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OPINIÃO
SNS PARA ALÉM DA FALTA DE MÉDICOS
Não recorro muito, felizmente, aos serviços de saúde e, designadamente, ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), embora com ele já tenha interagido, por razões pessoais ou familiares, por diversas vezes. E, defensor do SNS, continuo a ter dele uma opinião francamente positiva.
Pelo que as televisões nos passam massivamente desde há muito, fica-se com a impressão de que os problemas que enfrenta se resumem à falta de recursos humanos, médicos em particular.
Passe o masoquismo, faz-nos bem às vezes experienciar os meandros da realidade, realidade essa sob fogo intenso, às vezes “combatido” com achas de ingratidão por parte de gente que continua a pensar que o Estado social é um dom universal gratuito, com o que, ainda por cima, muita comunicação social corrobora.
Num destes dias de final de ano, após consulta oftalmológica, fui aconselhado a ir à urgência hospitalar para tratar de um problema de visão que, de acordo com o diagnóstico, estava para além da resposta clínica que ali podia ser dada.
Atento às notícias e aos procedimentos para acesso às urgências, liguei para o SNS24 que, uma boa meia hora e inúmeros “não desligue” depois, após expor minuciosamente a situação, me encaminhou para o Hospital Distrital de Águeda, confirmando de imediato por mensagem.
Já no processo de receção do hospital fiquei a saber que ali não existia urgência oftalmológica, tão pouco em Aveiro. Segui, no entanto, para a triagem: o enfermeiro admira-se do erro, mas, mesmo assim, recebe-me e coloca-me pulseira amarela.
Ao fim de mais de uma hora de espera (havia à minha frente quem já tivesse mais de seis!), caio em mim e pergunto-me o que estou ali a fazer, se não existe especialidade.
Detentor de um seguro de saúde por força da inscrição numa ordem profissional, mesmo assim quis ir em frente e decidi arrancar com um familiar para os H. U. de Coimbra onde fui prontamente recebido, triado, observado e tratado.
Se tivesse permanecido em Águeda, talvez viesse a ser chamado cinco ou seis horas depois e, sem transporte, iria custar ao erário público mais a deslocação de uma ambulância até Coimbra, o destino certo.
E a questão é: porque é que o SNS24 não me encaminhou diretamente para Coimbra? Como não tinha conhecimento da inexistência das valências para onde, erradamente, encaminhou?
Como no meu caso, muitas situações destas existirão, algumas veiculadas pela comunicação social, sobretudo se com fins trágicos.
Este tipo de prática é inconcebível nos tempos que correm, em que o sistema funciona em rede e, tanto quanto a falta de médicos, acaba por minar a credibilidade de um serviço essencial e desonrar a memória do seu saudoso criador.
Há que combater este tipo de entropia, limpar o interior da máquina e lubrificar a logística do sistema para que o atendimento seja mais célere, eficaz e eficiente.
Ninguém fica a perder; ganham todos.
Este podia ser mais um grito de indignação como os muitos – com e sem razão – que se ouvem nas demoradas esperas, mas, crente no poder da pedagogia e da critica construtiva, acreditando nas virtualidades do SNS e considerando o que ele representa para todos os estratos da população, em especial os mais débeis, prefiro outorgar a título de oportunidade de melhoria.
Tenham um ano de 2025 pleno de saúde.
O CONTRA POPULISMO POPULISTA E O ALMIRANTE GOUVEIA E MELO
Em Portugal, luta-se contra o populismo da extrema direita que aborda de forma simplista problemas que são complexos, e abre-se uma nova frente populista de extrema esquerda que ressuscita formas de luta do passado gritando contra o fascismo e empunhando cravos como se fosse possível ressuscitar os amanhãs que cantam.
Os dois lados do extremismo competem ferozmente por um lugar numa manifestação, numa vigília, numa rede social ou num telejornal, num corte de estrada, ou numa ocupação selvagem de instituições, como se o país vivesse em ditadura e não houvesse lugar para o consenso democrático.
Vive-se num clima de confronto, em que se procura todos os dias um alvo, seja o racismo, a xenofobia, a ideologia de género, a misogenia, o aborto, a eutanásia, o ódio aos imigrantes, e outros chamados “temas fraturantes”, que na opinião de alguns são um reflexo do Wokismo americano e, de outros, um alimento da extrema direita que a extrema esquerda tem o exclusivo de combater em nome da bandeira dos direitos humanos.
O extremismo alimenta-se do populismo e o populismo alimenta-se do extremismo (de esquerda ou de direita), dificultando ou mesmo bloqueando a vida ao centro moderado, tolerante e democrático.
É absolutamente espantoso que entre os putativos candidatos presidenciais, apareça no topo de sondagens um almirante (Gouveia e Melo), cujo pensamento politico se desconhece, justamente sobre os tais temas fraturantes, ou sequer sobre o funcionamento do regime democrático constitucional.
Alguém sabe o que pensa Gouveia e Melo sobre racismo, sobre o aborto, sobre a ideologia de género, sobre a economia, sobre segurança, sobre as relações internacionais, sobre a Europa, sobre as guerras, sobre o poder local, sobre a democracia ou sobre o papel de Portugal no Mundo?
Pois bem, mesmo sem se conhecer uma vírgula deste pensamento do Almirante, o contra populismo que é uma nova forma de populismo já elegeu Gouveia e Melo como vencedor antecipado das eleições presidenciais, colocando-o no topo de todas as sondagens.
A explicação terá origem, na opinião de muitos, no cansaço que as pessoas revelam sobre os candidatos ou as políticas do “sistema” que em 50 anoa de democracia apenas terão conseguido transformar o país apenas num centro turístico, sem economia produtiva ou sem níveis de crescimento económico relevantes face à média europeia.
Então, este novo contra populismo que é uma nova forma de populismo sebastiânico ou mesmo caudilhista, proclama que com um militar na presidência da República (ridiculamente comparado a Eanes), teremos um país novo que o Almirante vem pôr na ordem!
Ora, como cidadão que tem o maior respeito pelos militares, até por que fiz 16 meses de serviço militar obrigatório (e que defendo como escola de cidadania e de organização), não consigo aceitar que uma reconhecida boa prestação de um militar a distribuir vacinas contra a COVID 19 seja suficiente para ocupar um lugar politico por excelência como é o cargo de Presidente da República.
Por isso defenderei, na primeira ou na segunda volta, um candidato não populista, da sociedade civil, político experiente, moderado, tolerante, com provas dadas em defesa da ética na Política, com sentido de Estado, com pensamento politico conhecido, um democrata à séria, capaz de construir pontes e consensos, em defesa da constituição e do Estado de Direito democrático, mas também capaz de unir os portugueses em torno de um desígnio que esteja para além da defesa da Ordem e da Disciplina.
