António Almeida da Silva .. entrelinhas
POR QUEM OS SINOS DOBRAM (PARTE 8)
01 de outubro de 2025Uma ceia bem regada despertou em Florinda desejos desde há muito, por satisfazer e, também naquele dia não passaram de ilusão porque o marido priorizou outros interesses e ela adormeceu, acordando só ao romper da aurora com outras necessidades, fisiológicas, obrigando-a ir ao WC e percebeu que, na cama, o lugar do marido estava vazio e frio, sinal claro de que, ao lado dela, ele não se deitou:
-Por onde andará o meu marido?
-Procurou-o por toda a casa e foi encontrá-lo, enroscado na despensa de arrumos, a ressonar; pensou que ele se tivesse excedido na bebida e deixou-o dormir, ficando alguns minutos, ao lusco-fusco da candeia, a contemplar-lhe o meio desnudado corpo; depois foi ver o despontar da matutina aurora a desenhar, no horizonte, a silhueta dos montes serranos com raios solares entre os penhascos em direção ao céu, antes de desceram à terra.
Ainda em camisa de dormir, Florinda, espreitou o trabalho da véspera, vendo que, durante a noite, alguém andou a calcar a horta - pegadas bem visíveis ficaram impressas na terra fresca; pareceu-lhe já ter visto aquelas marcas no chão da cozinha e comparou-as com as suas galochas:
- As gravações do rasto eram diferentes e também eram muito mais pequenas, lembrando-se, ir buscar as botas do marido!
Ao pousá-las na moldura da terra, para além de, o desenho do rasto ser o mesmo, assentaram como uma luva; não há dúvida, foi ele que andou por aqui!
Esclarecida, preparava-se para abandonar o local quando reparou que as pegadas estavam debaixo da latada na direção do quintal da vizinha:
-Espera aí! Há mais pegadas e, seguindo-as, destrinçou entre as que vão e as que vêm, percebendo que as de regresso eram mais recentes:
Por isso é que eu acordei sozinha e com a cama fria; não há dúvida, eles são amantes e seguiu o rasto até ao cabanal da eira onde encontrou peças de roupa interior que ela bem conhecia!
No regresso, sentindo o peso da traição e desvantagem dela com a rival, mulher modernizada e aparatosa, murcharam os agapantos no seu íntimo jardim:
-Eu vou matá-lo enquanto ele dorme!
Olhou-o, e quando ia desferir o golpe, teve compaixão; baixou o braço e colocou, a seu lado, as roupas que trouxe do cabanal da eira!
Gervásio acordou tarde e arrelampado. A noite foi longa, mas o descanso foi pouco.
Ao acordar viu a seu lado, na enxerga onde dormiu, o facalhão de matar o porco:
-Que é isto, algum aviso, gritou?!
Como ninguém lhe respondeu, atirou a faca para longe e começou a vestir a roupa interior, impregnada com o cheiro da vizinha.
Ao calçar as botas, só encontrou uma e, ao procurar a outra, encontrou um corpo estendido, ainda quente; a seu lado, a bota que procurava e, um frasco vazio:
- Esfregou os olhos, arrumou a faca e chamou a autoridade da terra, o regedor!
Ao terceiro dia a aldeia vestiu-se de negro par entregar, à terra fria, o corpo de Florinda, uma esposa que, desesperada, fez o mata-bicho com veneno dos escaravelhos!
Enquanto o Luís recebia os companheiros de pesca e Marieta preparava uma açorda de coentros para acompanhar a fritada de peixe, na esperança que o marido partilhasse, os sinos, insistentemente, dobravam e o enfermo perguntou:
-Por quem os sinos dobram?
-Pela Florinda, mulher do teu enfermeiro!
Sem comentário, mas adivinhando o futuro, tirou os comprimidos escondidos debaixo da travesseira e engoliu-os de uma só vez:
- Nunca perguntes por quem os sinos dobram porque eles dobram por todos nós, também por ti, sic.! (fim)
-Por onde andará o meu marido?
-Procurou-o por toda a casa e foi encontrá-lo, enroscado na despensa de arrumos, a ressonar; pensou que ele se tivesse excedido na bebida e deixou-o dormir, ficando alguns minutos, ao lusco-fusco da candeia, a contemplar-lhe o meio desnudado corpo; depois foi ver o despontar da matutina aurora a desenhar, no horizonte, a silhueta dos montes serranos com raios solares entre os penhascos em direção ao céu, antes de desceram à terra.
Ainda em camisa de dormir, Florinda, espreitou o trabalho da véspera, vendo que, durante a noite, alguém andou a calcar a horta - pegadas bem visíveis ficaram impressas na terra fresca; pareceu-lhe já ter visto aquelas marcas no chão da cozinha e comparou-as com as suas galochas:
- As gravações do rasto eram diferentes e também eram muito mais pequenas, lembrando-se, ir buscar as botas do marido!
Ao pousá-las na moldura da terra, para além de, o desenho do rasto ser o mesmo, assentaram como uma luva; não há dúvida, foi ele que andou por aqui!
Esclarecida, preparava-se para abandonar o local quando reparou que as pegadas estavam debaixo da latada na direção do quintal da vizinha:
-Espera aí! Há mais pegadas e, seguindo-as, destrinçou entre as que vão e as que vêm, percebendo que as de regresso eram mais recentes:
Por isso é que eu acordei sozinha e com a cama fria; não há dúvida, eles são amantes e seguiu o rasto até ao cabanal da eira onde encontrou peças de roupa interior que ela bem conhecia!
No regresso, sentindo o peso da traição e desvantagem dela com a rival, mulher modernizada e aparatosa, murcharam os agapantos no seu íntimo jardim:
-Eu vou matá-lo enquanto ele dorme!
Olhou-o, e quando ia desferir o golpe, teve compaixão; baixou o braço e colocou, a seu lado, as roupas que trouxe do cabanal da eira!
Gervásio acordou tarde e arrelampado. A noite foi longa, mas o descanso foi pouco.
Ao acordar viu a seu lado, na enxerga onde dormiu, o facalhão de matar o porco:
-Que é isto, algum aviso, gritou?!
Como ninguém lhe respondeu, atirou a faca para longe e começou a vestir a roupa interior, impregnada com o cheiro da vizinha.
Ao calçar as botas, só encontrou uma e, ao procurar a outra, encontrou um corpo estendido, ainda quente; a seu lado, a bota que procurava e, um frasco vazio:
- Esfregou os olhos, arrumou a faca e chamou a autoridade da terra, o regedor!
Ao terceiro dia a aldeia vestiu-se de negro par entregar, à terra fria, o corpo de Florinda, uma esposa que, desesperada, fez o mata-bicho com veneno dos escaravelhos!
Enquanto o Luís recebia os companheiros de pesca e Marieta preparava uma açorda de coentros para acompanhar a fritada de peixe, na esperança que o marido partilhasse, os sinos, insistentemente, dobravam e o enfermo perguntou:
-Por quem os sinos dobram?
-Pela Florinda, mulher do teu enfermeiro!
Sem comentário, mas adivinhando o futuro, tirou os comprimidos escondidos debaixo da travesseira e engoliu-os de uma só vez:
- Nunca perguntes por quem os sinos dobram porque eles dobram por todos nós, também por ti, sic.! (fim)