Augusto Semedo .. editorial
O PODER, AS MAIORIAS REFORÇADAS E AS LIÇÕES DA HISTÓRIA
22 de outubro de 2025As eleições autárquicas em Águeda deixaram marcas políticas profundas. A dimensão da vitória da coligação Juntos por Águeda (PSD/MPT) reforça o poder de Jorge Almeida e redefine o xadrez político local — obrigando todos os partidos, dentro e fora do executivo, a repensar a sua organização, a forma de fazer política e o papel que querem desempenhar no concelho.
A nova maioria absoluta é larga, homogénea e estável. Mas também exigente. A história recente da democracia local ensina que as maiorias reforçadas não são sinónimo de poder duradouro. Em 2013, Gil Nadais obteve uma das mais expressivas vitórias do PS e, quatro anos depois, o poder passou para o movimento Juntos, liderado precisamente pelo seu vice-presidente Jorge Almeida. Situação semelhante sucedera em 2001, quando Castro Azevedo ampliou a maioria do PSD — primeira absoluta em três décadas de poder municipal do partido -, resultando na perda da Câmara para o PS do ex-social democrata Nadais em 2005.
A política local tem memória curta mas padrões longos: quando o poder se torna excessivamente concentrado, o desgaste interno e as feridas mal saradas abrem caminho à mudança. Foi assim das duas vezes que a força maioritária chegou aos 5 vereadores em 7 no executivo municipal - desfecho que se repetiu novamente neste 12 de outubro.
O PS vive ainda hoje as consequências da forma como geriu o processo de sucessão de Gil Nadais — um erro que abriu espaço à afirmação das pessoas e à erosão dos partidos. O PSD, por sua vez, vira a sua base fraturar-se em 2005, fruto de divisões internas e da incapacidade de renovar lideranças, perdendo mais de 20 por cento do seu eleitorado durante os 16 anos em que esteve na oposição.
A história pode repetir-se com outros protagonistas mas a mesma vulnerabilidade: em Águeda, o poder raramente cai pela força da oposição — cai pelo cansaço e erros internos.
Hoje, ao contrário das eleições do séc. XX, o poder municipal depende mais das figuras políticas do que das estruturas partidárias. Jorge Almeida e Edson Santos são exemplos claros dessa centralidade das pessoas. O PSD de hoje é tão dependente das personagens como o PS foi na era Gil Nadais com a sua equipa. E isso, por mais que se negue, é incontornável.
O resultado eleitoral coloca ainda uma incógnita no tabuleiro: o Chega, que apesar de não ter eleito vereador, duplicou votos e estreia-se na Assembleia Municipal com dois membros. Ninguém sabe se será apenas ruído ou se ganhará enraizamento, mas a sua presença vai testar o tom, já de si tóxico, do debate político local.
Para todos os partidos estes quatro anos serão decisivos. O desafio não é apenas sobreviver, é redefinir o espaço político local.
Partidos que têm tido presença regular nas autarquias — PS e CDS-PP — precisam de repensar a sua organização interna, ler os resultados com serenidade e reconstruir a ligação à comunidade de forma contínua e consistente, e não apenas a seis meses das eleições.
O mesmo se aplica à esquerda tradicional — BE e PCP (na versão CDU) — que, eleição após eleição, vêem a sua base eleitoral definhar até à quase irrelevância.
Quanto ao PSD e à designada coligação Juntos por Águeda - o MPT, não tendo qualquer expressão neste concelho, é um artifício -, há dois desafios centrais para este novo ciclo:
- primeiro, não defraudar as expectativas de quem legitimou esta maioria e cumprir as promessas e as obras que sustentaram a campanha e o mandato anterior;
- segundo, gerir o processo de sucessão de Jorge Almeida com bom senso, prudência e capacidade de conciliar ambições.
Este último será, inevitavelmente, o teste mais difícil: conciliar desejos e controlar vontades, num tempo em que o poder se pode transformar, facilmente, na sua própria perda. Veremos se a História se repete.
A nova maioria absoluta é larga, homogénea e estável. Mas também exigente. A história recente da democracia local ensina que as maiorias reforçadas não são sinónimo de poder duradouro. Em 2013, Gil Nadais obteve uma das mais expressivas vitórias do PS e, quatro anos depois, o poder passou para o movimento Juntos, liderado precisamente pelo seu vice-presidente Jorge Almeida. Situação semelhante sucedera em 2001, quando Castro Azevedo ampliou a maioria do PSD — primeira absoluta em três décadas de poder municipal do partido -, resultando na perda da Câmara para o PS do ex-social democrata Nadais em 2005.
A política local tem memória curta mas padrões longos: quando o poder se torna excessivamente concentrado, o desgaste interno e as feridas mal saradas abrem caminho à mudança. Foi assim das duas vezes que a força maioritária chegou aos 5 vereadores em 7 no executivo municipal - desfecho que se repetiu novamente neste 12 de outubro.
O PS vive ainda hoje as consequências da forma como geriu o processo de sucessão de Gil Nadais — um erro que abriu espaço à afirmação das pessoas e à erosão dos partidos. O PSD, por sua vez, vira a sua base fraturar-se em 2005, fruto de divisões internas e da incapacidade de renovar lideranças, perdendo mais de 20 por cento do seu eleitorado durante os 16 anos em que esteve na oposição.
A história pode repetir-se com outros protagonistas mas a mesma vulnerabilidade: em Águeda, o poder raramente cai pela força da oposição — cai pelo cansaço e erros internos.
Hoje, ao contrário das eleições do séc. XX, o poder municipal depende mais das figuras políticas do que das estruturas partidárias. Jorge Almeida e Edson Santos são exemplos claros dessa centralidade das pessoas. O PSD de hoje é tão dependente das personagens como o PS foi na era Gil Nadais com a sua equipa. E isso, por mais que se negue, é incontornável.
O resultado eleitoral coloca ainda uma incógnita no tabuleiro: o Chega, que apesar de não ter eleito vereador, duplicou votos e estreia-se na Assembleia Municipal com dois membros. Ninguém sabe se será apenas ruído ou se ganhará enraizamento, mas a sua presença vai testar o tom, já de si tóxico, do debate político local.
Para todos os partidos estes quatro anos serão decisivos. O desafio não é apenas sobreviver, é redefinir o espaço político local.
Partidos que têm tido presença regular nas autarquias — PS e CDS-PP — precisam de repensar a sua organização interna, ler os resultados com serenidade e reconstruir a ligação à comunidade de forma contínua e consistente, e não apenas a seis meses das eleições.
O mesmo se aplica à esquerda tradicional — BE e PCP (na versão CDU) — que, eleição após eleição, vêem a sua base eleitoral definhar até à quase irrelevância.
Quanto ao PSD e à designada coligação Juntos por Águeda - o MPT, não tendo qualquer expressão neste concelho, é um artifício -, há dois desafios centrais para este novo ciclo:
- primeiro, não defraudar as expectativas de quem legitimou esta maioria e cumprir as promessas e as obras que sustentaram a campanha e o mandato anterior;
- segundo, gerir o processo de sucessão de Jorge Almeida com bom senso, prudência e capacidade de conciliar ambições.
Este último será, inevitavelmente, o teste mais difícil: conciliar desejos e controlar vontades, num tempo em que o poder se pode transformar, facilmente, na sua própria perda. Veremos se a História se repete.