UMA REFLEXÃO SOBRE SOBERANIA DO POVO
Há pouco mais de um ano fui convidado a participar no projecto do Augusto Semedo para a Soberania do Povo.
Os jornais vivem tempos difíceis porque a independência e a isenção são facilmente confundidas com oposição, hostilidade para com os poderes estabelecidos, mas também porque há cada vez menos leitores.
Do editorial do Semedo, à data da sua posse como director deste jornal, da sua carta de intenções, importa reter:
“O desafio que se me apresenta é, por isso, um desafio de todos os que possam entender que a Soberania do Povo é vital para a Sociedade Aguedense e a Região - e um Património de Águeda e do País!”
“Um jornalismo que questiona, que promove a reflexão crítica e que, assim, auxilia na busca por respostas inovadoras, é uma ferramenta valiosa para a sociedade que servimos e para os atores que almejam ser seus protagonistas maiores. Este é o compromisso que deve ser assumido diante da história deste periódico e da comunidade que representamos.”
Os editoriais são um farol, uma luz que ilumina e aponta o caminho, uma filosofia de vida, ascética, de ética.
A Soberania tem um conjunto de cronistas veteranos, sobejamente conhecidos e reputados, cuja presença assídua responde aos anseios dos leitores, como são exemplos o senhor Padre Manuel Armando, o Alberto Marques e o Paulo Matos.
Aos poucos vai tomando corpo, ganhando forma a ideia de tentar conquistar outros públicos, mais jovens sobretudo. Hoje há um espaço de opinião preenchido a quatro vozes com diferentes interpretações do mundo em que vivemos.
O Rui Zink mostrou a sua solidariedade desde a primeira hora e emprestou ao Jornal a sua qualidade de professor universitário, escritor, dramaturgo, ensaísta e contista.
A contrapartida da Soberania é proporcionar ao Rui a oportunidade de poder escrever no Semanário mais antigo de Portugal.
Sem pedir contrapartidas, sem exigências, um altruísmo e uma generosidade próprias dos homens de boa vontade.
O Filinto Elísio Martins conta-nos as suas histórias deliciosas ancoradas na sua vida de psicólogo e pedagogo, o Nuno Simões de Melo defende as suas convicções políticas e ideológicas, a professora Iva Pires torna acessíveis ao comum cidadão as ideias de sustentabilidade nos tempos novos.
Uma última palavra, de gratidão, para o Nuno Guerreiro Josué. Acrescentou o Josué desde que assumiu o universalismo. Luta contra o antissemitismo, luta pela justiça e nem sempre é consensual. Escreve-nos desde Nova York.
Dá-nos a excelência de quem esteve na extinta A Capital, O Independente e a Visão. Tradutor da Susan Sontag.
Todos juntos com o objectivo de levar o leitor a pensar e a reflectir mesmo que não esteja de acordo connosco.
Escrever na Soberania do Povo é cada vez mais uma honra para quem o faz, para quem tem o privilégio de partilhar a História com Albano de Mello e tantos ilustres que aqui escreveram.
O Concelho de Águeda e o distrito de Aveiro têm felicidade de poderem contar com a Soberania do Povo no seu espaço. O Jornal tem uma História e é ele próprio História, engrandece a nossa terra. Deixou de existir um intuito persecutório e alargou-se o campo para a opinião. Há voz dos partidos da oposição e do poder, ambos democraticamente eleitos. Há acompanhamento da Assembleia Municipal.
Foi dada a primeira página no 146º aniversário à Digníssima Drª Manuela Eanes e a um conjunto de notáveis do nosso concelho.
A Câmara Municipal de Águeda é a única que pode reclamar para si mesma um prémio vitalício: acolher o Semanário mais antigo do país em actividade, prestes a completar cento e quarenta e seis anos a informar, um marco cultural.
Um jornal forte e plural é um jornal mais independente, mais capaz de ajudar a população. Significa Águeda mais viva, mais competitiva, mais comprometida com a res publica.
ANO NOVO, DESAFIOS RENOVADOS
O ano que agora terminou trouxe à tona muitos dos desafios que enfrentaremos no futuro,
não apenas em Portugal, mas em todo contexto europeu e internacional. Para nós, jovens, essa realidade é particularmente marcante. Crescemos numa sociedade que nos proporcionou ferramentas sociais sem precedentes, mas continuamos a ser vítimas de discursos
que tentam minar essas conquistas – ironicamente, mesmo num mundo onde o acesso à informação nunca foi tão amplo.
Em Portugal, os desafios são notórios. Enfrentamos salários baixos e um poder de compra cada vez menor fatores que levam um número crescente de jovens a emigrar. A isto soma-se uma crise habitacional sem precedentes: arrendar casa tornou-se uma batalha mensal, com rendas que ultrapassam a capacidade de muitos. Enquanto isso, políticas que encorajam o turismo descontrolado e facilitam o crescimento do alojamento local agravam ainda mais a escassez de habitação, retirando imóveis do mercado residencial e perpetuando uma crise que afeta sobretudo as camadas mais jovens.
Paralelamente, somos distraídos desses problemas reais por aquilo que são as chamadas “políticas de sensação”, baseadas em sentimentos sugeridos por quem governa. Em vez de enfrentarmos os desafios estruturais que atingem o país, assistimos a debates públicos usados para estigmatizar e marginalizar imigrantes, apresentando-os como os culpados de uma crise que, na realidade, é resultado de problemas sistémicos. Essa narrativa, além de injusta, radicaliza discretamente a sociedade, incluindo a minha geração. No entanto, como já mencionei em outras ocasiões, esses desafios não são exclusivos de Portugal. No plano internacional, encontramos questões semelhantes. A Hungria, por exemplo, ilustra um cenário alarmante de retrocessos nos direitos humanos e a ascensão de governos com tendências autoritárias reforça a necessidade de vigilância democrática em toda a União Europeia.
Neste início de ano, o que posso desejar é que 2025 seja um período marcado por menos populismos e mais medidas concretas. Precisamos de soluções reais para enfrentar a crise habitacional, recuperar o poder de compra e reforçar o estado social, de modo a devolver às pessoas – sobretudo aos jovens – a esperança e a confiança no futuro e nas instituições.
