às 17 horas (ou às 18.15h a partir de Espinhel) e que, ao chegar o momento da comunhão é também, essa, a altura em que ele dá a comunhão aos seus doentes e/ou idosos. Disse-me ele que, por vezes, são mais de uma dúzia que estão a acompanhar a Missa “com o sotaque de Portugal” projectada por um projector acoplado a um portátil com ligação à internet pelo qual assistem à missa em directo de Portugal.
Claro que as “novas” tecnologias podem fazer muito bem, mas também muito mal. Depende do uso que nós lhe queiramos dar. A Internet reflecte o nosso mundo e o que somos. Se não estivermos lá a fazer o que achamos que deve ser feito, outros poderão estar a fazer o que não queremos. Temos, por isso, que fazer a nossa parte. Eu, por mim, transmito as eucaristias para que estas possam ser vistas por mais gente para chegarmos mais longe e a mais pessoas!
“Ide por todo o mundo e anunciai o evangelho …” (Marcos 16:15) – disse Jesus. Hoje não é preciso ir por todo o mundo anunciar o evangelho é todo o mundo que vem ter connosco, desde que estejamos, por exemplo no “facebook”, colocando “gostos” e partilhando aquilo que consideramos útil e positivo para chegar a mais pessoas. Não será isto, também, uma forma de dar testemunho da nossa fé?
Como o Papa Francisco tanto gosta de dizer, temos que nos voltar para quem se encontra nas periferias. Não será esta uma forma de colocar a Igreja em saída? Não tenho quaisquer dúvidas a esse respeito.
Como vê os jovens de hoje na sua relação com a igreja, família, comunidade e escola?
Responder a isto daria um tratado pois eles são, também, tal como nós muito fruto das suas circunstâncias! Mas, eu diria, que os jovens são o “termómetro” do nosso mundo. Observando o que nos dizem e como se manifestam nos diversos âmbitos damos conta do que esteve bem ou mal para trás! E é aí, a montante, que temos que investir, nomeadamente nos pais e/ou encarregados de educação; são mesmo eles que são a “charneira”; a “pedra de toque”!
Pais que educam e que procuram saber como educar, que sabem dizer sim quando é sim e não quando é não, explicando o que se faz e porque se faz. É a partir daí, e da sua responsabilização, é assim que se formam os Homens e as Mulheres do “amanhã”.
Que futuro prevê para os cristãos?
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