Rui Zink. .. Paz na Terra
DOR DE ALMA
29 de novembro de 2023É uma dor de alma com três anos, mas dor de alma à mesma. A história da menina encontrada já sem vida, após as buscas com o auxílio da população, em Atouguia da Baleia, Peniche.
E como, por mais trágico que seja, um evento lembra sempre outro, real ou verdadeiro, este lembra-me o momento mais triste do filme 'Os Dias da Rádio' de Woody Allen, que também tem uns anitos, pois é de 1987.
Já agora, uma das críticas que faço a Woody foi nunca ter conseguido equilibrar comédia louca com melodrama num só filme. Ele fá-lo, e bem, mas em filmes apartados.
Em 'Os Dias da Rádio', o narrador recorda o acontecimento também real de uma criança caída a um poço, e de como durante horas o país esteve suspenso do esforço de salvamento. Tragédias várias aconteciam mundo fora, mas naquele dia só aquela contava. Naquele dia, só aquela redimiria as pessoas.
Era como se tivessem esquecido os problemas pessoais e, caso aquela criança fosse salva, todos fôssemos salvos. Seria a prova de que algo para além de nós existia.
A criança no filme não foi salva. E foi um desalento na família, no bairro, nacidade. Uma perda individual (para os pais) tornada perda coletiva.
'Dor de alma' é uma expressão feita. A maior parte das vezes, um cliché. É também uma expressão bastante precisa. Não conheço expressão melhor para expressar uma dor de alma.
A história da menina encontrada já sem vida em Atouguia da Baleia, Peniche, não teve esse efeito sobre a psique portuguesa. E pergunto-me porquê. Desde logo, porque já não estamos nos dias da rádio. Nem sequer nos da televisão. Os tempos são outros, andamos fragmentados, cada um colado ao seu miniecrã, os miúdos já nascem com fones nos ouvidos. E não escutamos todos a mesma fonte de notícias. Além de que somos bombardeados com tragédias segundo sim, segundo sim. E o coração, tal como as ambulâncias, não pode ir a todas.
E isso, e o não saber o que fazer com isso, o que fazer a isso, o que fazer contra isso, causa uma dor de alma.
E como, por mais trágico que seja, um evento lembra sempre outro, real ou verdadeiro, este lembra-me o momento mais triste do filme 'Os Dias da Rádio' de Woody Allen, que também tem uns anitos, pois é de 1987.
Já agora, uma das críticas que faço a Woody foi nunca ter conseguido equilibrar comédia louca com melodrama num só filme. Ele fá-lo, e bem, mas em filmes apartados.
Em 'Os Dias da Rádio', o narrador recorda o acontecimento também real de uma criança caída a um poço, e de como durante horas o país esteve suspenso do esforço de salvamento. Tragédias várias aconteciam mundo fora, mas naquele dia só aquela contava. Naquele dia, só aquela redimiria as pessoas.
Era como se tivessem esquecido os problemas pessoais e, caso aquela criança fosse salva, todos fôssemos salvos. Seria a prova de que algo para além de nós existia.
A criança no filme não foi salva. E foi um desalento na família, no bairro, nacidade. Uma perda individual (para os pais) tornada perda coletiva.
'Dor de alma' é uma expressão feita. A maior parte das vezes, um cliché. É também uma expressão bastante precisa. Não conheço expressão melhor para expressar uma dor de alma.
A história da menina encontrada já sem vida em Atouguia da Baleia, Peniche, não teve esse efeito sobre a psique portuguesa. E pergunto-me porquê. Desde logo, porque já não estamos nos dias da rádio. Nem sequer nos da televisão. Os tempos são outros, andamos fragmentados, cada um colado ao seu miniecrã, os miúdos já nascem com fones nos ouvidos. E não escutamos todos a mesma fonte de notícias. Além de que somos bombardeados com tragédias segundo sim, segundo sim. E o coração, tal como as ambulâncias, não pode ir a todas.
E isso, e o não saber o que fazer com isso, o que fazer a isso, o que fazer contra isso, causa uma dor de alma.