ENTRE FOGOS DE ARTIFÍCIO E SUPERSTIÇÕES DE ANO NOVO
Enquanto fogos de artifício iluminam os céus e mensagens de “feliz ano novo” se multiplicam nos chats, é inevitável uma reflexão quase melancólica sobre o que foi conquistado ou perdido. O ano de 2024 foi marcado por avanços e retrocessos, tanto no panorama político internacional quanto na esfera local. Dois elementos parecem atravessar estes cenários: a sombra persistente do populismo e o impacto fugaz da era digital.
No plano global, as crises geopolíticas continuaram a desafiar instituições e lideranças. A fragilidade dos mecanismos internacionais de mediação, os conflitos armados e os desafios
climáticos abrem caminho à força do populismo. No terreno fértil das redes sociais, reduzem debates complexos a slogans simplistas, medidas de política pública a promessas ocas e esvaziam a responsabilidade cívica em prol de interesses imediatistas e limitados.
Cas Mudde, um dos meus politólogos de eleição, define o populismo enquanto estilo político frequentemente amador e oportunista, que privilegia a atenção mediática e o apoio popular imediato em detrimento de soluções sustentáveis ou diálogos construtivos. Esse populismo, porém, não pertence exclusivamente a uma ideologia ou partido. Tornou-se uma ferramenta que transcende fronteiras políticas, infiltrando-se em partidos tradicionais que, incapazes de se renovarem, adotam discursos de puro "bota abaixo".
No poder local, onde a política deveria ser mais próxima das pessoas, esta tendência é especialmente preocupante. Se me permitem sugiro a seguinte distinção: uma abordagem populista, que destrói e divide, e uma abordagem popular, que constrói e une. A política humanista — aquela que ouve, atua no terreno e responde às necessidades reais das pessoas — pode ser o antídoto, se é que existirá, mais eficaz contra este chavão do século XXI, o populismo.
Enquanto ouço declarações manifestamente populistas na televisão, penso que mais vale falar de esperança, que neste início de ano é falar dos jovens aguedenses. A juventude que me rodeia, que compartilha opiniões, ideias e vontade de agir, é o sinal claro da renovação que os partidos do sistema precisam. Estes jovens não se acomodam à política do grito fácil, não padecem de velhos hábitos e de inação por natureza e estão dispostos a sensibilizar e alertar os seus pares. Estão preparados, e, embora tenham muito a aprender, também acredito que têm muito a ensinar.
Diretamente para os jovens aguedenses: Somos nós que, com novas perspectivas e energia, podemos resgatar os nossos amigos e conhecidos das teias tentadoras do populismo, oferecendo alternativas autênticas e conectadas com as reais necessidades da sociedade. Tendo voz e espaço, vontade de servir a nossa comunidade, podemos reforçar a política local de autenticidade.
O museu da inocência Para a Cecília e para o Tiago
No ano findo uma colega minha morreu. A Cecília. Com 67 anos. Ainda era nova, podia ter vivido mais uns anos, mas também podia ter vivido menos. 67 não é mau de todo. É mau, mas não mau de todo.
Eu estava a arrumar coisas no gabinete que partilhávamos e descobri trabalhos que ela guardara de alunos de há muitos anos. Reconheci o nome de alguns deles. A um deles, desses alunos que chegavam novinhos em folha à faculdade, perplexos como querubins, eu ia ver por acaso daí a uns dias. É agora um quarentão bem instalado, bem casado, feliz com a sua vida e a sua carreira. É uma alegria que ultimamente não tenho assim tanto, a de ver ex-alunos felizes, prósperos, bem casados e com uma boa carreira, vá lá saber-se porquê.
A Cecília e eu somos do tempo em que guardávamos trabalhos de alunos, e também somos do tempo em que muitos dos nossos alunos gostavam que lhes devolvêssemos os trabalhos. Aqui devo dizer que é algo que sempre encorajei, inclusive contando o meu caso. A minha mãe guardou um poema que lhe dediquei quando eu tinha 10 anos, cheio de rimas em ão e ãe, mas que hoje fazem parte do meu museu interior. O meu museu da inocência, para citar o título de um belo romance do único Nobel turco, Orhan Pamuk.
E isto de guardar o que escrevemos, mesmo que apenas para a escola, funciona até com livros. Lembro-me de um livro que li aos 18 anos e adorei, o ‘Fragmentos de um discurso amoroso’ do Roland Barthes, um livro híbrido, meio ficção, meio crónica, meio enciclopédia, meio autobiografia. Aliás, foi o segundo ensaio que li a dar-me um prazer estranho e comovente.
O primeiro fora ‘Unidade e diversidade em Fernando Pessoa’, de Jacinto do Prado Coelho (o pai do Eduardo), que salvo erro li aos 14. Ainda acho que é o melhor livro sobre Fernando Pessoa alguma vez escrito. Ambos me deliciaram e tornaram claro para mim uma coisa simples: que ler um ensaio luminoso pode dar tanto prazer estético como ler um romance. Mais até do que muitos romances, sobretudo se cheios de clichês e apenas confirmando o óbvio.
Gostei muito dos ‘Fragmentos’ e, como o livro era meu, sublinhei. É o que digo aos alunos. Sublinhem os livros, escrevam nas margens, para isso Deus criou as margens nas páginas. E respondam ao texto. Faço sempre a piadola à pai: “Mas primeiro comprem o livro. Se for vosso, podem fazê-lo.” E ainda hoje guardo o meu exemplar do ‘Fragmentos do discurso amoroso’, esse romance-ensaio, viagem, enciclopédia do amor, escrito por um homem que diz logo na epígrafe: “Eu sou um escritor, mas também sou um professor de literatura, também sou um ensaísta, um linguista, um filósofo, um francês… mas além disso sou alguém que ama e que amou. Pode-se lá viver sem amar, como dizia Júlio Dantas.
E eu tenho lá ‘respostas’ nas margens do meu exemplar, umas ingénuas, outras pertinentes. Às vezes indignei-me: “Não é assim!” Outras concordava. Noutras começava a divagar e a fazer longas notas de rodapé. Comentários sobre um texto que já era ele próprio comentário, um livro que já de si era um comentário, à linguagem e á gramática e aos lugares do amor.
E tento sempre dar esse exemplo aos meus alunos. Infelizmente hoje em dia eles estão a mudar. Não têm memória de si mesmos, não querem ter memória de si mesmos. O ano passado tive uma desfeita, devolvi-lhes trabalhos e testes e eles não quiseram. (Terá havido um com interesse em guardar o que escreveu nas aulas.)
A turma deste ano suspeito que irá pelo mesmo caminho. Ou talvez não, só amanhã saberei. Mas pude dar um belo presente de Natal ao meu ex-aluno já quarentão: o trabalho que, vinte e tal anos antes, ele fez no primeiro ano de faculdade para a Professora Cecília Barreira. E sei que adorou, porque me deu um abraço.
