O DESNORTE ESTRATÉGICO DO PS E DO PSD
Portugal passa por uma fase política muito incomum, com um vazio de ideias e uma crescente confusão nas duas maiores forças partidárias do país: o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD). Se outrora, estas estruturas eram bases sólidas de estabilidade e visualização estratégica, agora parecem guiadas por impulsos imediatos, mais atentas à espuma do dia, do que ao futuro do país.
Começo pelo PS. Após anos de governo com António Costa — marcados por uma relativa estabilidade, mas também por escândalos, centralismo e desgaste — o partido entrou numa jornada de deserto ideológico. A troca de líder não veio acompanhada de novas ideias. O PS ainda não sabe se quer ser parte da "geringonça", se deve voltar para o centro para competir, ou se quer reinventar-se como um partido moderno do século XXI. Entre desejos europeus e recuos por estratégia, reina a confusão. O discurso socialista tornou-se defensivo, quase burocrático, e perdeu apelo junto de segmentos chave do eleitorado, entre os quais os jovens e as classes médias descontentes.
O PSD, por outro lado, vive um paradoxo ainda mais evidente. Depois de anos a tentar reposicionar-se politicamente, os sociais-democratas parecem viver numa hesitação constante entre o conservadorismo económico, o social tradicional e uma vontade mal disfarçada, para competir com a extrema-direita no campo da retórica de segurança e identidade. A liderança atual mostra sinais de fragilidade tática, com dificuldade em criar uma agenda própria, sendo muitas vezes levada por polémicas circunstanciais ou pela necessidade de responder a adversários mais ruidosos — como o Chega ou a Iniciativa Liberal.
Os dois partidos estão mergulhados num jogo de curto prazo, onde a tática substitui a estratégia e o comentário mediático, substitui o pensamento estruturado. Os líderes estão mais preocupados com as sondagens semanais e com a gestão de danos nas redes sociais, do que em apresentar um rumo claro para o país. O resultado é um vazio Político que abre espaço para o crescimento de forças populistas, cuja ascensão se alimenta precisamente da inércia e cinismo do sistema tradicional.
Portugal precisa de líderes partidários com visão, coragem e sentido de Estado. Não se espera perfeição, mas coerência. Não se pede se sejam infalíveis, mas que possuam no mínimo um rumo para o país.
Em tempo de numerosas crises — habitação, saúde, clima, demografia — a política não pode só reagir, tem de voltar a construir.
Enquanto PS e PSD continuarem sem bússola, o país continuará à deriva.
Começo pelo PS. Após anos de governo com António Costa — marcados por uma relativa estabilidade, mas também por escândalos, centralismo e desgaste — o partido entrou numa jornada de deserto ideológico. A troca de líder não veio acompanhada de novas ideias. O PS ainda não sabe se quer ser parte da "geringonça", se deve voltar para o centro para competir, ou se quer reinventar-se como um partido moderno do século XXI. Entre desejos europeus e recuos por estratégia, reina a confusão. O discurso socialista tornou-se defensivo, quase burocrático, e perdeu apelo junto de segmentos chave do eleitorado, entre os quais os jovens e as classes médias descontentes.
O PSD, por outro lado, vive um paradoxo ainda mais evidente. Depois de anos a tentar reposicionar-se politicamente, os sociais-democratas parecem viver numa hesitação constante entre o conservadorismo económico, o social tradicional e uma vontade mal disfarçada, para competir com a extrema-direita no campo da retórica de segurança e identidade. A liderança atual mostra sinais de fragilidade tática, com dificuldade em criar uma agenda própria, sendo muitas vezes levada por polémicas circunstanciais ou pela necessidade de responder a adversários mais ruidosos — como o Chega ou a Iniciativa Liberal.
Os dois partidos estão mergulhados num jogo de curto prazo, onde a tática substitui a estratégia e o comentário mediático, substitui o pensamento estruturado. Os líderes estão mais preocupados com as sondagens semanais e com a gestão de danos nas redes sociais, do que em apresentar um rumo claro para o país. O resultado é um vazio Político que abre espaço para o crescimento de forças populistas, cuja ascensão se alimenta precisamente da inércia e cinismo do sistema tradicional.
Portugal precisa de líderes partidários com visão, coragem e sentido de Estado. Não se espera perfeição, mas coerência. Não se pede se sejam infalíveis, mas que possuam no mínimo um rumo para o país.
Em tempo de numerosas crises — habitação, saúde, clima, demografia — a política não pode só reagir, tem de voltar a construir.
Enquanto PS e PSD continuarem sem bússola, o país continuará à deriva.