Estratégia: José Neves
ESTRATÉGIA | José Neves dos Santos | Companhia de Caçadores n.º 2730
26 de março de 2018Companhia de Caçadores n.º 2730
(Mueda-Moçambique-Junho de 1970 a Junho de 1972)
“Em Mueda, substituímos a Companhia de de Caçadores n.º 2451 que rodou para Namapa, ficando encarregada de todas as missões que antes lhe competiam.Na 1.ª semana, desenvolvemos algumas operações de segurança a picadas que irradiam daqui, sem problemas. Finalmente, a 2 de julho de 1970, a companhia com quase todo o seu efectivo, iniciou a sua intervenção na grande operação “NÓ GÓRDIO”, cujo objectivo era conquistar e destruir várias bases importantes do IN (inimigo), abrir picadas tácticas até ao mais próximo possível dessas bases, destruir meios de vida do IN e fazer um anel exterior impedindo a sua fuga. A missão da Companhia era manter a segurança num dos itinerários abertos, até próximo da ex-base GUNGUNHANA, garantindo a liberdade de movimentos nessa picada, patrulhando incessantemente e emboscando os trilhos de acesso. Em viaturas seguimos até ao ponto inicial da abertura da picada nova, entre os postos de água 14 e 15, deslocando-se sempre na cauda da coluna que tomava parte na operação, patrulhando nos dois sentidos a picada que se ia abrindo, até que no dia 7 atingimos o estacionamento final aberto pela engenharia. Neste dia, o 3.º grupo de combate foi emboscado cerca das 18h, ao mesmo tempo que a quarta viatura da patrulha, um Unimog, accionou uma mina anti-carro, ficando feridos três soldados, um dos quais em estado grave. Houve certa desorientação do pessoal, pois além de ser a 1.ª vez que tomou contacto directo com o perigo, também a evacuação dos feridos só se realizou na manhã seguinte. No dia 10, apresentou-se na picada uma mulher que depois de trazida para a base de patrulhas, foi evacuada para Mueda, devido ao seu estado de saúde e fraqueza. No dia 20, o 1.º grupo de combate accionou com o rebenta minas uma mina anti-carro, tendo-se registado quatro soldados feridos. No dia 2 de Agosto, novamente, uma mina anti-carro provoca dois feridos. No dia 3, efectuou-se o regresso do agrupamento a Mueda, tendo sido a nossa Companhia encarregada da sua protecção. Foram detectadas e rebentadas pelas NT (nossas tropas) seis minas A/C (anti-carro) duas das quais reforçadas com minas A/P(anti-pessoal).Um soldado portador de um detector de minas teve morte imediata nessa operação. Apesar da desorientação do nosso pessoal pela morte do camarada, prosseguimos o regresso para Mueda, tendo ainda detectado mais quatro minas. Finda a operação NÓ GÓRDIO, a Companhia regressou ao seu papel de quadrícula em Mueda”.
(excerto da História da Unidade, pág. 1 Cap. II, da C, Caçadores 2730 e relativo à sua permanência no norte de Moçambique).
“Para Angola, rapidamente e em força”, determinava Salazar, em discurso ao país, a 13 de abril de 1961, dando início àquela que seria uma cruzada militar obrigatória, para sucessivas gerações, destinada a travar a acção dos movimentos de libertação e proteger e preservar o império colonial português.
Estacionada numa zona militar de Moçambique (Mueda), considerada particularmente difícil- no fim da missão de dois anos registou onze mortos e 66 feridos- esta Companhia teve nas suas fileiras filhos de Águeda, à semelhança de tantas outras unidades militares.
Talvez não se saiba quantos aguedenses morreram durante a guerra colonial e o número dos que ficaram marcados para a sua vida futura.
Mas em véspera de se comemorar o 44º aniversário do 25 de abril, seria de inteira Justiça , seguindo o exemplo um pouco por todo o país, que se homenageassem com uma placa, um discurso ou um gesto, os militares nossos conterrâneos que perderam a vida no chamado Ultramar Português.
Porque nem só os que desertam da guerra poderão ser, no juizo da História, os únicos merecedores dessa memória e reconhecimento.