UM ANO PASSADO, UM ANO INICIADO!
Acabou o ano! Portugal e o mundo viveram alterações que nos preocupam, mas que também nos podem fazer acender algumas luzes de esperança.
No mundo assistimos a um rearranjo da ordem internacional, com a potência continental a afrontar sem receio a potência marítima. Vemos isso na guerra que vamos vivendo, seja no teatro de operações da Ucrânia, seja no teatro de operações do Médio Oriente, seja mesmo no teatro de operações de África. De um lado a República Popular da China, Rússia, Irão e seus aliados (países ou grupos terroristas), as ditaduras, do outro o Ocidente alargado, as democracias. Afinal o que fomos vendo nos últimos séculos, mas que nos quisemos esquecer desde a queda do império soviético.
Neste rearranjo assistimos à luta das democracias e da liberdade contra as ditaduras e o totalitarismo. Uma luta onde não podemos tergiversar e onde temos de tomar partido. Nesta guerra tudo vale. Aliás, como sempre valeu. Não podemos esquecer que o objetivo numa guerra é destruir o inimigo ou a sua vontade de combater. Daí ouvirmos diversos “cantos de sereia”; dos pacifismos mais ingénuos, ao wokismo mais feroz, tudo é feito para destruir a nossa vontade de combater.
É isto que nos preocupa! Tudo é feito, de forma intencional por alguns, ignorantemente por outros, para que as democracias e a liberdade sejam derrotadas.
Acendem-se, contudo, luzes de esperança. Numa aplicação da terceira lei de Newton, “a uma ação corresponde uma reação de igual intensidade, mas de sentido contrário” ou, como nas marés, a uma maré vazia opõe-se uma maré cheia, vemos que o ocidente resiste.
O combate ao wokismo tem vindo a conhecer vitórias nos EUA, na Europa e, dentro da Europa, também em Portugal. Apesar de alguns atores políticos estarem seduzidos pelas belas peles de cordeiro que muitos lobos ostentam, o povo anónimo, na sua sabedoria, tem dado a resposta.
Entre a liberdade e a ditadura, temos preferido a liberdade. No Mundo e em Portugal! Cá estaremos no final de 2025 para poder confirmar ou desmentir esta esperança. A todos, votos de um excelente ano, sem medos!
ENERGIA NUCLEAR: A SOLUÇÃO QUE PORTUGAL CONTINUA A IGNORAR
A energia nuclear é um tema complexo e, até, polémico. Por isso sou da opinião que é essencial abordar esta questão de forma pragmática, considerando fatores cruciais como segurança, sustentabilidade e as necessidades energéticas do país. A favor da energia nuclear temos a urgência de reduzir emissões de gases com efeito de estufa, o garantir uma fonte estável de energia a longo prazo e, ainda, assegurar custos acessíveis e previsíveis para consumidores e empresas.
A Comissão Europeia tem insistido na necessidade de reduzir o consumo de recursos e promover a sustentabilidade ambiental. É neste contexto que a energia nuclear emerge como uma opção estratégica: limpa, eficiente e confiável.
A energia nuclear é segura: Um dos melhores argumentos a favor da energia nuclear é o seu reduzido e quase nulo impacto ambiental porque as centrais nucleares não emitem gases poluentes. A experiência europeia, com exemplos como França, Suécia e Finlândia, demonstra que a segurança das centrais nucleares modernas é grande, sendo fruto de décadas de avanços tecnológicos e regulamentos rigorosos.
Diversificação do cabaz energético e redução de custos: Portugal tem realizado investimentos significativos em fontes renováveis, como a energia eólica e solar. No entanto, estas fontes apresentam custos de manutenção elevados e dependem fortemente de fatores climáticos como o vento e o sol, o que compromete a estabilidade do fornecimento energético. Esta é das razões porque a eletricidade em Portugal é das mais caras, sem mencionar os impactos visuais e ambientais, especialmente na desflorestação que estão a provocar para a «plantação» de painéis e de torres eólicas.
Também as "rendas energéticas" e outras políticas associadas ao setor penalizam em muito o preço da eletricidade. Ao integrar a energia nuclear no mix energético nacional, seria possível reduzir a dependência de importações de energia e de combustíveis fósseis, aumentando a competitividade económica das empresas portuguesas.
Esta é um a oportunidade estratégica para Portugal e não podemos continuar a ignorar esta solução, especialmente quando os custos das alternativas se mostram elevados e o impacto no bolso dos consumidores e na competitividade das empresas é colossal!
Chegou o momento de ultrapassarmos preconceitos e medos infundados. A energia nuclear representa uma oportunidade de desenvolvimento sustentável e competitivo, oferecendo uma solução viável e económica para os desafios energéticos que enfrentamos. Portugal só tem a ganhar com a aposta na energia nuclear. Cada dia que passa é um passo atrás no caminho da modernização e do progresso.
PERCEÇÃO ENTRE A REALIDADE E A FICÇÃO
A perceção tem sido amplamente debatida em tempos de polarização política. A manipulação de perceções, em detrimento dos factos, representa um risco significativo, especialmente num Parlamento fragmentado. É crucial distinguir entre perceção e realidade para evitar conflitos e aproximar decisões políticas da verdade.
Imigração e Saúde: Há uma perceção de que a nova lei de bases da saúde resulta de abusos no SNS por imigrantes. Retórica do CHEGA, como "se não há para os nossos, não haverá para ninguém", reforça estigmas. No entanto, em 2023, apenas 0,79% das consultas foram destinadas a estrangeiros não residentes, sendo refutado que isso configure "turismo de saúde".
Segurança: Percepções de insegurança associadas à imigração são comuns, mas Portugal é o 7º país mais seguro do mundo (Global Peace Index). Operações policiais recentes, como no Martim Moniz, apresentaram resultados limitados, apesar de mobilizarem grandes recursos.
Imigração e Criminalidade: Segundo o Barómetro da Fundação Francisco Manuel dos Santos, 67,4% dos portugueses acreditam que imigrantes aumentam a criminalidade. Contudo, a proporção de estrangeiros na população reclusa (12,9%) é semelhante ao peso total de imigrantes (10%). Estudos mostram que municípios com mais imigrantes têm taxas de criminalidade mais baixas.
Segurança Social: A ideia de que imigrantes exploram a Segurança Social é falsa. Em 2023, eles contribuíram com €2.677 milhões e receberam apenas €483 milhões, gerando um saldo positivo superior a €2.200 milhões, com destaque para a comunidade brasileira (29%).
De boas percepções está o inferno cheio.
