Danças Ocultas? “Não é apenas uma parceria musical, é uma história de vida partilhada”
04 de junho de 2025Com dois concertos já marcados para novembro - um no Teatro São Luiz em Lisboa, outro na Casa da Música no Porto -, a apresentação do álbum, recentemente lançado, do Danças Ocultas vai chegar ao público ao vivo. INSPIRAR cria “tempo, luz e respiração”. Artur Fernandes (AF), um dos quatro Aguedenses que fundaram e perduram desde 1989 no quarteto, desvenda o que esteve por trás da criação, o processo criativo e a finalidade das propostas do grupo: “É uma música feita para ser sentida com o corpo, a imaginação e a memória, onde cada escuta pode abrir uma porta diferente”
SP - O título INSPIRAR é forte e simbólico. O que representa para o Danças Ocultas este verbo — respirar, criar espaço, dar vida?
AF - Para nós, este título tem três leituras. INSPIRAR no sentido de criar, portanto uma criação para dentro, marcando uma viragem estratégica na carreira artística do grupo: após três álbuns com diversos convidados que podemos definir como que a “respirar para fora” (“Arco”, “Amplitude” e “Dentro Desse Mar”) neste INSPIRAR dá-se o recentramento na cumplicidade que caracteriza o quarteto. Uma segunda leitura é INSPIRAR para ganhar fôlego, ao acrescentar novo repertório ao alinhamento musical para os concertos, como forma de incrementar a carreira artística. Por fim, INSPIRAR para partilhar, assumindo a generosidade no sentido da partilha da música e do que ela possa inspirar a quem a ouve.
SP - É referido que neste álbum procuraram criar “tempo, luz e respiração”. Como se traduz isso em termos musicais?
AF - Quando falamos em “tempo”, referimo-nos sobretudo à forma como este disco nasceu — com calma, deixando que a música amadurecesse sem pressa. Houve um cuidado em permitir que as ideias ganhassem corpo lentamente, respeitando o seu próprio ritmo, como se o tempo fosse também um dos compositores do disco. A “luz” traduz-se numa escolha tímbrica: optámos por explorar mais os registos agudos, que trazem brilho e uma certa transparência ao som. Este deslocamento do centro de gravidade melódico para zonas mais luminosas abriu um novo espaço expressivo no nosso universo sonoro. E a “respiração” manifesta-se nos silêncios que deixamos entre as frases, sobretudo nos seus finais. Há uma intenção deliberada de abrir espaço dentro do discurso musical, permitindo que cada gesto tenha tempo para ressoar e desaparecer. Essa leveza e esse arejamento foram essenciais para o carácter contemplativo de INSPIRAR.
Leia o artigo completo na edição n.º 9382 de Soberania do Povo