Não concordas, Beatriz? JNS
(Mueda-Moçambique-Junho de 1970 a Junho de 1972)
“Em Mueda, substituímos a Companhia de de Caçadores n.º 2451 que rodou para Namapa, ficando encarregada de todas as missões que antes lhe competiam.Na 1.ª semana, desenvolvemos algumas operações de segurança a picadas que irradiam daqui, sem problemas. Finalmente, a 2 de julho de 1970, a companhia com quase todo o seu efectivo, iniciou a sua intervenção na grande operação “NÓ GÓRDIO”, cujo objectivo era conquistar e destruir várias bases importantes do IN (inimigo), abrir picadas tácticas até ao mais próximo possível dessas bases, destruir meios de vida do IN e fazer um anel exterior impedindo a sua fuga. A missão da Companhia era manter a segurança num dos itinerários abertos, até próximo da ex-base GUNGUNHANA, garantindo a liberdade de movimentos nessa picada, patrulhando incessantemente e emboscando os trilhos de acesso. Em viaturas seguimos até ao ponto inicial da abertura da picada nova, entre os postos de água 14 e 15, deslocando-se sempre na cauda da coluna que tomava parte na operação, patrulhando nos dois sentidos a picada que se ia abrindo, até que no dia 7 atingimos o estacionamento final aberto pela engenharia. Neste dia, o 3.º grupo de combate foi emboscado cerca das 18h, ao mesmo tempo que a quarta viatura da patrulha, um Unimog, accionou uma mina anti-carro, ficando feridos três soldados, um dos quais em estado grave. Houve certa desorientação do pessoal, pois além de ser a 1.ª vez que tomou contacto directo com o perigo, também a evacuação dos feridos só se realizou na manhã seguinte. No dia 10, apresentou-se na picada uma mulher que depois de trazida para a base de patrulhas, foi evacuada para Mueda, devido ao seu estado de saúde e fraqueza. No dia 20, o 1.º grupo de combate accionou com o rebenta minas uma mina anti-carro, tendo-se registado quatro soldados feridos. No dia 2 de Agosto, novamente, uma mina anti-carro provoca dois feridos. No dia 3, efectuou-se o regresso do agrupamento a Mueda, tendo sido a nossa Companhia encarregada da sua protecção. Foram detectadas e rebentadas pelas NT (nossas tropas) seis minas A/C (anti-carro) duas das quais reforçadas com minas A/P(anti-pessoal).Um soldado portador de um detector de minas teve morte imediata nessa operação. Apesar da desorientação do nosso pessoal pela morte do camarada, prosseguimos o regresso para Mueda, tendo ainda detectado mais quatro minas. Finda a operação NÓ GÓRDIO, a Companhia regressou ao seu papel de quadrícula em Mueda”.
(excerto da História da Unidade, pág. 1 Cap. II, da C, Caçadores 2730 e relativo à sua permanência no norte de Moçambique).
“Para Angola, rapidamente e em força”, determinava Salazar, em discurso ao país, a 13 de abril de 1961, dando início àquela que seria uma cruzada militar obrigatória, para sucessivas gerações, destinada a travar a acção dos movimentos de libertação e proteger e preservar o império colonial português.
Estacionada numa zona militar de Moçambique (Mueda), considerada particularmente difícil- no fim da missão de dois anos registou onze mortos e 66 feridos- esta Companhia teve nas suas fileiras filhos de Águeda, à semelhança de tantas outras unidades militares.
Talvez não se saiba quantos aguedenses morreram durante a guerra colonial e o número dos que ficaram marcados para a sua vida futura.
Mas em véspera de se comemorar o 44º aniversário do 25 de abril, seria de inteira Justiça , seguindo o exemplo um pouco por todo o país, que se homenageassem com uma placa, um discurso ou um gesto, os militares nossos conterrâneos que perderam a vida no chamado Ultramar Português.
Porque nem só os que desertam da guerra poderão ser, no juizo da História, os únicos merecedores dessa memória e reconhecimento.
Não concordas, Beatriz? JNS