146.º ANIVERSÁRIO DE SP
Vinte anos se passaram desde que aceitei ser o diretor jornalístico do semanário mais antigo do nosso País; posição que, após alguns meses acumulei com o de presidente do Conselho de Administração.
Não obstante ter ocupado ambos os cargos com o prazer de quem se entrega à causa pública, embora em ambiente privado, esse aturado trabalho criou-me constrangimentos, dentro e fora de SP, obrigando-me a tomar medidas, algumas consideradas radicais, mas sempre em defesa da honra da Soberania.
As preocupações perduram em quem apostou conservar viva a memória de Albano de Melo e restantes fundadores que, com audácia, criaram um semanário repositório da vida de Águeda dos últimos 146 anos!
- Quando assumi tão grande responsabilidade não imaginava ser um “presente envenenado”, muito menos, ter em mãos um Soberania do Povo tão perseguido por todos os lados; já não me admiraria que o fizessem os radicais de esquerda ou de direita, mas nunca os próprios acionistas; alguns a morderem na mão de quem lhe deu as ações. Outros, por rivalidades políticas e, ou familiares, fizeram de SP um alvo a abater, ferindo-a, cruelmente com vista à sua eliminação.
- E, porque o momento é de memória, lembro que ao tomar posse dos cargos acima referidos fui enxovalhado pelo diretor da concorrência que, no seu editorial, referindo-se ao caso, disse: Albano de Melo “primeiro diretor de SP” dá voltas na tumba; é mais um prego no caixão da Soberania!
Lamento que o cronista de tal premonição já não possa ver quanto ela foi errónea, pois SP ainda vive ao contrário do posto de que se serviu para tornar público o insulto; enfim, já não precisa de mais pregos!
As perseguições à Soberania vinham de todo lado e formas; numa estranha contradição; uma certa esquerda acusando-nos de fascistas, a direita de bolchevistas e, até no coração da organização aconteceram, às vezes, tristes casos.
Conscientes da dura missão que nos legaram remamos ao lado dos que, galhardamente, levam por diante este tão prestigiado orgão social, fazendo jus ao lema:
- Somos de todos e não somos de ninguém!
Entreguei a estes jovens os destinos deste relicário, repositório da vida de Águeda, certo de que a sua energia rejuvenesce o projeto que veio à luz do dia a, 01-01-1879 “De populo ad populum”.
Na qualidade de acionista agradeço à dedicada equipa a luta pela preservação deste decano semanário no cumprimento da sua missão que é, todas as semanas, isentamente, informar.
Cumprimento todos os obreiros desta difícil tarefa e uma saudação especial aos assinantes e utilizadores dos serviços, publicidade, privados, empresas e autarquia.
A MEMÓRIA DE ÁGUEDA E A IMPORTÂNCIA DO ESPÓLIO DE SP
Soberania do Povo, com 146 anos de publicação ininterrupta, representa um dos mais antigos jornais em circulação em Portugal. Testemunhando eventos, é um espelho das transformações sociais, políticas e culturais que marcaram a região. Neste contexto, a preservação do seu espólio deve ser uma prioridade.
A coleção de quase 150 anos do Soberania do Povo é um tesouro único que se confunde com a própria história de Águeda. Através das suas páginas, é possível reconstruir a memória coletiva da comunidade, identificar as mudanças na vida quotidiana, entender as aspirações das gerações passadas e valorizar a herança cultural do concelho. A perda ou deterioração deste espólio significaria não apenas um prejuízo para o jornalismo regional, mas também para o património cultural de Águeda e de Portugal.
Para garantir a salvaguarda deste acervo valioso, agentes públicos e privados devem assumir um papel proativo, implementando políticas e ações específicas:
Digitalização do espólio - Criar um projeto de digitalização de toda a coleção do jornal, garantindo que esteja preservada em formato acessível e seguro para futuras gerações. Tornar os arquivos digitais disponíveis ao público por meio de uma plataforma online, promovendo a investigação e o acesso ao património cultural.
Conservação física - Investir em condições adequadas de armazenamento, como controlo de temperatura, humidade e proteção contra pragas, para preservar os exemplares físicos do jornal. O Município tem essas condições.
Apoio financeiro e logístico - Criar-se um fundo para o apoio à preservação do espólio do jornal e disponibilizar recursos humanos e técnicos, como restauradores de documentos e equipamentos especializados.
Valorização cultural e educacional - Agentes públicos e privados, com os recursos materiais e humanos que possuem, devem promover exposições temáticas com base no acervo do jornal, destacando momentos históricos relevantes da região. Integrar o espólio de Soberania do Povo em atividades pedagógicas e culturais (envolvendo escolas, associações e a população na valorização do património), seria um contributo para a valorização da imprensa livre e para a preservação da identidade de Águeda.
É necessário sensibilizar a opinião pública para a importância histórica e identitária do jornal, apelando à colaboração de todos para garantir que este legado seja mantido.
Preservar o espólio de Soberania do Povo é preservar a alma de Águeda. É uma oportunidade de assegurar que as futuras gerações tenham acesso à riqueza da história local, promovendo o orgulho e a consciência cultural. A ação é urgente, pois o tempo, inimigo dos arquivos físicos, não perdoa.
Nota: Em tempo de aniversário, gostaria de manifestar a minha gratidão a todos aqueles que fazem SP acontecer. Com imparcialidade e ética jornalística, pretendemos atuar como um mediador de informações, não como agente de interesses particulares ou de grupo.
A MORTE DE ODAIR E AS AULAS DE CIDADANIA CONTRA O EXTREMISMO E A VIOLÊNCIA
O ensino de cidadania contra o extremismo e a violência nas famílias, nos bairros, nas escolas, nas instituições com prorrogativas de força pública legítima, nunca foi tão necessário para transmitir aos cidadãos do futuro que não há democracia sem Estado de Direito, sem ordem, e sem liberdade.
A democracia, a segurança e a ordem, não são de esquerda nem de direita, são antes uma condição de liberdade. A menos que se defenda o primado da anarquia e do caos!
A cultura woke que “mistura causas justas com devaneios marxistas” nunca esteve tão ativa em Portugal, com importações dos estereótipos das “guerras culturais” dos Estados Unidos da América (EUA), sobretudo nalguns meios de comunicação ou nas redes sociais dominadas pelo “politicamente correto” que diaboliza as forças de segurança, ou cauciona a normalização sociológica dos “bandos”, constituídos por meia dúzia de marginais escondidos por detrás da pobreza material e de espírito, esta sim da responsabilidade coletiva de todos nós como sociedade.
Nas últimas duas semanas, nas televisões, discutiram-se até à exaustão as “causas” dos chamados bairros sociais “problemáticos” das periferias das cidades, e muito pouco se falou da carência de meios das polícias no combate ao crime, e nada ou quase nada sobre a prevenção e a educação para a cidadania nos bairros e nas Policias.
Assisti com muito agrado a uma única entrevista útil dum advogado negro, Leonel Gomes Cá, que lançou um projeto destinado a levar o ensino do Direito a um bairro social. Parabéns Leonel!
Como tudo podia ser diferente se houvesse mais iniciativas destas que se deviam replicar nas esquadras de polícia e nas redações dos jornais.
Tal não invalida o repúdio pelas intervenções musculadas, com violações da proporcionalidade e com os excessos de legítima defesa por parte de alguns polícias, muitos deles formatados nas catedrais do culturismo de ginásio, mas com pouca cultura de respeito pelos direitos humanos fundamentais.
Todavia, não é legítimo olhar para um polícia como um criminoso em potência, como não é legítimo estigmatizar um bairro como um covil de criminosos.
O debate foi extremista, porque dominado pelos extremistas da direita (do CHEGA) e da esquerda (do BLOCO), ambos populistas, ambos dominados pelo preconceito, seja da raça, da bandeira, do ódio, da classe social ou da claque do partido.
Os moderados, que defendem a democracia e o Estado de Direito, assistiram com infinita paciência às narrativas das duas manifestações de sinal contrário que ocorreram em Lisboa, uma pela defesa do cidadão falecido e outra pela defesa da Policia, como num combate de boxe, aos pontos, para no fim gritar pelo ajuntamento que trouxe mais gente.
À parte as narrativas de cada lado, constatou-se que de um lado se esgotaram os stocks de lenços palestinianos para trazer ao pescoço – o que de resto revelou bom gosto estético - e, do doutro lado, os coletes amarelos e azuis, num ajuntamento pífio com palavras de ordem de muito mau gosto ético.
Há um processo judicial com investigações em curso para apurar responsabilidades na morte do cidadão Odair cujo resultado ainda se desconhece. Mas todos sentenciaram palavras de ordem no meio da desordem como se não houvesse amanhã.
Uns e outros, no final do dia, para além da coreografia dos lenços e dos coletes simbólicos, pouco ou nada usaram a razão e, nem uns nem outros, estiveram lá pela defesa da democracia e do estado de direito em primeira linha.
Para além da triste morte do cidadão do Bairro (Odair), que apesar do cadastro é um ser humano com direitos e deveres fundamentais, e, para além do alegado excesso de legítima defesa do cidadão policial que, apesar da farda também é um ser humano com deveres e direitos, ficou a fragilidade da sociedade portuguesa perante o extremismo e a violência.
CARTA A UM EX-ALUNO

Caro Francisco, foi dos poucos alunos a quem dei 20 pelo trabalho final. Era um conto magnífico e acho que você tem um brilhante futuro, apesar de (na minha opinião) ainda não ter encontrado o que quer dizer ao mundo.
Depois, como acontece com tantos ex-alunos, houve quase uma amizade. Você queria um mentor. Um colega mais velho que lhe fosse comentando os escritos e, quem sabe, até apresentasse um livro seu, antes de você arranjar melhor. Não, não o estou a acusar de cinismo. O cínico aqui sou eu. São muitos anos a virar escritores. Sempre a aturar a lengalenga tensão entre modéstia (à superfície) e ambição prestes a explodir. Não tem mal, cada jovem escritor acha-se o máximo. Sobretudo, acha que vai ultrapassar a quem o ajudou nos primórdios. E assim deve ser.
Agora o Francisco ficou perplexo por, a pretexto de uma deselegância insignificante (e, acredito, sem má intenção) eu ter deixado de lhe falar. O que posso dizer? A sua falta de tacto indispôs-me. E o médico recomendou-me que, com a minha idade, começasse a fugir do que me indispõe. Não leve a peito. De vez em quando corto amizades, sobretudo quando a outra parte já não precisa de mim. Com ex-alunos que fazem bela carreira (e são muitos, graças a Deus) geralmente até são eles que se afastam, e fazem bem.
Há uns anos cortei com um amigo italiano, o Gianluca, que conheço há quase trinta anos. Num almoço, ele disse a rir que há muito tempo tinha uma história para me contar, de uma maldade qualquer que me tinham feito sem eu saber e da qual ele fora testemunha. (Parece que eu seria convidado a ir a Itália dar umas palestras e, quando tudo estava pronto, alguém tinha vetado o meu nome. O costume.)
O pobre Gianluca carregara o fardo décadas a fio e agora, ao almoço, queria enfim aliviar-se. A rir, começou a dizer: “Eu não tive culpa nenhuma.” Parei-o aí. Disse-lhe que não queria ouvir. Ele insistiu. Eu repeti. Estivemos nisto até que levantei a voz, coisa que o médico me recomendou nunca mais fazer (nem mesmo com a minha mulher). E, ainda assim, ele tentou contar. O fardo devia ser mesmo pesado, coitado. Acompanhei-o ao metro. Ele não sabia ainda, mas a amizade morrera ali. Não é grave terminar amizades, sobretudo se a outra parte está num bom momento seu. Ultimamente têm-me morrido (à séria) muitos amigos. Faz parte. Ora, se amigos morrem, porque não também as amizades?
Tenha uma boa vida, cheia de sucessos. E também de falhanços, uma vida sem falhanços também não é vida.
Mestre Ludgero: 'traidor' em Casal de Álvaro, 'herói' em Travassô
Dezasseis de Outubro. 1924. Foi há cem anos que aconteceu a cisão na Banda Alvarense.
Num fim de festa em Espinhel, catorze músicos e o regente, maioritariamente de Travassô, abandonaram aquela coletividade, irregular, como todas àquele tempo, para, na sua terra natal realizarem um sonho antigo que era alimentado pelos conselheiros do Juízo de Paz - um orgão monárquico de justiça com sede nesta terra e cujos princípios eram:
- A preservação e resgate dos valores destacados, participação ativa e cívica dos interessados, autonomia da vontade privada, respeito pelo outro e por si próprio, auto, responsabilização por danos causados e a justa reparação, atendendo aos efetivos interesses e necessidades dos intervenientes - Preservar dignidade e segurança nas respostas certas e atempadas para as questões que o caso concreto suscita nas partes intervenientes, com consequências emocionais e materiais, valores imprescindíveis que se ambiciona alcançar, numa sociedade que se pretende mais informada, justa, consciente e exigente (SIC).
Também conhecido por Julgado de Paz, era composto por dignitários das classes sociais -licenciados, religiosos, proprietários e comerciantes.
Para ocupar o cargo, era condição “sine qua non”, supostamente serem, impolutos, terem o registo criminal limpo e professarem fidelidade ao rei!
Nesse tempo, uma parte das Côrtes - o equivalente à atual Assembleia da República – era escolhida por voto popular e a eleição era muitas vezes perturbada por reviralhistas que se disfarçavam entre os ignorados do regime, para destabilizarem o, já doente, sistema reinante com a intenção de fazer de Portugal uma república. Influências de outras latitudes, ensaiadas na revolução francesa e difundidas pela escola, Karl Marx e Friedrich Engels!...

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Memória Mário Wilson: O "baile nas trombas" e os "jogadores do outro mundo"
“É isso... um baile nas trombas! Um baile nas trombas! É isso!”. Jogávamos no campo do Torreense (de Manuel Cajuda), um dos três clubes que viriam a ser promovidos à primeira divisão nacional nessa segunda liga de 1990/91, juntamente com o campeão Paços de Ferreira (de Vítor Oliveira) e o vice-campeão Estoril (de Fernando Santos).

Fazíamos um enorme jogo; e essa era uma das enérgicas expressões que Mário Wilson utilizava durante os treinos, quando uma equipa dava um 'banho de bola' à outra.
Em Torres Vedras, era isso que o Recreio fazia. E Mário Wilson, 61 anos à época, entusiasmava-se no banco, que ficava contíguo ao cordão de ferro do Estádio Manuel Marques onde se apoiavam, para se debruçar em direção ao terreno de jogo, muitos dos espetadores locais.
“É isso o quê, seu velho de m…!!!”. A uns vinte metros, alguns idosos sócios do clube local reagiam rudemente ao vozeiro de Mário Wilson, que entoava como um tenor, e ao 'banho de bola' que a sua equipa inesperadamente levava em campo...

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OPINIÃO | Carlos Abrantes | A Coreia do Norte é fixe
Quando disse aos meus amigos que ia de férias para a Coreia do Norte a reacção não se fez esperar. Para a Coreia do Norte? Tens a certeza que queres ir para a Coreia do Norte? E ficavam a olhar para mim com aquele ar compadecido de quem acha que eu tinha perdido o tino. Com tantos destinos de sol e mar, com Mediterrâneo e Caraíbas, com Brasil e Tailândia eu escolhera a Coreia do Kim Jong-Un, Mr. Rocket Man!
E foi uma óptima escolha.
Aconselho aos ambientalistas do PAN, tão na moda, e aos amantes das grandes causas politicamente correctas, uma estadia naquele paraíso ambiental. Não sofrerão com os engarrafamentos das grandes metrópoles capitalistas porque em Pyongyang, a capital, praticamente não circulam automóveis, nem camiões, nem autocarros. Emissões de carbono zero, ou quase.
Em contrapartida vê-se muita gente a pé, a caminho do trabalho ou de lado nenhum, promovendo um estilo de vida saudável, sem complicações cardiovasculares ou de diabetes. À excepção do “querido líder”, não vi gordos. Uma vitória do povo norte coreano que, desse modo, pode dispensar a existência de serviço nacional de saúde.
Também o regime alimentar muito frugal, pobre em hidratos de carbono, proteínas, gorduras e açúcares, com consumo de carnes vermelhas zero, é um exemplo para o mundo. Daí que seja seguido de perto pela comunidade científica, nomeadamente pela Universidade de Coimbra que, numa atitude pioneira e esclarecida decretou a proibição do consumo de carne de bovino nas cantinas estudantis.
Há, no entanto, um “mas” que perturbará os nossos amigos do PAN. Os Norte coreanos gostam, e consomem, carne de cão. Em ocasiões especiais, é certo, mas comem cão. Sopa de cão, cão guisado, cão frito, mil maneiras de cozinhar cão... Tal como o PAN eles também gostam de animais. Têm uma forma diferente de gostar, mas que gostam, gostam!
E gostam também dos líderes. Não os comem, porque não podem, mas têm um carinho especial pelos líderes. Erguem-lhes estátuas monumentais. Aos três – ao avô, ao pai e ao filho. Uma democracia, nas palavras de Bernardino Soares, transmissível de pais para filhos.
É tudo em grande! São enormes as estátuas, os cemitérios, os edifícios públicos, as bibliotecas, os museus, ou os estádios. E os espectáculos e as manifestações populares de apoio, ou de pesar. E as auto-estradas, ah as auto-estradas! Com três pistas em cada sentido, viajei a partir de Pyongyang para sul até ao paralelo 38 e para norte até Myohyang. Um espanto! Sem portagens nem congestionamentos, sem aselhas nem chico-espertos. Centenas de quilómetros sem um sobressalto ou um acidente. Havia, é certo, o problema do piso esburacado e das lombas, dos peões e das cabras, das bicicletas e dos controles militares, mas fora isso era maravilhoso.
Que sossego, que segurança.
Não admira que me tenha sentido muito seguro. É fácil quando cumprimos as regras, e as regras eram claras. Podíamos circular livremente dentro do hotel. Fora do perímetro do hotel, que estava estrategicamente implantado numa pequena ilha, teríamos de estar SEMPRE acompanhados pelos nossos guias locais.
A Coreia do Norte é fixe, mas nas minhas próximas férias vou para um país democrático. Para desenjoar!
- CARLOS ABRANTES

Quando a governança vira cartel - Parte V
Mostramos, antes de terminar esta rubrica, as 13 baixas de Ministros e Secretários de Estado deste governo da maioria absoluta do Partido Socialista (PS):
1 - Sara Guerreiro, Secretaria de Estado da Igualdade e Migrações – Baixa em 2-5-2022.
2 - Marta Temido, Ministra da Saúde - Baixa em 30-08-2022.
3 - Fátima Fonseca, Secretária de Estado da Saúde - Baixa em 30-8-2022.
4 - António Lacerda Sales, Secretário de Estado Adjunto e da Saúde - Baixa em 30-8-2022.
5 - Miguel Alves, Secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro - Baixa em 10-11-2022.
6 - Rita Marques, Secretária de Estado do Turismo - Baixa em 29-11-2022.
7 - João Neves, Secretário de Estado Adjunto e da Economia - Baixa em 29-11-2022.
8 - Alexandra Reis, Secretária de Estado do Tesouro - Baixa em 27-12-2022.
9 - Marina Gonçalves, Secretária de Estado da Habitação - Baixa em 29-12-2022.
10 - Pedro Nuno Santos, Ministro das Infraestruturas e da Habitação - Baixa em 29-12-2022.
11 - Hugo Santos Mendes, Secretário de Estado das Infraestruturas - Baixa em 29-12-2022.
12 - Rui Martinho, Secretário de Estado da Agricultura - Baixa em 4-1-2023.
13 - Carla Alves, Secretária de Estado da Agricultura - Baixa em 5-1-2023.
Tinha razão o Costa quando pediu a maioria absoluta.
O Marajá de São Bento nem precisa, sequer, de negociar à esquerda ou à direita para se tornar num autêntico rei-sol. O Estado sou eu!
Economia: Tortec inaugurou primeira fábrica no Parque Empresarial do Casarão
A Tortec - Tornearia e Peças Técnicas, do Grupo Ciclo-Fapril, inaugurou, na passada sexta-feira, dia 4 de Dezembro, as suas novas instalações no Parque Empresarial do Casarão e será a primeira empresa a instalar-se no novo polo industrial do município.
Carla Santos, directora financeira da Ciclo-Fapril, começou por relevar o desempenho do presidente do município, Gil Nadais, e do seu executivo, que, “em bom rigor, foram os impulsionadores por termos aqui edificado as instalações da Tortec”.
“Mais do que o projecto Tortec, há que enaltecer o esforço e a determinação do presidente da Câmara em fazer de Águeda uma cidade de indústria, de academia e de turismo”, salientou Carla Santos.
“Muito nos honra estar a viver este momento histórico de viragem na dinâmica industrial de Águeda, pois com toda a certeza o concelho vai reflectir a criação de valor que as empresas aqui instaladas vão gerar”, observou a directora financeira da Ciclo-Fapril.
Carla Santos considerou que o facto da Tortec ter sido a primeira empresa a edificar no Parque Empresarial do Casarão, resultou em “dificuldades acrescidas”, sublinhando, em particular, o desempenho do administrador Samuel Santos e do sócio Vitor Antunes, e de “todos os que nos ajudaram a realizar este projecto”.
“Aos nossos colegas de trabalho, esperamos que o transtorno da mudança (que será concretizada na segunda quinzena deste mês) seja superado pelo conforto que estas instalações vos venham a proporcionar. Sabemos que estão motivados com o nosso projecto de trabalho e contamos convosco para dar alma a este edifício”, sublinhou Carla Santos.

Dia muito especial
para Gil Nadais
O presidente da Câmara Municipal de Águeda, Gil Nadais, referiu-se a “um dia, muito, muito especial”, considerando que o Parque Empresarial do Casarão foi um projecto “muito sofrido, muito laborioso e só possível graças à colaboração de muitas pessoas”, destacando o trabalho “inexcedível” do aguadense António Figueira, e o desempenho “fundamental” do vereador João Clemente.
O autarca lembrou que “foram adquiridos mais de um milhão de metros quadrados de terrenos” e anunciou que “mais empresas pretendem vir para o Parque Empresarial do Casarão”, pelo que será necessário adquirir mais terrenos.
Gil Nadais anunciou que “o LIDL irá começar a construir, em 2016”, o seu entreposto logístico, e que durante o próximo ano estarão concluídas as estruturas da Triangle´s e da Sakthi (primeiro pavilhão), para relevar um projecto que, disse, “me custou, pessoalmente, alguns comentários mais acintosos”.



Jorge Almeida está esperançado em "derrotar" a Socibeiral no Tribunal
O presidente da Câmara Municipal de Águeda, Jorge Almeida, mostrou-se confiante no diferendo judicial que opõe a autarquia à Socibeiral, relativo à construção de uma central de betão e betuminoso no Parque Empresarial do Casarão (PEC).

O líder do município foi confrontado, na passada segunda-feira, em sede de Assembleia Municipal, pelo líder da bancada do Partido Socialista (PS), José Marques Vidal, que pretendeu saber em que ponto se encontra o processo, que corre, há vários meses, no Tribunal Administrativo e Fiscal de Aveiro.
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Pai Natal gigante de Águeda é candidato a maior do mundo
Um Pai Natal com 21 metros de altura e 250 mil lâmpadas LED de baixo consumo (24 volts), instalado no Largo 1º. de Maio, é a grande atracção da época natalícia, em Águeda.
O município pretende alcançar o reconhecimento pela instalação do “Maior Pai Natal do Mundo em LED's”, assente numa estrutura em alumínio, com altura de sete andares, forrada a tapy.
Para validar e confirmar a obtenção do recorde, será necessária a deslocação a Águeda de um juiz do Guinness World Records, no sentido de verificar todas as características da infraestrutura e de deliberar acerca da atribuição do recorde.
Os custos inerentes a esta candidatura, aprovada ontem (abstenção de Paula Cardoso e voto contra de Miguel Oliveira), dia 1, na reunião do executivo, são de aproximadamente 10.000 euros.
O Pai Natal, sentado numa caixa de presente de 9 por 12 metros, pode ser visitado até ao dia 11 de Janeiro, e a sua instalação obrigou a um investimento de 49.200 euros.
No passado sábado, 28 de Novembro, o presidente do município, Gil Nadais, deu luz às estruturas espalhadas pela cidade que assinalam o Natal, num momento acompanhado por centenas de pessoas.






Samuel Vilela no Conselho Nacional de Juventude
Samuel Vilela, presidente da JSD de Águeda, foi nomeado para a direcção do Conselho Nacional de Juventude (CNJ), assumindo a pasta das Relações Internacionais e a representação nacional junto de instâncias europeias e internacionais.
O CNJ é a plataforma representativa das organizações de juventude a nível nacional, abrangendo as mais diversas expressões do associativismo juvenil (culturais, estudantis, partidárias, ambientais, escutistas, sindicalistas e confessionais).
Samuel Vilela, de 26 anos, encontra-se a frequentar um programa de Doutoramento na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e conta já com uma vasta experiência ao nível associativo e político.
Já presidiu ao Núcleo de Estudantes de Relações Internacionais, foi vice-presidente da Associação Académica de Coimbra e membro do Conselho Geral da Universidade de Coimbra.
James Arthur está confirmado no Agitágueda 2015
O Agitágueda deste ano vai ter lugar de 4 a 26 de Julho, estando já confirmados os concertos dos D.A.M.A. (dia 4 de Julho), Paulo Gonzo (11), Selah Sue (17), Jimmy P (24) e James Arthur (26), cuja contratação foi aprovada na reunião camarária de ontem, dia 7 de Abril. O executivo aprovou, também, a contratação dos serviços de vigilância e segurança, com ajuste directo à empresa Protek, e o regulamento de participação nos Talentos Agitágueda.